CRUZEIRO 100 ANOS
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CRUZEIRO 100 ANOS

Pai de Natal ganhou caminhão para permitir assinatura com Cruzeiro

Um dos destaques do time de 1966, ex-atacante começou no futebol de salão e diz que a amizade e a superação foram a base da equipe campeã sobre o Santos de Pelé

postado em 05/01/2021 15:26

(Foto: Arquivo EM - 14/02/1970)
Natal Baroni de Carvalho, de 75 anos, ficou conhecido no futebol também como o “Diabo Louro”, apelido dado ao ponta-direita que infernizava a vida dos adversários no time do Cruzeiro de 1966. Aliás, ele foi um dos principais personagens da conquista daquela Taça Brasil, contra o poderoso Santos de Pelé, tendo marcado dois gols  um na goleada por 6 a 2, no Mineirão, e o último da virada por 3 a 2, em São Paulo.

Antes de chegar ao Cruzeiro, Natal jogava em campos de várzea, no Itaú, da Cidade Industrial. “Em um jogo contra o infanto do Cruzeiro, na Cidade Industrial, terminado o primeiro tempo, um diretor do Cruzeiro, Rolando Vassalli, que era dono de uma padaria no Barro Preto, me chamou e perguntou se queria ir para o clube. Pensei: que pergunta besta, claro que queria. Respondi que sim. O problema seria falar com  meu pai. A gente morava numa casa no Bairro JK, em Contagem.”

Terminado o jogo, Natal foi para casa e contou para o pai, que era dono de um armazém. Obteve a permissão e foi, então, jogar no futebol de salão do Cruzeiro.  “Meu pai pediu um caminhão, pois precisava de um, para permitir que eu jogasse. O Cruzeiro deu o veículo. Fomos à extinta Motorauto e ele saiu de lá com seu caminhão.”

No clube, ele foi visto por Crispim, técnico do juvenil, que o levou para o futebol de campo. “Era um timaço, com Dirceu Lopes, Batista, Tostão, Valdir, Jaburu", lembra Natal, que teve de se mudar para  uma pensão na Avenida Amazonas: “Eu morava no Eldorado. Era longe para ficar indo e vindo todos os dias”.

Na época, a Seleção Olímpica do Brasil se preparava para os Jogos de Tóquio e veio a Belo Horizonte para um amistoso contra o juvenil do Cruzeiro. Adivinhem quem se destacou? Pois foi Natal, que se recorda de ter ganhado uma chuteira “bonita, preta, e meião da Seleção”. Um presente pelo bom desempenho.

Na arquibancada estava o técnico do profissional do Cruzeiro, Airton Moreira, que não teve dúvidas em levar, ele, Dirceu Lopes, Tostão, Batista, Valdir e Jaburu para o time principal. No primeiro treino, o encontro com Piazza, William, Procópio, Raul, Pedro Paulo, Murilo, Neco, entre ourtos. “Seu Airton mudou a gente de posição. Eu era ponta de lança e virei ponta-direita. O Pedro Paulo, que era volante do juvenil, virou lateral-direito.”

Natal foi morar, então, na concentração, na esquina da Amazonas com Rua Araguari. “Era eu que buscava sanduíche e cerveja pra gente tomar enquanto jogava baralho. Eu não comia direito. Foi quando um cruzeirense fanático, “Seu João”, me chamou e disse que era pra almoçar e jantar no boteco dele. Passei a comer bife”, lembra.

Amizade e Taça Brasil


Segundo ele, o entrosamento entre os jogadores e amizade cresceram de maneira natural até chegar a decisão da Taça Brasil, o momento maior da carreira de todos no time: “Íamos enfrentar o Santos, de Pelé, bicampeão do mundo. Era muito. O Cruzeiro era um time de Belo Horizonte. Seu Airton falou pra gente que tínhamos de fazer um gol logo de cara, que era pra assustar o time deles. Era a nossa única chance. Pois entramos em campo e jogamos como nunca. Quando eles se assustaram, já estava cinco.”

No jogo em São Paulo, os santistas foram além das provocações, conta Natal: “O Zito me deu um soco. E não esqueço o Felício falando no intervalo que eles queriam marcar o terceiro jogo para o Maracanã, pois aquele já estava ganho. O Santos vencia por 2 a 0. Mas não desanimamos. O Tostão perdeu um pênalti, mas não desanimamos. Tostão marcou de falta, depois Dirceu, 2 a 2 já dava o título, e ainda fizemos mais um, meu. Foi demais”.

Natal jogou no Cruzeiro até 1970, quando foi vendido ao Corinthians. De lá, foi para o Bahia , antes de voltar ao Cruzeiro para mais uma temporada, tornando a sair em 1973. No total, vestiu a camisa do clube 261 vezes, marcando 75 gols. Além da Taça Brasil'66, foi pentacampeão mineiro de 1965 a 1969 e novamente campeão estadual em 1973.

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