Mas este “mais velho” da frase anterior em nada incomoda Federer, como ele faz questão de deixar bem claro. E o suíço não poderia estar mais certo. Tanto para Federer como para mim e para você, caro leitor, a idade nada mais é que aquele espaço de tempo entre o dia do nascimento e o momento atual. E como você, eu, Federer e outros atletas estão neste momento tem muito mais a ver com a maneira como se leva a vida do que com o que está escrito na sua carteira de identidade ou sua condição física – e até com aqueles fios de cabelos brancos que teimam em aparecer aqui e ali.
Só que numa sociedade que cultua cada vez mais a forma em detrimento do conteúdo, a idade é um peso, quase um carimbo para atestar quão capacitado você é para desempenhar determinada função. Um limitador imaginário que, na maioria das vezes, está mais na cabeça dos outros do que na da própria pessoa. E aí vira terreno fértil para prejulgamentos/preconceitos. Como se se aproximar dos 40 (dos 50, dos 60, dos 70...) fosse uma sentença prévia de impossibilidades mil.
No esporte, então, esta contagem é ainda mais perversa. Mas eis que surge um Federer para provar o contrário. E não somente ele. Não faltam exemplos de esportistas que levam a condição de atleta realmente a sério, prolongando a vida útil em quadras e gramados. Um deles está na Cidade do Galo. Desde que Ricardo Oliveira chegou ao Atlético, não houve uma entrevista sequer em que ele não tenha sido questionado a respeito da boa forma, “apesar dos 37 anos”. Sim, a conjunção está lá, para demarcar território. E é seguida por expressões subliminarmente preconceituosas, como “joga como um garoto”, ou suspeições a respeito de seu potencial unicamente por causa da idade.
Ora, ora, ora, Ricardo Oliveira joga como um cara de 37 anos que se cuida, que se preocupa com o corpo, seu instrumento de trabalho, e obtém o retorno natural de um jogador com tal consciência profissional. Além disso, conta com uma genética favorável, que o deixa distante de lesões musculares. E numa parcela importante (possivelmente a mais) dessa equação está o talento, o faro de gol. É a combinação desses fatores que faz Ricardo Oliveira mostrar tudo o que tem mostrado e ter quatro gols neste início de ano, sendo três nas últimas três partidas pelo Galo.
O esporte de alto rendimento exige muito de um atleta. Não são poucos os que se cansam da rotina puxada e, a certa altura da vida, decidem partir para outras jornadas. Admiro quem, por gostar do que faz, persiste. E mais do que isso: fazendo seu trabalho bem.
A cada fim de temporada da NFL, Tom Brady, ídolo do New England Patriots, de 40 anos, precisa resistir aos apelos da mulher, Gisele Bündchen, para que se aposente. Considerado o maior quarterback de todos os tempos, ele esteve em oito edições do Super Bowl (ganhou cinco) e há um mês, antes de mais uma decisão da liga, avisou que pretende continuar jogando a bola oval por mais dois anos. Que ninguém duvide de que o quarentão Brady poderá chegar a mais uma final com o Patriots.
Outra amostra está na Itália. Titularíssimo no gol da Juventus, Buffon completou 40 anos no fim de janeiro. Um dos maiores goleiros da história do futebol, defendeu a Seleção Italiana por duas décadas – anunciou a aposentadoria da Azzurra com a queda da equipe nas Eliminatórias para a Copa do Mundo da Rússia. Embora tenha dito que penduraria as luvas em junho, fim da temporada europeia, ele já admite disputar mais uma temporada pela Juve. O futebol agradeceria.
Talvez nenhum deles alcance o japonês Kazu. Prestes a fazer 51 anos (na segunda-feira), é o jogador mais velho em atividade nos gramados. Conhecido no Brasil por atuar em Santos e Palmeiras nos anos 1980, ele está no Yokohama e renovou contrato há poucos dias. Será a 33ª temporada de sua carreira, que inclui passagem pela Seleção Japonesa. “Vou sempre jogar com todo o meu coração e espero continuar crescendo como jogador”, disse, à imprensa de seu país, ao comentar a gana de continuar jogando. Um grande exemplo para os chinelinhos de plantão.