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MINAS E AS COPAS

Gerações talentosas amargaram jejum de 24 anos sem título mundial

Seleção Brasileira levou 24 anos para conseguir o tetracampeonato mundial. Nesse período, gerações de grandes jogadores passaram em branco pela Seleção

Renan Damasceno
Técnico Telê Santana conversa com os jogadores da Seleção Brasileira na Toca da Raposa, durante preparação para a Copa de 1986 - Foto: Arquivo EM

“O sonho acabou.
Agora é voltar ao trabalho e esperar até 1986.” A manchete do Estado de Minas de terça-feira, 6/7/1982, acompanhada da foto de um torcedor de cabeça baixa e da cidade vazia, retrata bem a decepção do torcedor diante de uma das mais dolorosas derrotas do futebol brasileiro: o revés sofrido para a Itália, por 3 a 2, no Sarriá, em Barcelona, que decretou a eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo da Espanha’1982.

O Brasil, do técnico Telê Santana, precisava apenas do empate para ir à final, mas os três gols de Paolo Rossi frustraram uma das gerações mais talentosas das Copas. “Tínhamos que ter a humildade de chegar e falar: ‘olha, vamos jogar pelo empate que nós vamos passar’. E isso não aconteceu pela qualidade dos jogadores, da maneira que jogava, sempre procurando vitórias e isso não aconteceu nesse jogo”, analisa o zagueiro Luizinho, à época no Atlético, titular nas cinco partidas do Brasil na Espanha.

Depois de maravilhar o mundo com a campanha impecável no México, em 1970, o Brasil amargou um jejum de 24 anos até voltar a levantar a taça, nos Estados Unidos. Nesse período, algumas das gerações mais brilhantes dos clubes brasileiros passaram em branco. Luiz Pereira e Leivinha, da segunda academia de futebol do Palmeiras; Luizinho, Cerezo, Reinaldo e Éder, do Atlético; Leandro, Júnior e Zico, campeões mundiais com o Flamengo, são alguns dos muitos exemplos.

Na Alemanha’1974, Zagallo manteve no time titular três jogadores da campanha vitoriosa de quatro anos antes: Piazza (Cruzeiro), Rivellino (Corinthians) e Jairzinho (Botafogo). A eles se juntaram jovens promissores, como os laterais Marinho Chagas (Botafogo) e Nelinho (Cruzeiro), que foi chamado pela primeira vez para a Seleção três meses antes do Mundial.

“Em julho de 1972, eu era reserva do Remo. E, em dois anos, eu fui de reserva do Remo a jogador do Cruzeiro e convocado para uma Copa do Mundo.
E entrei no lugar do cara que eu mais admirava, que era o Carlos Alberto Torres. Ele machucou e fui convocado. Na preparação, o Zé Maria machucou também e fui titular na Copa”, lembra Nelinho, à época com 24 anos. Nelinho foi titular na primeira fase e Zé Maria retomou o posto na fase final, quando o Brasil se despediu com derrotas para a Holanda, de Cruyff, e para a Polônia, de Lato.

Paulo Rossi bate o goleiro Waldir Peres no Sarriá, em Barcelona: fim da Copa de 1982 para uma das mais brilhantes seleções brasileiras da história - Foto: UPI/Arquivo EM
O lance inesquecível do lateral cruzeirense, entretanto, ocorreria quatro anos mais tarde, no Monumental de Nuñez, em Buenos Aires. Aos 19min do segundo tempo da decisão do terceiro lugar, contra a Itália, ele recebeu a bola na direita, ajeitou e chutou com tanta força que a bola fez uma curva improvável e entrou no canto direito de Dino Zoff.

“Em 1978, eu achei que poderíamos ter jogado, pelo menos, a final da Copa do Mundo. O grande pecado foi contra a Argentina. O banco desse dia era eu, Edinho, Zico e Rivellino, nós quatro. A comissão técnica entendia que empate era bom resultado, eu não entendia assim. Eles temiam a gente. Na rodada final, eles entraram em campo sabendo do resultado que precisavam e venceram o Peru por 6 a 0. Saímos invicto, mas não ganhamos nada”, lembra Nelinho.

Confusões na Toca I

A derrota na Espanha até hoje é lembrada como uma das mais dolorosas da história da Seleção Brasileira. Telê Santana conseguiu reunir o talento de Waldir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho, Júnior Falcão, Zico, Sócrates, Serginho, Éder, além de reservas de luxo como Edinho, Paulo Isidoro e Dirceu.

Entre a Copa da Espanha e do México, o Brasil teve três treinadores: Carlos Alberto Parreira, Edu (irmão de Zico) e Evaristo de Macedo. Telê voltou ao comando em 1985 e, às vésperas do Mundial, precisou lidar com uma grande polêmica.
A Seleção Brasileira se preparava na Toca da Raposa. Durante o período de concentração, Renato Gaúcho e Leandro chegaram de madrugada ao CT do Cruzeiro, desrespeitando os horários rígidos estabelecidos por Telê. Na lista final, o técnico mineiro cortou o ídolo do Grêmio, mas manteve o lateral do Flamengo no grupo. No dia do embarque, no entanto, Leandro não compareceu ao aeroporto e não viajou em solidariedade ao gaúcho.

No México, mesmo com remanescentes da Copa da Espanha, como Júnior, Falcão, Sócrates e Zico, o Brasil parou nas quartas de final, nos pênaltis, na primeira de três eliminações para a França em 20 anos. O jejum do Brasil continuou no Mundial seguinte, na Itália, quando a Seleção de Sebastião Lazaroni caiu para a Argentina nas oitavas de final.
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