None

COLUNA TIRO LIVRE

Cabeça, a chave do clássico

A explicação é mais mental do que técnica, tática ou física. Os dois times chegam ao duelo em condições emocionais completamente opostas

postado em 18/05/2018 09:53

Ramon Lisboa/EM/D.A Press

Há muito tempo que um clássico entre Atlético e Cruzeiro não está tão atrelado ao componente psicológico quanto o que os arquirrivais disputarão amanhã, no Independência, pelo Campeonato Brasileiro. A questão, desta vez, extrapola a mera rivalidade. Vai além dos ingredientes que naturalmente mexem com os jogadores em um dérbi. Mais do que nunca, é grande a chance de o resultado no Horto ser definido pela cabeça dos atletas – e isso nada tem a ver com a habilidade de alvinegros e celestes no jogo aéreo.

A explicação é mais mental do que técnica, tática ou física. Os dois times chegam ao duelo em condições emocionais completamente opostas. De um lado, um Galo combalido, depois de duas eliminações consecutivas, em descrédito com a Massa e agarrando-se com todas as suas forças ao Brasileiro – afinal, é a competição que lhe resta em 2018. De outro, uma Raposa em lua de mel com a China Azul, vivendo seguramente seu melhor momento técnico nesta temporada, mas com a cabeça na Copa Libertadores – e, por isso, com grande chance de entrar em campo com equipe mista.

Tanto quanto a estratégia que os treinadores traçarão para seus times, será a maneira como eles vão trabalhar a mente dos atletas que ditará o ritmo da partida. E isso é um desafio para quem está precisando se reerguer emocionalmente, mas também para quem precisa se concentrar no clássico, deixando temporariamente de lado a Libertadores, pelo menos durante os 90 e poucos minutos do confronto no Horto. No fim das contas, a questão é de foco, não importa a cor da camisa.

O comandante alvinegro, Thiago Larghi, sabe que a partir de agora todo e qualquer jogo terá caráter decisivo. Essa pressão lhe foi imposta pelas desclassificações recentes, porém, principalmente, pela declaração do presidente do clube, Sérgio Sette Câmara, após a queda na Copa Sul-Americana. Na ocasião, ele garantiu que na parada após a 12ª rodada do Nacional, por causa da Copa do Mundo da Rússia, o Atlético estará entre os três primeiros colocados.

Se tudo estivesse funcionando em total sintonia, a possibilidade seria grande, levando-se em consideração a sequência à qual o dirigente se referiu. Depois do Cruzeiro, o Galo recebe o Flamengo, visita o Sport e então faz quatro jogos consecutivos no Independência: contra Chapecoense, América (com mando do Coelho), Fluminense e Ceará. Não é missão impossível. Teoricamente. O problema é quando se passa para a prática.

Contra adversários de nível semelhante, o alvinegro não vence há quatro jogos. São empates seguidos contra a própria Chapecoense (e no Horto), São Paulo (em partida no Morumbi, em que vencia por 2 a 1 até os 36min do segundo tempo), San Lorenzo (novamente em casa, na saída da Sul-Americana) e Chapecoense – quarta-feira, na Arena Condá, cuja derrota nos pênaltis significou a eliminação na Copa do Brasil. Em três desses jogos, não conseguiu sequer balanças as redes.

Já o Cruzeiro, de Mano Menezes, vem na rota oposta. São seis partidas consecutivas sem derrota, com cinco vitórias e um empate. Nada menos que 16 gols marcados (estatística impulsionada pela estrondosa goleada por 7 a 0 sobre o Universidad de Chile, no Mineirão, pela Libertadores) e somente um sofrido – justamente o do Atlético-PR, no triunfo de virada (2 a 1) na Arena da Baixada, na noite de quarta-feira, pela Copa do Brasil.

Nos últimos quatro jogos, a Raposa ganhou todos. Reconhecidamente, chega embalada para o clássico. Ainda que não mande a campo força total, Mano tem importantes cartas na manga. O atacante Raniel, por exemplo, já mostrou seu poder de fogo no primeiro duelo do ano com o Atlético, quando marcou o gol da vitória cruzeirense por 1 a 0. Ele é um dos reservas que deverão ser escalados amanhã.

Ao treinador celeste, portanto, caberá fazer os suplentes reagirem bem a todas as circunstâncias do clássico e se concentrarem tão somente no Atlético. Fazê-los atribuir ao jogo de amanhã a importância devida, ainda que o Cruzeiro esteja apostando todas as suas fichas na Libertadores. Como no caso do alvinegro, em tese parece tudo muito fácil. Mas as armadilhas aparecem apenas depois que o árbitro apita o início do jogo. E acreditar em favas contadas pode ser um pecado sem perdão.

Tags: atleticomg cruzeiroec