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E o bastão caiu

postado em 20/08/2013 10:58


O mundial de atletismo, disputado em Moscou, terminou no último domingo. Usain Bolt brilhou, Yelena Isinbayeva nos brindou com seu talento e simpatia, e o Brasil decepcionou. Encerramos a nossa participação em último lugar, sem nenhuma medalha, empatados com a Bolívia. Os nossos saltadores não conseguiram saltar, os arremessadores não arremessaram e os corredores não correram. Provavelmente, o saldo só foi positivo para algum cartola malandro que embolsou um bom dinheiro. Enfim, fomos à Rússia passar vergonha. Na melhor oportunidade de ganhar pelo menos uma medalhinha de prata, as meninas do revezamento 4 x 100 se atrapalharam com o bastão e ele caiu. Ao invés de pódio, alegria e beijinho para os parentes, o que vimos foi choro, raiva e acusações. A atleta Vanda Gomes disse que não houve treinamentos, além de passar fome e dormir mal. Tudo isso numa época em que há dinheiro suficiente à disposição da Confederação Brasileira de Atletismo, a Caixa Econômica Federal patrocina com força e vontade.

Estamos a três anos das Olimpíadas, que serão aqui, no Rio de Janeiro. Desta vez, não precisaremos ir tão longe, passaremos vergonha sem viajar, em casa mesmo. Até 2016, não dá tempo de surgirem novos atletas, de implantar esporte nas escolas, de fomentar a prática esportiva entre a população. Tenho certeza de que não será possível alimentar nem hospedar os atletas que já temos. Em vez de aumentar o número de praticantes de esporte, de atletas e de medalhas, aumentaremos o número de jovens consumindo crack. Teremos que nos contentar com os atletas que temos, coitados, esses aí mesmo. Se ganharmos alguma medalha nas Olimpíadas do Rio será no voleibol e no judô, que têm as confederações mais sérias, ou na força individual de algum atleta que treina fora do Brasil e é patrocinado pelo pai. A verdade é que somos um fracasso gigantesco e estamos sempre adormecidos. Não se admirem se no ano que vem o governo fechar o Maracanã para as reformas necessárias para as Olimpíadas.

A Bolívia, que terminou empatada com o Brasil, não está preocupada com o seu desempenho no mundial de Moscou. É um país pequeno e com problemas maiores para resolver, além de não dispor de recursos. Mas nós somos ricos e numerosos. Nosso povo é forte e inteligente. Quando o brasileiro quer fazer algo bem feito, ele faz. Temos que sair imediatamente desse estado de letargia e parar de viver de desculpas. Fazemos parte dos Brics, mesmo grupo econômico da Rússia, que terminou em primeiro lugar no quadro de medalhas. O Quênia, país sofrido da África, ganhou um caminhão de medalhas. Sei que é preconceito meu, mas não causaria estranheza se um atleta queniano dissesse que come e dorme mal. Isso mostra que eles fazem muito com pouco.

O que nos falta é gestão. Infelizmente, nossos líderes, nossos políticos e nossos intelectuais, os que deveriam nos guiar e dar exemplo, estão aquém das nossas demandas. Nossos políticos têm em comum duas características: são incompetentes e corruptos. Os intelectuais, por sua vez, fingem que sabem o que não sabem, a maioria não leu três livros na vida. Incrível, um dos destaques do Campeonato Brasileiro de futebol deste ano é gordo. Somos o país do despreparo.

Há muito que o bastão do Brasil vem caindo. Cai na educação, na saúde, na segurança, na falta de transporte público e está caindo terrivelmente na economia. Temos que reagir. Não podemos ser o país que aparece naquele comercial de analgésico que diz: Essa é fulana. Parabéns! Mesmo com gripe e febre, ela não se deixou abater. Levantou da cama e foi... para o churrasco.