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Mala preta

postado em 13/12/2013 12:04 / atualizado em 19/02/2014 16:41

Os controles débeis, as lideranças provectas e o jogo sujo que sempre marcaram a cartolagem na Confederação Brasileira de Futebol e, de resto, nos clubes e federações, empurraram o Brasileirão de 2013 para uma situação paradigmática.

O campeonato terminou no último domingo com o Cruzeiro campeão e dois dos grandes times cariocas rebaixados à Série B — Fluminense e Vasco. Mas as malas pretas fazem recender o estrume que curtiram nela os mandarins do Futebol Brasileiro S/A, antagonista primitivo do Bom Senso F.C., e além da barbárie trágica de Joinville temos de esperar para ver se de fato o Fluminense — sobretudo ele — cairá ou não. Deve cair, tem de cair, pois assim decretaram a regra e o futebol de baixíssimo nível apresentado por todo o ano.

O que se viu em Joinville, pela enésima vez, foi o triunfo da boçalidade ante a razoabilidade e a civilidade. Os responsáveis por isso: os cartolas de sempre, e a eles se somam o Ministério Público de Santa Catarina, culpado por produzir uma recomendação dúbia em relação à segurança dos eventos na arena da cidade, e a Polícia Militar do estado, que lavou as mãos quanto ao seu papel no evento até que a tragédia se revelasse inadiável. Não choverei nessa terra molhada e arrasada, pois já falei muito sobre as formas de punir os marginais que se abrigam sob o manto falso de “torcidas”.

A volta da mala preta e a possível ocorrência de um formato inusitado de apresentação dela, escondida dessa vez num diálogo entre algum dirigente da Portuguesa e um advogado, é que é a novidade do momento.

Estamos todos autorizados a crer que não é verdadeira a versão apresentada pelo causídico Osvaldo Sestário Filho para descrever o desenrolar dos fatos ocorridos entre o julgamento em bloco de diversos atletas no STJD, na sexta-feira passada, e os jogos de encerramento do Campeonato Brasileiro no domingo.

Sestário, esse personagem de nome quase improvável e talhado para protagonizar o pastiche em tela, representava seis clubes naquela noite — Atlético Paranaense, Santa Cruz, Portuguesa, Atlético Goianiense, Icasa e Ceará. Encerrados os julgamentos, diz que procedeu como a praxe informando aos clubes os resultados das sessões. Por telefone. Sem protocolo algum. Não havia e-mail, mensagem, gravação, nada capaz de preservar um lado ou outro, caso se estabelecesse o conflito e a divergência.

A Portuguesa garante que a informação passada foi que o atleta Héverton recebera a punição de uma partida de suspensão — já cumprida até ali. O advogado múltiplo assegura ter dito que eram dois jogos. Nem o clube nem o causídico de tantos e tão conflitantes clientes apresenta prova alguma do que falam. Resultado do impasse: a Portuguesa pode ser punida com a perda de quatro pontos e ocupar o lugar do Fluminense na Série B do próximo ano.

Justo e claro? Óbvio que não. Duvido da veracidade dessa versão de Osvaldo Sestário e posso passar a crer na possibilidade de o Fluminense ter amplos e impagáveis motivos para promover o roteiro dessa farsa. Só duvido. Não tenho prova alguma — assim como Sestário não tem prova alguma para falar a verdade, a Portuguesa não tem provas para dizer que fora induzida ao erro e o Fluminense não tem provas, também, para mostrar que estava completamente isento de interesse no novelo em que enrolaram o futebol brasileiro.

Senil e provecta, a CBF sobrevive em meio a um tribunal eivado de fragilidades e suspeitas como o STJD e permite que procedimentos como o de Osvaldo Sestário Filho se legitimem. Um advogado, sozinho, pode ter comprometido um torneio que vale ao menos R$ 2 bilhões quando contabilizados os direitos de imagem para a tevê e as despesas totais dos 40 clubes envolvidos na palhaçada. Sai caro o Circo da Mala Preta.