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TIRO LIVRE

A primeira novela de 2019

O primeiro episódio deste ano é ao estilo triângulo amoroso e tem como protagonistas De Arrascaeta, Cruzeiro e Flamengo - com participação especial de Dedé

postado em 04/01/2019 10:31 / atualizado em 04/01/2019 16:50

Leandro Couri/EM/D.A Press
Início de ano sempre reserva um imbróglio futebolístico maroto, envolvendo clubes e jogadores, para movimentar o noticiário e deixar torcedores com o coração na mão, ansiosos pelo desfecho. São aquelas negociações intermináveis, que de tanto disse-me-disse, tanto vaivém, viram novela. O primeiro episódio deste ano é ao estilo triângulo amoroso e tem como protagonistas De Arrascaeta (foto), Cruzeiro e Flamengo – com participação especial de Dedé. Trama que está mexendo com os nervos até dos dirigentes celestes.

Tudo começou quando o clube rubro-negro ofereceu R$ 30 milhões pelo defensor, notadamente o melhor jogador da posição em atividade no Brasil. Nos bastidores, comentou-se que o grupo que investiu na ida de Dedé para a Toca da Raposa estava pressionando o Cruzeiro a aceitar a proposta para recuperar parte do que desembolsou. Assegurado pelo contrato que tem com o zagueiro até o fim de 2021, e na polpuda multa de R$ 330 milhões pelo rompimento do vínculo, os cartolas celestes batem o pé, reafirmando que Dedé é inegociável.

Mas eles mal se recuperaram do primeiro estresse, veio o segundo, tipo aqueles caldos no mar – quando o camarada está se levantando da queda provocada por uma onda vem outra e lhe deixa submerso novamente. Assunto Dedé (aparentemente) encerrado, o Flamengo volta à carga, desta vez por De Arrascaeta. O ataque rubro-negro parecia inoperante, já que o uruguaio desembarcou em Confins garantindo que se apresentaria ao Cruzeiro. Pois ficou só no discurso, uma vez que ele não cumpriu o prometido e não apareceu, supostamente por orientação de seu empresário, Daniel Fonseca. E aí a compulsão flamenguista por jogadores cruzeirenses virou novela.

Nitidamente nervoso na primeira entrevista coletiva de 2019, o vice-presidente de futebol da Raposa, Itair Machado, revelou que De Arrascaeta foi multado pela indisciplina. E assegurou que não vai liberar o armador para o Flamengo. Como com Dedé, o Cruzeiro se apega ao contrato em vigor, que vai até o fim de 2021, e à multa que giraria em torno de R$ 120 milhões, impraticável para padrões brasileiros.

Num enredo paralelo, e que não causou tanto alvoroço na torcida e nos cartolas azuis, o Grêmio tentou, de todo jeito, tirar Thiago Neves da Toca. Seria um pedido pessoal do técnico Renato Gaúcho. Mas pelo menos o caso de TN30 o Cruzeiro já deu por encerrado, renovando o vínculo do armador e, consequentemente, aumentando os vencimentos dele, para convencê-lo a ficar.

A moral que fica desse script todo é que manter um time bom é tão complicado quanto formar um. E quem trabalha com futebol, sobretudo nos bastidores, precisa ter tato e nervos para lidar com todo tipo de situação. Neste período de formação de grupos, quando o mercado está em ebulição, é preciso inteligência. Especialmente quando se tem menos bala na agulha para confrontar clubes com maior poder financeiro de fogo. Não adianta espernear.

Que Dedé e De Arrascaeta seriam cobiçados depois da temporada que fizeram em 2018, isso era esperado. Natural que chamassem a atenção, especialmente por atuarem em posições que são consideradas chaves em qualquer time e que não têm tanto bom jogador dando sopa por aí. Administrar o assédio de concorrentes em cima de seus astros não deveria mexer tanto com Itair, nem com nenhum dirigente. Faz parte do jogo.

O grande desafio da diretoria cruzeirense será conciliar a vontade que tem de manter o jogador e a vontade do jogador em ficar. Ainda mais em tempos de atletas fatiados entre empresários, é difícil dar certeza a respeito do que vai ocorrer. E, nessa equação, não esperem justificativas alimentadas por sentimentos como gratidão. Não é o que pesa – e friamente falando, não é mesmo o que deve pesar. Não é antiprofissional um atleta querer mudar de ares quando recebe proposta melhor. E a forma de avaliar o que é esse “melhor” vai de cada um. Não diminui o clube em que ele está em nada.

Tecnicamente, seria uma grande perda para o Cruzeiro, tanto Dedé quanto De Arrascaeta. Neste momento, arrisco a dizer que eles são insubstituíveis no grupo celeste e fora dele, em termos de opções à altura no futebol brasileiro ou sul-americano. Sem contar que reforçar uma equipe que também disputa a Copa Libertadores, grande obsessão da Raposa, torna o negócio ainda mais indigesto.

Neste tipo de novela, a gente nunca sabe quando chegou o ponto final. É possível que ainda tenhamos alguns capítulos pela frente, até o assunto poder ser considerado encerrado. A questão é saber quem vai levar a melhor. Em triângulo amoroso, uma parte sempre acaba se machucando mais, e os cruzeirenses esperam que não sejam eles.

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