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TIRO LIVRE

Sem medo do monstro. Por enquanto

Depois de quatro rodadas consecutivas em oitavo, um mês sem vencer e seis jogos de jejum, o Cruzeiro subiu para o sétimo lugar

postado em 24/08/2018 09:11

Bruno Haddad/Cruzeiro

Você já deve ter ouvido por aí a expressão “cair para cima”. Num sentido figurado, é quando o sujeito desafia a lei da gravidade e, numa situação completamente adversa, em que tudo tinha chance de dar errado, ele acaba se saindo bem. Muitas vezes, fruto de competência, mas sempre com uma boa dose de sorte. Transferindo a cena para o futebol, é mais ou menos o que está ocorrendo com o Cruzeiro. Não se pode negar que a fase está favorável, e até a sequência de seis jogos sem vitória no Campeonato Brasileiro ajuda a ilustrar isso. Não acredita? De fato, pode parecer estranho, mas leia as próximas linhas para compreender.

Há um mês (e dois dias, para ser bem exata) que a Raposa não sai de campo, pela competição nacional, com vitória. A última vez que a torcida celeste festejou foi em 22 de julho, com os 2 a 1 sobre o Atlético-PR, no Mineirão – naquele dia, o argentino Barcos fez seu primeiro gol com a camisa azul. De lá para cá, o Cruzeiro perdeu para o Corinthians, no Itaquerão; foi derrotado pelo São Paulo, no Gigante da Pampulha; empatou com o Vitória, no Barradão; voltou a perder, desta vez para o Flamengo, no Maracanã; empatou com outro baiano, o Bahia, em BH; e, na noite de quarta-feira ficou no 1 a 1 com Grêmio, em Porto Alegre.

É a pior sequência da equipe desde 2012, quando amargou sete partidas sem vencer no Brasileiro, entre a 22ª e a 28ª rodada, sendo cinco derrotas e dois empates. Na época, o time era comandado por Celso Roth e, dos jogadores atuais, contava com o goleiro Fábio e o zagueiro Leo. A pior série em Brasileiros foi registrada em 2011: 11 partidas.

Pois bem. Dos 18 pontos que disputou, o time de Mano Menezes fez somente três. Aproveitamento de 16,6%. Em campeonato de pontos corridos, tamanha seca não costuma passar impune. Em tese, era para a equipe celeste estar em situação bem ruim na classificação. Despencando a cada rodada, sendo ultrapassada pelos concorrentes, aquele cenário preocupante. Mas a realidade não é tão cruel assim.

Em sua última vitória, a Raposa estava em terceiro lugar. Na rodada seguinte, caiu para sexto. Na outra, para a oitava colocação, e lá permaneceu até o fim do turno. Eis que na abertura do returno, aquele empate de roteiro heroico com o Grêmio, Fábio defendendo pênalti aos 38min do segundo tempo, o Cruzeiro, em vez de perder mais posições, ganhou uma! Depois de quatro rodadas consecutivas em oitavo, um mês sem vencer e seis jogos de jejum, a equipe subiu para o sétimo lugar. É ou não é cair para cima?

Quando não fez sua parte em campo (até por ter mandado, em alguns desses confrontos, time misto, por priorizar a Copa do Brasil e a Copa Libertadores), o Cruzeiro contou com uma mãozinha do destino, que brecou os adversários que estão em seu encalço. Por causa disso, o efeito do jejum não foi tão devastador.

Somente duas equipes das outras 19 que disputam o Brasileiro amargam sequência igual ou pior que a celeste – e com elas os deuses do futebol não têm sido tão bonzinhos. O Paraná também está há seis partidas sem triunfo, e cada vez mais se afunda na lanterna. Está a cinco pontos do... Sport, o primeiro fora da zona de rebaixamento e que não vence há 10 partidas. O Leão da Ilha caminha firmemente para se igualar ao Ceará, que passou as 12 primeiras rodadas do Nacional sem ganhar.

Ao fim do jogo contra o Grêmio, Fábio pediu uma dose de compreensão ao torcedor. Disse que não se deve criar um “monstro” por causa da série de tropeços. E completou que confia na decisão do treinador de preservar titulares.

Friamente analisando, em alguns desses confrontos o resultado não chegou a ser anormal. Tirando os empates com os baianos e os pontos que a Raposa não deveria ter deixado escapar no Mineirão, perder para o Corinthians no Itaquerão ou empatar com o Grêmio no Rio Grande do Sul não deveria fazer torcedor nenhum arrancar os cabelos. O que pesa é a sequência. Pode não ser um monstro, como citou Fábio, porém, não deixa de ser um bichinho peçonhento a incomodar.

O antídoto são as boas campanhas na Copa do Brasil e na Libertadores. Elas são a salvaguarda de Mano e dos jogadores. Enquanto continuar na briga pelos dois títulos nos torneios mata-mata, não passar vexame no Brasileiro e os concorrentes contribuírem, o Cruzeiro terá seus tropeços no Nacional atenuados. O jejum não vai pesar. Se a manteiga continuar caindo para cima, está tudo bem. Só não pode vir um revertério. Aí o monstrinho vai começar a assustar.

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