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DA ARQUIBANCADA

Futebol com democracia

Essa batalha nós perdemos. Mas não podemos deixar que a democracia seja derrotada nesta eleição

postado em 05/10/2018 09:56 / atualizado em 05/10/2018 11:18

 Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

O futebol foi criado na Inglaterra, em 1863, e trazido ao Brasil por Charles Miller, em 1895. Começou aqui como esporte de elite, jogado por pessoas de pele branca e bem-postas na vida. Com o correr dos anos, tornou-se popular e pessoas de pele negra também passaram a dar chutes na bola e a se divertir. Redonda como o planeta, a esfera, então de couro e costurada a mão, trazia em si doses gigantescas de magia: encantou e maravilhou a maioria. E enraizou-se no mundo todo como esporte agregador e democrático. Porém, a partir da década de 1990, empresários e dirigentes de clubes fizeram do futebol um balcão de negócios milionários. Muitos deles, milionários e ilegais, como estão aí para provar os processos contra Fifa, CBF e Rede Globo.

O que era brincadeira e prazer coletivos foi transformado em produto capitalista: há investimento, há indústria e há comércio. Atletas são como ações em bolsas de valores: empresários e dirigentes de clubes investem milhões de reais, euros ou dólares, apostam na capacidade de aquelas pernas tortas e fortes lhes renderem lucros. Indústrias fabricam diariamente bolas, chuteiras, luvas de goleiros, calções, apetrechos diversos e camisas de craques, com seus nomes e números às costas. Lojas localizadas em ruas de comércio popular, em shoppings luxuosos ou em sites vendem milhões dessas camisas em todos os continentes.

De quatro em quatro anos, a Copa do Mundo faz do futebol o maior espetáculo da Terra, acompanhado quase sempre em tempo real por mais de um bilhão de pessoas em jornais, revistas, internet, programas de rádio e TV. Há uma avalanche de informações a respeito dos ídolos da época e sabe-se quase tudo sobre Messi, Cristiano Ronaldo, Neymar e outros. O salário mensal de cada um deles, inflado por direitos de imagem e anúncios publicitários, é para as pessoas comuns como aquele pote de ouro no fim do arco-íris: inalcançável. Esses jogadores não têm “culpa” de ganhar cifras astronômicas; foram empresários e dirigentes de clubes que inflacionaram tais valores, para receber graúdas comissões percentuais sobre eles. Quanto maior for o rendimento dos atletas, maior será o ganho de empresários e dirigentes. Toma lá dá cá.

Apesar de muito amado, o futebol vem perdendo a sua aura de divertimento ingênuo e agregador. Integrado ao cotidiano das pessoas, ele é vítima de duplo assassinato: de um lado, a violência presente nas sociedades forçou a separação de torcidas nos estádios – nada mais desagregador; de outro, a necessidade de os clubes cobrirem os custos inflacionados levou ao aumento do preço dos ingressos, elitizando esse esporte de gosto popular – a geral do Maracanã será eternamente lembrada como exemplo dessa benéfica popularidade. No antigo Independência, também era tudo junto e misturado: negros, brancos, índios, ricos e pobres. O futebol já foi mais democrático.

Essa batalha nós perdemos. Mas não podemos deixar que a democracia seja derrotada nesta eleição. Votemos na democracia. #Elenão.

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