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Quartel-general soviético abriga Museu da Guerra Fria com loja, discoteca e restaurante

Bunker 42, construído pelo comunismo, agora é explorado pelo capitalismo

postado em 22/06/2018 07:33 / atualizado em 22/06/2018 08:11

Paulo Galvão/EM/D. A Press

Moscou – A Era Soviética está presente em nomes de logradouros, prédios e símbolos espalhados por toda Moscou. Porém, em poucos lugares se sente tanto a atmosfera dos anos da cortina de ferro como no Bunker 42, ou Museu da Guerra Fria, localizado em Taganska, bairro na Região Sudeste da capital russa.

De fora, trata-se de uma construção como tantas outras, com fachada discreta, como convém a um lugar secreto e que hoje ostenta letreiro indicando o que lá funciona – dizem que membros da KGB se passavam por moradores para não levantar suspeitas. Lá dentro, porém, dá para se ter ideia muito clara de como foi viver sob o risco de guerra nuclear entre a então União Soviética e os EUA, ainda que o roteiro não dure mais que 60 minutos e custe quase R$ 150 por pessoa – há opções de guias em russo ou inglês.



O local tem 700m2 e para acessá-lo é preciso descer 18 andares de escada, ou 65m abaixo da superfície. Os visitantes podem acessar apenas um dos quatro blocos, mas é suficiente para se impressionar com a engenhosidade dos russos.

O bunker foi construído a mando de Joseph Stalin depois da Segunda Guerra Mundial para suportar um ataque nuclear, comportando 600 pessoas por até três meses. O ditador da União Soviética a partir de 1922 não chegou a ver a obra pronta, pois morreu em 1953, um ano antes da inauguração.

Isso não impede que o museu exiba um manequim com a aparência dele na sala projetada para servir de escritório principal, no bloco 4. Há outros manequins fazendo as vezes de soldados na tentativa de deixar o tour mais realista.

Em uma das salas, há uma grande mesa onde os comandantes das forças armadas e do Partido Comunista soviéticos tomaram importantes decisões entre 1956 e 1986, quando o abrigo foi desativado. Dali, por exemplo, teria sido autorizado o ataque aos EUA caso não houvesse saída amigável entre os dois países para o conflito iminente em Cuba, em 1962.

“Enquanto um míssil norte-americano demoraria de 70 a 80 minutos para atingir Moscou, um míssil russo atingiria o território dos EUA em sete minutos”, gaba-se o guia, vestido com uniforme que imita o dos militares soviéticos.

Ele, porém, faz questão de passar mensagem de paz em um dos momentos mais marcantes do passeio. Depois de apresentar uma bomba atômica batizada de Satã, é exibido vídeo sobre a catástrofe que seria um ataque nuclear de qualquer uma das partes. As imagens, com direito a muitos efeitos especiais, são fortes e mostram prédios, estradas, aviões e helicópteros sendo varridos pelo efeito da explosão de uma bomba.

ROTA DE FUGA Em uma maquete é possível ver o projeto do local. E que o abrigo é conectado à estação de metrô vizinha, facilitando a saída dos ocupantes em caso de algum problema e também a entrada e saída de oficiais sem levantar suspeitas. O metrô, inclusive, pode ser ouvido em vários pontos do passeio, mostrando estar realmente muito perto.

Há muitos equipamentos da época da inauguração, bem como um quarto montado com beliches para mostrar como os ocupantes do bunker viviam. E também muitos mapas e quadros.

Como a utopia comunista ficou para trás, a obra planejada por Stalin para ser um quartel-general inexpugnável se transformou em uma grande fonte de renda. Além de uma discoteca e um restaurante, por ironia do destino no bunker também funciona uma loja de suvenir com várias peças alusivas ao próprio ditador sendo vendidas a partir de R$ 20.

A procura tem sido intensa. Ontem, no início da tarde (horário de Moscou), quando a reportagem visitou o local, havia fila para entrar e era preciso aguardar cerca de 40 minutos. Isso pode ser evitado se for feita reserva antecipada, inclusive pela internet.

Há notícias de outros bunkers soviéticos espalhados por Moscou. Um deles seria no próprio Kremlin, sede do governo russo. Porém, apenas o Bunker 42 está aberto à visitação.

Tags: museu guerra história