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TIRO LIVRE

Bem-vindo a 2018!

O último clássico do ano, aparentemente, vale mais pela rivalidade do que pela possibilidade de ascensão na classificação

postado em 20/10/2017 12:00 / atualizado em 20/10/2017 09:34

Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Houve um tempo em que a aproximação do fim do ano era determinada pelo aparecimento das luzes de Natal. Os shoppings lançavam mão de uma decoração toda elaborada para estimular as vendas e colocavam o Papai Noel para descer de helicóptero, declarando oficialmente aberto o período pré-natalino. Inicialmente, isso ocorria no começo de dezembro, pelas minhas lembranças – meio que coincidia com o pontapé das férias escolares. No afã de querer faturar cada vez mais, os centros comerciais foram antecipando essa estratégia. Eis que, a mais de dois meses do 25 dezembro, já há referências ao bom velhinho por toda parte. Neste ano, o futebol também está seguindo esse caminho. Restam nove rodadas, ou 44 dias, para o encerramento do Campeonato Brasileiro, mas muito clube já está com as atenções em 2018. Para essa turma, o ano de 2017, Dia de Finados, Proclamação da República, Natal e réveillon já estão no passado.

Os únicos que ainda estão com os dois pés no Nacional são os times que travam a desesperada luta contra a degola. Com o Corinthians há muito disparado na liderança, parece que até os próprios corintianos ligaram o piloto automático no returno. Como a cada tropeço seu os concorrentes, como que num ato de solidariedade, têm vacilado também, os jogadores do alvinegro paulista estão apenas a aguardar o último apito do último jogo para comemorar a conquista da taça. Não há temor de revertério. Quem vem atrás não demonstra força de chegada. Existe um certo conformismo generalizado no ar.

O mercado da bola, que antes se aquecia em dezembro, está a pleno vapor. Ora se fala em montagem de grupo, ora em contratação de treinador. Não que os dirigentes estejam errados em querer se programar para a próxima temporada, afinal, o tal do planejamento é cantado e decantado como fórmula de sucesso. O problema é pensar demasiadamente no futuro e ignorar solenemente o presente.

É nesse cenário que Cruzeiro e Atlético se enfrentarão no domingo, no Mineirão. O último clássico do ano, aparentemente, vale mais pela rivalidade do que pela possibilidade de ascensão na classificação. Para os celestes, campeões da Copa do Brasil, isso é quase um veredicto. Com a vaga direta na Copa Libertadores garantida, muitos acreditam que tanto faz terminar em segundo, terceiro, quarto, quinto ou sexto colocado do Brasileiro. Será somente uma questão semântica.

Um ou outro torcedor pode até se ligar mais na colocação final da equipe por motivos históricos. Uma ponta maior de orgulho por ver a Raposa bater vice-campeã (dentro daquela lógica de Corinthians campeão que parece ser senso comum entre os boleiros, ainda que de forma inconsciente). Porém, os três pontos do jogo contra o arquirrival servirão apenas de tempero para um troféu que já está na galeria azul, o do penta. O horizonte que a maioria vislumbra é o de 2018, com Mano Menezes à frente de um grupo forte para a disputa do torneio intercontinental. Como se 2017 já tivesse cumprido seu papel, e o que vier daqui pra frente é lucro.

Não deixa de ser compreensível, contudo, melhor seria se o Cruzeiro aproveitasse os últimos confrontos do ano para reafirmar sua força. Que os jogadores que pretendem continuar na Toca mostrassem isso em campo. Que a temporada se encerrasse não só com a taça da Copa do Brasil, mas sobretudo com a perspectiva de que há muito mais por vir.

Já para os atleticanos há muito mais em jogo nesta reta final de Nacional. A rivalidade do clássico deveria servir de trampolim para os objetivos que ainda existem (ou, pelo menos, deveriam existir) pelos lados da Cidade do Galo. São três pontos importantíssimos na conta alvinegra, que está longe de fechar. O débito, convenhamos, está bem maior que o crédito. Portanto, os meses que restam de 2017 não podem ser meras folhinhas a mais no calendário.

Os próximos nove duelos, incluindo o clássico, precisariam ser encarados como a chance de redenção para um claudicante time, que começou o ano em alta, com a expectativa de títulos pelo calibre de seu grupo, e caminha para terminar como uma das grandes decepções em gramados brasileiros.

Garantir vaga na Libertadores – ainda que seja na fase preliminar, o que soa mais factível – deveria ser tratado internamente como obrigação. Se não por uma questão de profissionalismo dos jogadores, por amor-próprio mesmo. Eles são os grandes garotos-propagandas de seu trabalho. Ainda que não esteja nos planos de alguns deles continuar no clube, será atuando bem com a camisa atleticana que eles poderão assegurar um bom contrato para o ano que vem. E são poucos os que têm mostrado futebol para despertar a cobiça de alguém.

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