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Messi, o pato manco

postado em 12/04/2013 14:58

Luís Costa Pinto
luiscp@uol.com.br

Na política, há uma expressão derivada do inglês, "lame duck", ou "pato manco", que define a situação desconfortável de chefes de governo que perderam ou nem disputaram a reeleição e têm de comandar a transição do cargo para os sucessores - em geral, opositores.

No mundo do futebol, o Estado da Arte ainda é o Barcelona, mesmo que fustigado de perto pelo jogo imperial do Bayern de Munique. E o %u201Cpremier%u201D do Barça é, sem dúvidas, Lionel Messi.

Eis que o jogo decisivo do time catalão na Liga dos Campeões da Europa, ante o Paris Saint-Germain, anteontem, deu-se num momento em que o genial meia-atacante argentino estava com risco de ruptura muscular e dores, e precisou iniciar a partida no banco.

Sabia-se que, mesmo autorizado a entrar, seria dia de meio Messi no Camp Nou.

O PSG lidou bem com o revés do antagonista, segurou o 0 x 0 no primeiro tempo e abriu o placar no início da segunda etapa. O resultado significaria nova frustração para a equipe mais espetacular que o futebol mundial viu em campo, no século XXI, até aqui.

Antes dos 15 minutos da etapa final, com o time em desvantagem, Messi se ergueu no banco de reservas, levantou a torcida azul-grená, jogou longe o colete que designa os regras-três e reacendeu o jogo.

O Barcelona, até ali apático, passou a massacrar o adversário francês com ligações rápidas, em geral, surgidas a partir dos pés do argentino. E foi numa delas, rápido e mortal, que ele tocou para Xavi dentro da área. Esperto e com ampla visão do campo, características próprias dele, Xavi enganou a zaga e deixou a bola para Pedro fuzilar da entrada da área. Gol. Golaço.

O empate foi suficiente para classificar o Barcelona, mas o time catalão de 2013 não é mais o espetáculo em movimento de 2011, e o bávaro Bayern ser-lhe-á um adversário complicado e luminoso, caso se enfrentem.

Mas o 1 x 1 sorrateiro do Camp Nou, contudo, assegurou ao mundo que Messi está degraus acima de qualquer outro atleta. Nenhum outro, como ele, anteontem, é capaz de mudar a história de uma partida entre duas equipes tão competitivas e tão focadas.

E, ali, não tínhamos um argentino inteiro. Havia meio Messi em campo. Era um meia-atacante com risco de ruptura muscular. Mas foi um gênio, um maestro e um spala ao mesmo tempo.

Messi, mancando, desmoralizou a ciência política. Mostrou que um pato manco também é capaz de mudar a história e seguir construindo a própria biografia.