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TIRO LIVRE

Hora de repensar o Mineiro

Para muitos clubes do interior, o regional é o oxigênio que os mantém vivos. O que não dá é que a competição entre num nível questionável, como o Estadual deste ano

postado em 22/03/2019 11:41

<i>(Foto:  AFP / DOUGLAS MAGNO )</i>
Os críticos aos estaduais encontram muitas razões para defender o fim dessa competição. Entre as alegações, está a de que eles só servem para inflar o calendário com partidas de baixo nível técnico e deficitárias. Os defensores, por sua vez, levantam a bandeira da tradição e da importância do campeonato para dar visibilidade e movimentar financeiramente os times do interior. Não deixa de ser uma “faca de dois legumes”, pegando carona em uma das folclóricas frases atribuídas ao ex-presidente corintiano Vicente Matheus.

Para muitos clubes do interior, o regional não deixa de ser a mola propulsora de sua existência. Ele é o oxigênio que mantém a agremiação viva, razão de ser para que não feche as portas. Entra nessa conta, ainda, a forma como mexe com o torcedor, com a economia local, com as dezenas de jogadores que se agarram a ele como oportunidade para deixar o anonimato. Além disso, é a partir dele que se definem vagas em certames nacionais, como a Série D e a Copa do Brasil.

Por muito tempo estive na turma dos que defendiam firmemente os estaduais – um pouco pelo sentimentalismo, confesso, mas também sob o aspecto da sobrevivência dos pequenos e da chance que os grandes têm de usar o campeonato para testes, colocar em ação novos valores, entrosar os recém-contratados, quase que num aquecimento para o restante da temporada. O que não dá, no entanto, é que a competição entre num nível tão questionável, como o Campeonato Mineiro deste ano.

O formato da disputa, por mais que soe o mais democrático possível, contribuiu, e muito, para o baixo grau de competitividade. A natural distância entre as equipes da capital e as de fora de BH (pelos motivos óbvios de diferença de investimento e infraestrutura) ganhou contornos de abismo. Há muito não se via um Mineiro com tamanha discrepância e com times do interior tão fragilizados. E a classificação final da primeira fase, encerrada na noite de quarta-feira, está aí para mostrar.

Apenas atleticanos, cruzeirenses e americanos, donos das três primeiras colocações, respectivamente, ficaram acima dos 60% de aproveitamento. Dos demais que avançaram para as quartas de final, somente o Boa (4º lugar) superou os 50% de rendimento. Os outros quatro tiveram desempenho abaixo dos 40%: Tombense (5º) e Caldense (6º) com 39,4%, Patrocinense (7º) com 36,4% e Tupynambás (8º) com incríveis 33,3% – mesmo percentual do Villa Nova, que ficou fora da próxima fase pelo pior saldo de gols. O primeiro rebaixado, Guarani, teve 30,3% de aproveitamento. Ou seja, a diferença do primeiro na zona de descenso para o último classificado foi ínfima. Pior: dos 12 participantes, mais da metade (sete) ficaram abaixo dos 40%.

É difícil esperar um campeonato atrativo para o torcedor – e principalmente para patrocinadores – com nível tão baixo. E com oito de 12 equipes avançando de fase. É preciso que isso seja reavaliado pelos organizadores e até pelos clubes, que deveriam ter interesse em elevar o patamar da competição.

De positivo, pelo menos, o discurso dos treinadores de América, Atlético e Cruzeiro de ainda valorizar o Mineiro, apesar dos pesares. No caso do Galo, o técnico Levir Culpi usou de forma inteligente o torneio para dar rodagem a jogadores até então desconhecidos pela maioria dos torcedores. A liga foi boa (aproveitando-se da já citada inferioridade técnica dos adversários do interior) e, mesmo sem os titulares, o alvinegro garantiu, com folga, a liderança. O atacante Alerrandro que o diga. Ainda não tem cancha para ser titular, mas conseguiu aproveitar bem a chance e lidera a artilharia da competição, superando atletas experientes. “O Mineiro é importante, queremos ganhar”, destacou Levir depois do jogo contra o Tupynambás, na quarta-feira.

O comandante do Cruzeiro, Mano Menezes, adotou postura semelhante após a partida contra a Caldense. Fez questão de destacar a seriedade com que encara o Estadual ao comentar o duelo com o Patrocinense, amanhã, na abertura das quartas: “Temos que respeitar todo mundo. (…) Esse respeito faz com que a gente entre focado, sabendo as necessidades. Contra o Patrocinense, vamos encarar desse jeito. Sabemos das nossas obrigações, do favoritismo que temos por ser a equipe maior contra uma do interior, mas que não pode ser levada antes de dentro do campo, senão podemos ter os problemas que o futebol sempre deixa claros”.

Recorrendo novamente a Vicente Matheus, que abriu esta coluna, “quem está na chuva, é para se queimar”. E América, Atlético e Cruzeiro não estão fugindo da raia.

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