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'Foi a mão de Deus', diz Vovó do Galo sobre o título do Brasileiro

Ana Cândida de Oliveira Marques, de 101 anos, comemorou ao lado da família a conquista da taça pelo Atlético

03/12/2021 09:00 / atualizado em 03/12/2021 10:09
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Ana Cândida, a Vovó do Galo, com a neta Sabrina Marques de Oliveira (E), a filha Maria Aparecida Marques de Oliveira e o neto Marcelo Eustáquio Marques de Oliveira
foto: Juarez Rodrigues/EM/D.A Press

Ana Cândida, a Vovó do Galo, com a neta Sabrina Marques de Oliveira (E), a filha Maria Aparecida Marques de Oliveira e o neto Marcelo Eustáquio Marques de Oliveira



Nesta casa todo mundo é Galo – o amor pelo time pulsa forte no escudo da camisa, na bandeira gigantesca tremulada a cada vitória, no grito de gol e nos abraços de emoção. Com a conquista do Campeonato Brasileiro pelo Atlético, meio século após o primeiro título, a família de Ana Cândida de Oliveira Marques, a conhecida Vovó do Galo, de 101 anos muito bem vividos, festejou, unida como sempre, na residência do Bairro São Luís, na Região da Pampulha, em Belo Horizonte.

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Com o Atlético declarado bicampeão, todos os descendentes da Vovó do Galo reafirmaram a devoção alvinegra e ganharam uma explicação da matriarca. "Foi a mão de Deus. Ele é muito bom para mim, sabe que sou uma boa católica", contou a senhora de voz firme, lucidez invejável e sempre pronta para entoar seu grito de guerra: Galooooo!!!

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De onde vem essa paixão que atravessa décadas, parte do coração, passa pelos filhos, chega aos netos e contagia o bisneto Bernardo, de 11 anos? "Pergunta difícil de responder. O amor pelo Atlético é um mistério. Vem desde o tempo em que eu morava na fazenda. É meu remédio, é o que me ajuda a viver", confessa Ana Cândida, natural de Lamim, na Zona da Mata mineira e viúva, há 18 anos, do também atleticano fanático João Marques, nascido em Rio Espera, na mesma região.

No tempo em que morava em Lamim, a Vovó do Galo – apelido dado pelo neto Marcelo Eustáquio Marques de Oliveira, de 30, engenheiro – lia os jornais que chegavam da capital, com muitos dias de atraso, e tinha atração especial pela "camisa alvinegra" do time mineiro, ainda mais que o futuro marido era goleiro de um time de Lamim, cujo uniforme era preto e branco.

"Chegava a recortar as notícias do jornal, descartando as referentes aos outros clubes", conta a filha mais velha, a professora Maria Aparecida Marques de Oliveira, mãe de Marcelo e de Sabrina, de 20, estudante de medicina.

Para mostrar que o amor move a família em todos os aspectos, principalmente na paixão pelo time, Maria Aparecida conta que conheceu o marido, o empresário Écio Eustáquio de Oliveira, no meio da torcida, no Mineirão. "Começamos a nos olhar e estamos casados há 33 anos."

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Atenta a todo movimento em seu entorno, a vovó diz que nunca obrigou ninguém a torcer pelo Atlético, embora confesse que, algumas vezes, tentou um "vira-casaca" da torcida adversária, no Mineirão. "Eu levava umas balinhas e oferecia para ver se eles mudavam de time", sorri com vontade da tentativa infrutífera.

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Torcida unida na família


Na sala da casa já enfeitada para o Natal, Maria Aparecida e os filhos falam da forte paixão pelo time que, segundo Marcelo, está no sangue, no DNA: "A gente não vira atleticano, já nasce atleticano".

Sentado ao lado da avó, da mãe e da irmã no espaçoso sofá diante da televisão, o engenheiro diz que cada um tem seu lugar marcado em dia de jogo, o mesmo ocorrendo quando a família vai ao Mineirão, localizado a um quarteirão da casa.

"A gente vai se acomodando e a vovó fica neste lugar", aponta ele para a poltrona na qual Ana Cândida torce, aplaude, vibra, sofre, reza e comemora.

"Só não gosto de vaia para o adversário, ah...isso não", avisa a senhora, com atitude e espírito esportivo.

A cada momento, as lembranças tomam conta da família, e as histórias vão passando de geração a geração. Ana Cândida festejou a primeira vez em que o Atlético se sagrou campeão brasileiro, tinha 51 anos, e Maria Aparecida também se lembra. "Aguardamos esse título o tempo todo. No ano passado, quase veio. Mas atleticano é assim, aprendeu a não sofrer por antecipação, prefere comemora na hora certa. Lutar, lutar, lutar", diz Maria Aparecida citando um trecho do hino do Galo.

Longa espera pelo bicampeonato

A longa espera compensou, Ana Cândida sabe disso, mas nunca perdeu nem esperanças muito menos o bom humor. Gosta de contar que, décadas atrás, levou um galo garnisé, vivo, ao Mineirão. Um conhecido tinha um galinheiro, cedeu a ave, então cuidadosamente colocada dentro de um saco.

No estádio, o bicho entrou em cena. "Mas não cantou não, viu? Só bateu as asas". E o time ganhou naquele dia?, pergunta o repórter. "Ganhou, sim".

Ao lado, Maria Aparecida se diverte com o caso e explica que era outro tempo, em que não havia a revista das pessoas, na entrada, como ocorre hoje.

Devota de Nossa Senhora Aparecida, a Vovó do Galo costuma rezar o terço no final das partidas. Na estante, sobre a TV, fica a imagem de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, de quem Maria Aparecida é devota. "Graças ao Galo estamos sempre juntos", revela a matriarca, que tem saúde de ferro. "Não tem pressão alta. Já visitou a Arena MRV e quer ir à inauguração em 2022", informa Marcelo.

Mas, para dar uma forcinha ao time, além das rezas, cada um tem seu jeito bem particular. "A gente só estreia uma camisa do Atlético se o adversário for fraco, pois a chance de ganhar é maior", conta Marcelo, que traz tatuado na panturrilha direita o retrato da avó emoldurado pela assinatura dela na carteira de identidade e pelo desenho do eletrocardiograma.

Com o canto direito do sofá reservado, Maria Aparecida, antes das partidas, arruma seus pertences, incluindo celular, no braço estofado. A gargalhada é geral quando ela se recorda que, num jogo difícil, pôs a culpa num chinelo solto no tapete – o pobre coitado estaria dando "peso".

Então é assim, com muita alegria dos 11 aos 101 anos, em quatro gerações, que a família de dona Ana Cândida celebra cada vitória do Galo. E a "torcida" se completa com a segunda filha dela, Ana Lúcia Marques de Oliveira Chiavaioli, o marido Nazzareno Chiavaioli e o filho, o dentista Gustavo Marques de Oliveira Chiavaioli; os irmãos Roberto Marques de Oliveira Júnior e Roberta Marques de Oliveira, e mais Bernardo Fernandes Marques, de 11, filho de Roberto e Nayara Marques. Todos ligados na mesma emoção e em perfeita sintonia atleticana.

Vovó do Galo nas redes sociais


Em tempos virtuais, a Vovó do Galo vive conectada graças à parceria com o neto Marcelo, atualmente em trabalho remoto.

Os dois estão no Instagram com 101 mil seguidores e no TikTok, com 700 mil, comemora o neto.

"Ela virou influenciadora digital. E gosta muito", brinca o engenheiro.

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