Copa do Mundo
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BELO HORIZONTE

Moradores da capital mineira reagem de maneira bem diferente à estreia da Seleção

Uma volta por BH dá a dimensão exata de que a cidade se divide em duas: daqueles que não querem saber de Copa ou dos que torcem, xingam e se envolvem com a festa

postado em 18/06/2018 09:01 / atualizado em 18/06/2018 09:52

ALEXANDRE GUZANSHE / EM DA PRESS

Esquinas e praças lotadas de um lado. Ruas e avenidas desertas de outro. Uma volta pelos arredores de Belo Horizonte dá a dimensão exata de que a cidade se divide em duas em plena Copa do Mundo: daqueles que deixaram o patriotismo de lado e nem querem saber de Copa ou dos que torcem, xingam e se envolvem com a festa. Mas os tempos são outros: há o torcedor raiz que vibra com cada lance e o torcedor nutella, sempre com o celular na mão em busca de selfies com a camisa verde-amarela para postar numa rede social.

O momento político conturbado do Brasil desanima o casal Thiago Ferreira e Érica Mota. A corrupção, a violência e a educação precária os assustam. Em vez de se juntarem a amigos para assistir à estreia do Brasil no Mundial, eles tiraram a tarde para passear pela Pampulha com a filha Maria Beatriz, de 2 anos. “Estamos preocupados com o nosso país. Não é apenas de Copa que o Brasil vive. Nem estou tão interessado. Estávamos no parque, mas ele fechou por causa do jogo. Vamos esperar acabar para voltar”, contou Thiago.

Dentro do parque, a funcionária da lanchonete Kátia Geralda pensava diferente. Estava feliz, afinal, conseguiu ver o jogo em pleno horário de trabalho. E isso só foi possível porque a direção fechou o parque na hora da partida. Ainda que tivesse de voltar ao posto para concluir as tarefas, ela não deixou de espiar os craques do Brasil. “Achei que não ia dar movimento hoje (ontem), mas acabou dando”, diz Kátia, que acredita que a torcida vai se interessar pela Copa com o passar dos jogos: “Todo mundo vai ter mais confiança quando o Brasil for mostrando melhor futebol. Por enquanto, todo mundo duvida”.

Jogo de perde e ganha na Rússia, 0 a 0 no placar. O ambulante Paulo Sérgio Machado está mais preocupado com os trocados que ganha ao vender algodões doce do que com a atuação brasileira. De vez em quando, dá uma espiada na televisão montada na barraquinha de cachorro-quente. Vestido com a camisa amarela, estava satisfeito com os 12 algodões que vendeu.

O gol brasileiro de Philippe Coutinho sinalizava que a tarde seria feliz. Ainda que tímidos, os primeiros fogos vindos da área central começam a estourar no céu. O aposentado David Serafim do Nascimento estava no caminho de casa quando o Brasil balançou a rede. “É sério? Está 1 a 0? Que pena, meu Deus. Eu não viu o gol”. Com uma bandeirinha brasileira na parte traseira da bicicleta, ele rodou 30 quilômetros desde São José da Lapa, onde foi almoçar com a filha. Pingos de suor caíam de seu rosto. Ainda precisava percorrer cinco quilômetros até chegar em casa, no Bairro Jardim Montanhês. “Quando chegar, poderei ver direito e comemorar com a família. Quem sabe beber uma cerveja?”.

ALEXANDRE GUZANSHE / EM DA PRESS


BALDE DE ÁGUA FRIA O empate da Suíça é um balde de água fria. Dois funcionários da feira hippie, Madson Igor e Pedro Silva não conseguiram ouvir a partida pelo rádio do celular enquanto carregava um caminhão – bateria descarregada. Os xingamentos dos torcedores os alertaram sobre o gol adversário. A tarde foi ficando sombria. O jogo era ruim. Eles prometem não se desgrudar da TV na sexta-feira, diante da Costa Rica. Nem que isso signifique faltar ao trabalho.

O rádio do carro foi o melhor amigo do taxista Osmar Oliveira Reis. Na voz do radialista Milton Naves, ele escutou os gols da partida. Mas se mostrava decepcionado pelo movimento do dia: havia feito apenas uma corrida, de R$ 10. E o jogo estava daquele jeito: sonolento, parado, quase dando sono. “A Seleção está boa, mas precisávamos da vitória. O resultado é ruim. Vamos sofrer de novo”. Ele se referia ao 7 a 1 de quatro anos atrás, para a Alemanha.

A poucos metros dali, quem teve minutos de respiro foi a enfermeira Maria Érica Massahude. Entre um atendimento e outro num hospital da área central, ela se beneficiou da TV dos pacientes para saber o resultado. Maria Érica se diz apaixonada por futebol e cruzeirense roxa. “Já fui mais empolgada, mas acompanho. O dia está tranquilo. Dá para ver o jogo do Brasil sossegada”.

Entre cada uma história e outra, BH vai curtindo a Copa de formas diferentes. Cada um de seu jeito, com sua particularidade. O primeiro capítulo passou. E terminou com gosto amargo.

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