Um tempo em que a torcida alvinegra ia para o Independência com a certeza de que veria uma equipe guerreira. Que lutava incansavelmente pela bola. Que tinha um estilo de jogo (que alguns até hoje criticam por ser ligação direta, etc. e tal) e jogadores de alto calibre. E que, por causa de tudo isso, entrava em campo sempre com grande chance de vencer. Adversário nenhum assustava porque o torcedor sabia que aquele time ia, pelo menos, correr desenfreadamente nos 90 minutos regulares e todos os outros que o árbitro acrescentasse. O Horto virava um caldeirão. Havia simbiose.
O espírito, de modo geral, era outro. Competição nenhuma era menosprezada, nem pelos jogadores, nem pelos dirigentes. O time de Cuca tinha ambição. Tinha coração. Tinha metas a alcançar e as perseguia. Valia o ingresso. Não era imbatível (longe disso), mas foi, nos últimos tempos – ao lado do grupo campeão da Copa do Brasil de 2014 com Levir Culpi –, o Atlético que mais se aproximou da imagem construída ao longo dos anos sobre o que é ser Atlético.
O time de Cuca deveria ser mais do que mera recordação ou apenas uma foto na parede na Cidade do Galo. Deveria ser um exemplo para quem está no clube – e muitos, inclusive, fizeram parte daquela história. Melhor do que aprender com lições alheias é se mirar no próprio sucesso e tirar aprendizado dele.
Não é o caso de fazer comparações entre passado e presente, até porque as circunstâncias são diferentes, os personagens são outros. A questão aqui é compreender o que deu certo naquela ocasião e o que não está dando certo agora. Ou alguém no clube realmente acha que está tudo bem? Que o caminho é este mesmo? Que as escolhas são as melhores? Uma autoanálise se faz muito necessária enquanto ainda há tempo, e ainda há o que fazer para corrigir a rota.
Será a quinta vez que o Atlético vai se encontrar com Cuca desde que eles seguiram caminhos diferentes, em dezembro de 2013, quando, em meio ao Mundial de Clubes, o treinador decidiu que trocaria o alvinegro pelo Shandong Luneng, da China. Em todas as outras, Cuca estava no Palmeiras e, tirando o triunfo do Galo logo no primeiro confronto (1 a 0 no Allianz Parque, gol de Leandro Donizete), pelo turno do Campeonato Brasileiro de 2016, as demais terminaram empatadas. No returno da competição daquele ano, na primeira volta dele ao Horto, 1 a 1. No turno do Brasileiro do ano passado, na capital paulista, 0 a 0. E no returno de 2017, novamente no Independência, 1 a 1.
Nesse período, mesmo quando esteve empregado, mas principalmente nas épocas de “desempregado”, Cuca foi uma espécie de fantasma a rondar qualquer um que estivesse à frente do time atleticano. Toda sequência ruim de resultados levava para aquela que parecia ser a saída mais rápida, eficiente e carregada da maior esperança de dias melhores no clube. Não foram poucas as vezes em que extraoficialmente o nome dele foi cogitado no Galo nesses quase cinco anos.
A volta (ainda) não se concretizou. Talvez nunca se concretize. Há quem acredite até ser melhor assim, para não tirar a magia da associação entre o nome de Cuca e o Atlético. Para não correr o risco de quebrar aquele encanto – mais ou menos como ocorreu com Luiz Felipe Scolari, que foi do paizão do pentacampeonato mundial, em 2002, a um dos protagonistas do maior vexame da história na Seleção Brasileira, em 2014. Do jeito que é notadamente supersticioso, possivelmente até Cuca dê razão a quem pense assim.