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TIRO LIVRE

Um cara bom de bola

O equatoriano tem correspondido às expectativas, mas fica aquela ponta de incerteza. A boa fase terá consistência? Teria Cazares atingido a maturidade que se espera dele como atleta profissional?

postado em 22/02/2019 08:58

<i>(Foto: Fernando Michel/Divulgacao)</i>
A definição foi dada pelo técnico do Atlético, Levir Culpi, após a vitória sobre o Defensor, no Uruguai, pela Copa Libertadores, na quarta-feira. Um dos destaques da partida, o armador Cazares (foto) foi elogiado pelo treinador, que usou as seguintes palavras: “Esse é o cara bom de bola. Tem uma qualidade técnica elogiável”. Mas Levir não se limitou a enaltecer seu jogador. Também deu um leve puxão de orelhas (mais um, na verdade) no equatoriano: “Como tem muita qualidade técnica, pode fazer coisas ainda melhores, principalmente no campo defensivo. Pode participar mais, especialmente pela visão de jogo que tem. É um jogador inteligente, que sabe que pode se colocar em um sistema defensivo e ajudar o time. Vamos explorar essa situação, para que ele vá evoluindo e aprendendo conosco”.

Vitórias como essa que o Galo colheu em Montevidéu talvez sejam o momento mais oportuno para cobranças. Muitas vezes, triunfos são usados para encobrir problemas, acobertados pela empolgação do resultado. O modus operandi é criticar ou apontar defeitos somente pós-derrotas, geralmente em discursos inflamados para agradar ao torcedor. Não deveria ser assim.

Que bom que Levir foi na contramão da manada. Poderia ter sido até um pouco mais duro, apontando erros na transição entre defesa e ataque e a fragilidade na marcação de meio-campo, falhas que acompanham o alvinegro há algum tempo e que, diante de equipes mais bem qualificadas, podem ser fatais.

Nesse contexto de “assopra e morde”, quem mais pode se beneficiar com as observações do treinador atleticano é o próprio Cazares. Muitas vezes chamado de joia bruta, ele parece sempre um passo aquém do jogador que pode ser. Que tem calibre para ser. É um duelo eterno entre seu potencial e o que de fato entrega. No momento, o equatoriano tem correspondido às expectativas, mas fica aquela ponta de incerteza. A boa fase terá consistência? Teria Cazares atingido a maturidade que se espera dele como atleta profissional?

Os números em campo demonstram a qualidade dele. Levantamento feito pelo site de estatísticas Footstats mostra que, desde que chegou ao Galo, no início de 2016, o armador é o segundo jogador com mais assistências no futebol brasileiro. No ano passado, foi o principal garçom do time alvinegro, com 11 passes para gols. Nesta temporada, tem se sobressaído ainda mais na função de servir aos companheiros: em seis partidas, foram cinco assistências – aquele lançamento magistral para Ricardo Oliveira marcar contra o Danubio, no Independência, deixou evidentes sua habilidade e visão de jogo.

Levir já confidenciou a torcida para que a versão 2019 de Cazares seja influenciada pela chegada do filho, Anthuan, que nasceu em dezembro do ano passado. “Um filho salva a vida de muita gente. Um filho pode transformar o cara. E ele está muito carinhoso, feliz da vida. Tomara que continue feliz e jogando bem como sabe”, disse, no mês passado, ao notar uma sutil diferença no jogador desde que a paternidade entrou na vida dele.

Aos 26 anos, o armador não é mais um garoto. Às obrigações como jogador tem agora somadas responsabilidades que a criação de um filho traz. Claro que não há regra nesse caso, não é automático virar pai e ganhar juízo (atire a primeira pedra quem não tem um exemplo bem próximo para citar de pai desajuizado). Mas ter se tornado pai pode ser o gatilho que ele precisava para amadurecer e vislumbrar uma carreira mais sólida.

De puxão em puxão de orelhas, Levir pode fazer de Cazares o jogador que ele pode ser. O primeiro aviso do treinador veio assim que ele retornou à Cidade do Galo, em outubro do ano passado. “Ouvi isso de todos. O Cazares tem qualidade técnica que poucos têm. Batedor de bola parada, ótimo passador. Presença técnica refinada. Mas precisamos traduzir isso para números. Como sempre falam: nós somos números. Quantos jogou? Quantos ganhou? Isso que nos mantém empregados. Então, preciso saber um pouco mais sobre ele também. Tecnicamente, a gente vê que ele sabe jogar. Mas é importante conhecê-lo melhor, para tirar ideia melhor do que pode produzir”.

Pois, como queria Levir, os números têm jogado a favor de Cazares. Que em 2019 o equatoriano também jogue a favor dos números.

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