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Scolari e as circunstâncias

postado em 30/11/2012 11:14

Luís Costa Pinto
luiscp@uol.com.br

» Não há homens providenciais. Não há heróis vivos. Os cemitérios estão povoados por legiões de homens que se consideravam providenciais. Por fim, “sem missão não há homem”, como filosofou o espanhol Ortega & Gasset (*1883/+1955).

» Luiz Felipe Scolari, homem certo na hora certa, assumiu a tumultuada Seleção Brasileira em 2001 e conduziu-a ao pentacampeonato em campanha impecável na Coreia do Sul e no Japão em 2002, foi confirmado ontem no comando técnico da rejuvenescida, insegura, promissora e, infelizmente, bagunçada equipe do Brasil, tendo por meta ganhar dois títulos no espaço de 12 meses: a Copa das Confederações, em 2013, e a Copa do Mundo, em 2014.

» Carlos Alberto Parreira, homem certo na hora certa, assumiu a tumultuada Seleção Brasileira em 1993 depois de derrotas inéditas e perigosas nas Eliminatórias Sul-Americanas, classificou-a para a Copa de 1994 no último jogo, no Maracanã, em dramática vitória contra o Uruguai, e liderou-a na surpreendente campanha do tetracampeonato, nos Estados Unidos. Também foi confirmado ontem como coordenador técnico e estará ali para dar suporte a Felipão.

» Seriam eles, mais uma vez, os homens certos nos lugares certos e na hora providencial? Ou, como filosofou desta vez o alemão Karl Marx (*1818/+1883) a história nos pregaria uma peça repetindo-se como farsa? Ou a repetição, como farsa, destinada a nos levar aos píncaros da glória, seria a vitória de uma Copa no Brasil enterrando de vez e para sempre o fantasma de Obdulio Varela e do Maracanazzo de 1950?

» Scolari terá o comando efetivo e último da equipe. Negociou isso e esse é o seu estilo. Foi brilhante à frente do Brasil de 10 anos, assim como foi o melhor técnico que o selecionado português já teve. Ele tirou do ostracismo o futebol de nossos patrícios e projetou toda uma geração que hoje brilha nos gramados europeus — inclusive Cristiano Ronaldo. Nos últimos sete anos, contudo, Felipão não conseguiu reproduzir em clubes — notadamente, no Chelsea e no Palmeiras — o fulgurante sucesso logrado à frente de representações nacionais. Problema dele? Creio que não: o problema, nesses casos, foi muito mais dos clubes e de seus elencos em mesma gradação repleto e carente de astros, respectivamente.

» O conjunto brasileiro que certamente estará na Copa das Confederações e na Copa do Mundo diferirá muito pouco das últimas convocações feitas por Mano Menezes. Ganso deve voltar ao grupo, mas provavelmente estará no banco. Se for fiel ao seu histórico, o novo técnico da Seleção definirá um centroavante de ofício para vestir a 9 e haverá enorme disputa entre Fred e Leandro Damião. Prefiro o gaúcho. Aliás, em meu time, Fred não se sentaria nem sequer no banco. Faz gols, mas também cultiva chacrinhas e atrai problemas. E certamente a camisa 1 será disputada entre Cavallieri e Cássio.

» Mas o fundamental é que Scolari tem uma teimosa (e correta) ideia fixa sobre como uma equipe deve se impor em campo. Sabe montar defesas fortíssimas — fez isso no Palmeiras durante a Copa do Brasil, e venceu-a. Depois, perdeu o grupo nos vestiários e nas salas refrigeradas e acarpetadas da diretoria. Parreira, uma das personalidades mais suaves e sábias do mundo do futebol, pode ser o anteparo necessário e benvindo ao temperamento explosivo e às vezes azedo de nosso novo técnico.

» Para encerrar com uma paráfrase filosófica, mais uma vez citando tortamente Ortega & Gasset, há esperança para o Brasil quando Luiz Felipe Scolari parece ter compreendido que não chegou de novo ao ponto mais alto de sua carreira porque é um homem providencial, mas sim porque precisa mostrar que é bom apesar das circunstâncias que perecem teimar em querer diminuir sua biografia de vencedor.