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É a psicologia, idiotas!

postado em 22/02/2013 10:49

Luís Costa Pinto
luiscp@uol.com.br

Quem acompanha o jornalismo político sabe que desde 1992, quando se revelou o conselho do estrategista James Carville ao então candidato democrata à presidência dos EUA, Bill Clinton, para concentrar seus discursos e seus esforços de compreensão da conjuntura americana à área econômica e com isso cobrasse resultados do então presidente republicano George W. Bush, fabricou-se um clássico da consultoria de imagem.

— É a economia, idiota! – retrucou Carville para o futuro presidente dos EUA durante os treinamentos para debates ao perceber que Clinton não estava 100% concentrado nas teses e lições dadas por ele.

w Eis aí que a política, essa ciência apaixonante, encontra o futebol, que é arte e também apaixona. O único Deus da bola já materializado nos gramados, Pelé, desceu do Olimpo que o abriga e bradou conselhos cortantes como relâmpagos de fel contra Neymar, um das escassas grandes esperanças que temos à mão para vencer a Copa de 2014 e enterrar o redivivo complexo de vira-latas que nos tomou de assalto no futebol.

Ponderado, num tom suave, como convém aos deuses, mas assertivo como devem ser aqueles cujas opiniões são indiscutíveis de per si, Pelé alertou: Neymar joga mais para si do que para o Santos ou a Seleção; na Seleção, Neymar é um jogador comum; Neymar se preocupa mais com a sua imagem pessoal do que com o futebol; e por fim: Neymar consome mais horas gravando propagandas do que treinando.

Tudo isso foi dito pelo homem imortalizado em jogadas plásticas, protagonista das mais mágicas e diáfanas cenas da História do esporte. Pelé é único, e está certo. A repórter Carol Knoploch contabilizou só em 2012 5.472 inserções comerciais com o atleta do Santos. Só perdeu, na TV brasileira, para Camila Pitanga, Gisele Bündchen e Reinaldo Gianecchini. Até anteontem, segundo Knoploch, Neymar havia postado 1.267 fotos no Instagram e redigido 9.391 frases de 140 caracteres no microblog Twitter. Isso é demais? Mais do que isso: é um exagero quase pornográfico quando sabemos que a criatura detentora dessas marcas tem apenas 21 anos e sua arte se dá com a bola nos pés.

Neymar surgiu há duas semanas com um novo corte de cabelos e trocou o castanho natural por um louro descolorido de periferia. Esta semana, como a segui-lo, outro palhaço copiou-o: Tiririca, o dublê de deputado federal eleito por São Paulo e clown de profissão, exibiu o mesmo louro-Neymar no Salão Verde e no plenário da Câmara dos Deputados. Palhaçada completa, ambos fazem muito mal ao Brasil e aos brasileiros, porém cada em seu ofício.

Tiririca é um entre 513 deputados numa Casa em que só 10%, se muito, trabalham efetivamente e têm espírito republicano. Neymar é um em 11, seja no Santos ou na Seleção, e essa sua falta de foco e de compromisso é um desastre de proporções trágicas.

Pelé colocou o dedo na ferida e, assim como Carville fez com Clinton, soprou para o atleta da Vila:

— É a psicologia, idiota!

Que Neymar o ouça e, assim como Clinton, perverta sua agenda e converta suas metas àquilo que deve fazer. No caso, jogar bola e fazer arte.