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TIRO LIVRE

Os heróis prováveis

Se tem alguém na Cidade do Galo com crédito de sobra na conta é ele. Se tem alguém insubstituível no time alvinegro, hoje, é ele

postado em 16/03/2018 09:00 / atualizado em 16/03/2018 08:40

BRUNO CANTINI / ATLÉTICO

Todo mundo tem na vida aquela pessoa que é tipo a bola de segurança no vôlei. Quando a coisa aperta, você sabe que é para lá que tem de correr. É ela quem vai lhe ajudar a passar pelos perrengues, quem vai lhe auxiliar na busca de soluções, quem vai lhe passar confiança quando a caminhada parecer complicada demais, muitas vezes até impossível. Pois no time do Atlético este porto seguro está sob as traves desde junho de 2012: ele é o goleiro Victor.

Antes de começar os elogios, no entanto, um choque de realidade. Esta não tem sido, nem de longe, a melhor fase de Victor com a camisa do Galo. Algumas saídas vacilantes do gol já aceleraram um pouco mais do que o habitual as batidas do coração atleticano. Ele tem um atenuante, é bom frisar: a defesa alvinegra como um todo não vem passando muita segurança. Adílson é o único volante com ímpeto de marcação, Patric faz tão somente (e mal) figuração na lateral direita, a zaga formada por Leo Silva e Gabriel não tem mostrado firmeza e, na lateral esquerda, Fábio Santos se desdobra entre cobrir os buracos deixados pelos companheiros e o apoio ao ataque – sendo um dos mais regulares do time, justiça seja feita.

Noves fora toda essa explicação, voltemos a Victor, aquele que foi elevado à condição de santo pelos milagres na vitoriosa campanha atleticana na Copa Libertadores de 2013, mas que, como todo e qualquer mortal, também é falível, também tem seus dias de escolhas erradas. Que atire a primeira pedra quem nunca falhou no trabalho.

O problema é a profissão que Victor escolheu. Como última instância de um time de futebol, ao goleiro não é dado o benefício da dúvida, não é permitido vacilar. Seu percentual de acerto tem de ser de 100%, não há opção: qualquer 1% de desatenção pode atirar por terra não só o esforço de toda a equipe como a estratégia do treinador, as contratações feitas pelo presidente, o sacrifício do torcedor para ir ao estádio... Um peso nos ombros que nem todo jogador suporta. Não é esse, contudo, o caso de Victor.

Mesmo com um ou outro erro, ainda é ele a tábua de salvação (se não a única, a mais efetiva delas) dessa nau sem rumo do Galo’2018. Aquele jogador que passa ao torcedor a esperança de que, por mais desanimador que seja o cenário, é preciso acreditar – até porque em vários momentos da vida o que resta mesmo é lutar e acreditar, por mais difícil que possa parecer.

Mesmo com suas inconstâncias, Victor sempre está lá, batendo no peito e chamando para si a responsabilidade. E principalmente: fazendo bem o seu papel, de goleiro e de milagreiro. Na suada conquista da vaga à quarta fase da Copa do Brasil, num jogo desastroso do Atlético contra o Figueirense, no Independência, na noite de quarta-feira, ele fez as vezes de santo, evocou as energias ‘riasquianas’ que o consagraram na América e fechou o gol nas cobranças de pênaltis dos catarinenses. Num duelo tanto técnico quanto emocional, Victor se agigantou, transformando-se numa barreira quase intransponível.

Partidas com tamanha carga dramática exigem sangue frio dos protagonistas. Aquela, em especial, teve componentes extracampo que não devem ser desprezados, com a trágica morte do ex-diretor do Galo Bebeto de Freitas dentro do CT, pouco mais de 24 horas antes de a bola rolar. Isso pode ter contribuído para o desacerto quase geral, porém não serve para esconder as limitações do grupo atleticano. Elas não foram vistas apenas nessa partida em questão, já há algum tempo estão evidentes para quem quiser enxergar, inclusive os cartolas alvinegros, que não as admitem publicamente.

No caso de Victor, tal contexto não diminui em nada a importância dele para o time. São em momentos assim que conseguimos distinguir quem veio a este plano para marcar seu nome e quem veio tão somente a passeio. Herói provável de muitos momentos alvinegros, Victor viveu mais uma noite marcante, das muitas que coleciona desde os tempos de Grêmio.

Se tem alguém na Cidade do Galo com crédito de sobra na conta é ele. Se tem alguém insubstituível no time alvinegro, hoje, é ele. Apesar de qualquer pesar. Os problemas dos dirigentes atleticanos estão todos na linha e no banco. No gol, por enquanto, está a solução.

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