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TIRO LIVRE

Lacuna a unir craques

Dirceu Lopes, Alex, Renato Gaúcho e Fábio estão naquela seara de jogadores que mereciam mais capítulos de sua história escritos com a camisa amarela

postado em 17/08/2018 10:06

Juarez Rodrigues/EM/D.A Press
O futebol às vezes cruza caminhos que rompem os limites do tempo. Veja o caso dos armadores Dirceu Lopes e Alex, do atacante Renato Gaúcho e do goleiro Fábio (foto). O que eles têm em comum além da carreira vitoriosa nos gramados e do fato de serem ídolos da torcida do Cruzeiro? Uma lacuna grande (e dolorosa) chamada Seleção Brasileira. Cada um com seu roteiro particular, eles estão naquela seara de jogadores que mereciam mais capítulos de sua história escritos com a camisa amarela.

Não que disso dependesse a confirmação de quão craques eles são. A trajetória de cada um fala por si. Nem tampouco diminui a grandiosidade de cada um deles na biografia do futebol. Não apaga os feitos alcançados, as jornadas épicas, os lances geniais, os golaços marcados e, no caso de Fábio, as defesas espetaculares. Mas sempre haverá aquelas reticências a encerrar uma frase, a sensação de incompletude ou, pelo menos, a impressão de que a jornada poderia ter sido mais plena. É como se faltasse um carimbo, um selo de qualidade para atestar o que todo mundo sabe – e que caberia ao comandante da Seleção da vez confirmar.

Dono do gol celeste desde 2005, quando retornou à Toca da Raposa depois de passagem pelo Vasco, Fábio teve seu nome pedido na Seleção Brasileira por diversas vezes ao longo da última década. Até foi atendido em um ou outro amistoso (o último justamente com Mano Menezes, em 2011, contra Gana), mas nunca sequer entrou em campo. Nunca teve chance de fato no gol do Brasil. Parecia que os clamores pela presença dele na equipe nacional não ganhavam força suficiente para ultrapassar as montanhas de Minas.

De tanto ser questionado do fato de ser preterido pelos treinadores e sem ter mais explicações para a constante preferência por goleiros do eixo Rio-São Paulo ou do Sul, o arqueiro celeste acabou jogando a toalha. Tirou a Seleção Brasileira do seu foco, considerou o assunto encerrado. Ponto final. Não mais nadou contra a correnteza. Concentrou todas as suas forças no Cruzeiro. E aí quem mais ganhou foi a própria Raposa.

Não é por acaso que Fábio chega ao alto de seus 37 anos (quase 38, que serão completados no fim de setembro) em grande fase. Quando muitos jogadores estão em contagem regressiva para se despedir dos gramados, ele está lá, sendo decisivo para o time celeste. Literalmente, fechando o gol. E ainda fazendo história. Quebrando recordes.

Os três pênaltis que pegou contra o Santos, na noite de quarta-feira, no Mineirão, pela Copa do Brasil, ecoaram como um último grito de protesto. Brasil afora, colegas de imprensa questionaram o motivo de Fábio não ter tido vida ativa na Seleção. Mas agora que vocês notaram isso?

Muitos até cogitaram a possibilidade de Tite “consertar” a situação, incluindo Fábio na convocação que fará nesta sexta-feira, no Rio, para os amistosos contra Estados Unidos e El Salvador, em setembro. Ledo engano. Tite chamar Fábio nesta manhã em nada corrigiria o erro de seus antecessores. Muito pelo contrário. Seria muito mais uma atitude política, diplomática até, do que uma decisão motivada por coerência. Isso porque o treinador da Seleção Brasileira dará, hoje, o pontapé para uma fase de renovação no grupo, visando à Copa do Catar. Essa será a tônica de seu trabalho daqui pra frente. E Fábio não se encaixa nesse perfil – estará com 42 anos em 2022.

Além disso, friamente falando, atualmente Fábio é mais útil ao Cruzeiro do que à Seleção. O time precisa dele na sequência que virá, nas fases decisivas de Copa Libertadores e Copa do Brasil. São as defesas do goleiro que estão ajudando a sedimentar a caminhada, e por mais que Rafael já tenha provado seu valor nas vezes em que foi acionado Fábio tem outro peso, muito maior, neste momento.

Vestir a camisa amarela a esta altura do campeonato, para amistosos, em nada acrescentaria ao arqueiro celeste. Mera vaidade, que Fábio já declarou não fazer questão. E não deveria mesmo. O que deve envaidecê-lo é a possibilidade de acrescentar mais títulos de expressão em seu currículo. A velha e boa sensação de dever cumprido, com a qual ele já deixou os campos várias vezes no curso de sua vida profissional com a camisa azul. Essa é a cor que importa para Fábio agora.

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