None

TIRO LIVRE

Uma viagem ao passado

O time de Cuca deveria ser mais do que mera recordação ou apenas uma foto na parede na Cidade do Galo

postado em 10/08/2018 10:00 / atualizado em 10/08/2018 09:15

RODRIGO CLEMENTE / EM DA PRESS

A manhã de domingo reserva para o atleticano que for ao Independência um reencontro com o passado. É certo que passará um filme na cabeça de quem estiver no Horto e, lá pelas 10h30, presenciar Cuca pisando mais uma vez naquele gramado, vestindo de novo um uniforme alvinegro. Desta vez, o escudo que ele leva no peito é o do Santos, mas não foram poucas as histórias que o treinador escreveu ali como comandante do Galo. E muitas delas virão à mente de quem as testemunhou, como numa viagem no tempo.

Um tempo em que a torcida alvinegra ia para o Independência com a certeza de que veria uma equipe guerreira. Que lutava incansavelmente pela bola. Que tinha um estilo de jogo (que alguns até hoje criticam por ser ligação direta, etc. e tal) e jogadores de alto calibre. E que, por causa de tudo isso, entrava em campo sempre com grande chance de vencer. Adversário nenhum assustava porque o torcedor sabia que aquele time ia, pelo menos, correr desenfreadamente nos 90 minutos regulares e todos os outros que o árbitro acrescentasse. O Horto virava um caldeirão. Havia simbiose.

O espírito, de modo geral, era outro. Competição nenhuma era menosprezada, nem pelos jogadores, nem pelos dirigentes. O time de Cuca tinha ambição. Tinha coração. Tinha metas a alcançar e as perseguia. Valia o ingresso. Não era imbatível (longe disso), mas foi, nos últimos tempos – ao lado do grupo campeão da Copa do Brasil de 2014 com Levir Culpi –, o Atlético que mais se aproximou da imagem construída ao longo dos anos sobre o que é ser Atlético.

O time de Cuca deveria ser mais do que mera recordação ou apenas uma foto na parede na Cidade do Galo. Deveria ser um exemplo para quem está no clube – e muitos, inclusive, fizeram parte daquela história. Melhor do que aprender com lições alheias é se mirar no próprio sucesso e tirar aprendizado dele.

Não é o caso de fazer comparações entre passado e presente, até porque as circunstâncias são diferentes, os personagens são outros. A questão aqui é compreender o que deu certo naquela ocasião e o que não está dando certo agora. Ou alguém no clube realmente acha que está tudo bem? Que o caminho é este mesmo? Que as escolhas são as melhores? Uma autoanálise se faz muito necessária enquanto ainda há tempo, e ainda há o que fazer para corrigir a rota.

Será a quinta vez que o Atlético vai se encontrar com Cuca desde que eles seguiram caminhos diferentes, em dezembro de 2013, quando, em meio ao Mundial de Clubes, o treinador decidiu que trocaria o alvinegro pelo Shandong Luneng, da China. Em todas as outras, Cuca estava no Palmeiras e, tirando o triunfo do Galo logo no primeiro confronto (1 a 0 no Allianz Parque, gol de Leandro Donizete), pelo turno do Campeonato Brasileiro de 2016, as demais terminaram empatadas. No returno da competição daquele ano, na primeira volta dele ao Horto, 1 a 1. No turno do Brasileiro do ano passado, na capital paulista, 0 a 0. E no returno de 2017, novamente no Independência, 1 a 1.

Nesse período, mesmo quando esteve empregado, mas principalmente nas épocas de “desempregado”, Cuca foi uma espécie de fantasma a rondar qualquer um que estivesse à frente do time atleticano. Toda sequência ruim de resultados levava para aquela que parecia ser a saída mais rápida, eficiente e carregada da maior esperança de dias melhores no clube. Não foram poucas as vezes em que extraoficialmente o nome dele foi cogitado no Galo nesses quase cinco anos.

A volta (ainda) não se concretizou. Talvez nunca se concretize. Há quem acredite até ser melhor assim, para não tirar a magia da associação entre o nome de Cuca e o Atlético. Para não correr o risco de quebrar aquele encanto – mais ou menos como ocorreu com Luiz Felipe Scolari, que foi do paizão do pentacampeonato mundial, em 2002, a um dos protagonistas do maior vexame da história na Seleção Brasileira, em 2014. Do jeito que é notadamente supersticioso, possivelmente até Cuca dê razão a quem pense assim.

Tags: atleticomg