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Título do Atlético arranca a dor de 1977, diz Danival, vice-campeão invicto

Ex-volante, que fez 300 jogos pelo Galo, crê que conquista eleva autoestima dos que bateram na trave e festeja a história escrita pelo time do técnico Cuca

03/12/2021 12:00 / atualizado em 03/12/2021 09:25
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De bom chute e técnico, Danival era figura carimbada nas escalações do Galo durante os anos 1970
foto: Arquivo Estado de Minas - 27/09/1977

De bom chute e técnico, Danival era figura carimbada nas escalações do Galo durante os anos 1970

Desde que o Atlético terminou na segunda posição do Campeonato Brasileiro de 1977 invicto e dez pontos à frente do vencedor São Paulo, o ex-volante Danival de Oliveira carregou consigo uma dor pela derrota e um grito preso na garganta: o de campeão nacional. Agora, com o título do Galo na edição de 2021 da Série A, o histórico jogador alvinegro, enfim, liberta a sensação que o acompanhou por mais de quatro décadas.

 

O antigo camisa 8 recebeu o Superesportes em casa, em Belo Horizonte, e fez da ocasião a oportunidade perfeita para espantar as agruras da derrota nos pênaltis para o Tricolor.

"Agora, em 2021, voltamos a vibrar aquilo que perdemos em 1977. Isso arranca aquela dor que está dentro da gente há muito tempo. Esse título levanta a autoestima de todos nós que participamos de 1977", diz, do alto de seus 69 anos.

Danival fez exatos 300 jogos pelo Atlético, segundo as estatísticas oficiais do clube. Contra o São Paulo, estava no banco de reservas e não foi acionado por Barbatana, o técnico. Apesar disso, como um bom torcedor alvinegro, sentiu por muito tempo a frustração pelo vice-campeonato sem reveses.

Hoje, sentado em frente à televisão, vibra com os comandados de Cuca e se deliciou com os triunfos que levaram a equipe à conquista da taça.

"Arranca (a dor). É verdade. Esses jogadores que atuam no time de agora vão marcar uma história muito bonita no time do Atlético", festeja ele, com um sorriso no rosto.

Aquela foi a primeira das cinco vezes em que o Atlético "bateu na trave". Em 1980, novo vice-campeonato; depois, vieram 1999, 2012 e 2015. No ano passado, um duro terceiro lugar, a três pontos do campeão Flamengo. Na lista, ainda há traumas como os de 1994 e 2001, com doídas eliminações na fase semifinal.

"O Atlético, hoje, está bem servido. São jogadores de alto gabarito e nome, que estão vestindo a camisa do Atlético como vestiram os de 1971", afirma Danival, que tem propriedade para citar, na mesma frase, as duas equipes. Promovido das categorias de base no início da década de 1970, a cria atleticana participava dos treinamentos do escrete liderado por Dadá Maravilha, Lôla, Humberto Ramos e Oldair.

O bi na voz da Massa: torcedores do Galo falam sobre a emoção da conquista



Ao rememorar a dor causada por 1977, o histórico meio-campista justifica o sentimento que por tanto tempo o acompanhou. "Ficou marcado. Você encontra torcedor daquela época e os caras falam: 'me explica porque vocês perderam', mas não temos como explicar. Perdemos nos pênaltis. Não há explicação", conta.

"Marcou muito - e doeu muito na gente. Foi muito triste. Apesar de não ter entrado no jogo, é como se estivesse lá dentro", recupera.

Na disputa por pênaltis, o Galo errou três cobranças - com Toninho Cerezo, Joãozinho Paulista e Ziza. O São Paulo, mesmo tão atrás na primeira fase, faturou o troféu. E, embora não consiga explicar o desfecho do torneio, Danival sabe apontar o caminho que culminou na derrota.

"A diretoria do Atlético aceitou o regulamento porque não estava confiando no time que tinha na mão. Por isso perdemos o título de 1977. Se fosse por pontos corridos, o Atlético seria campeão", lamenta.

Orgulhoso, Danival exibe com prazer um álbum de antigas fotografias do Atlético - dado a ele por um fã cujo nome não se sabe. Mostra, ainda, um exemplar da versão 2020 do "Manto da Massa", entregue pela diretoria do clube - e faz questão de vestir. A camisa é personalizada e leva, às costas, seu nome e o número 8.

E, ao citar o trauma de 1977, lista alguns dos companheiros. "Apesar de o grupo ser muito jovem, a gente tinha condições. Marcelo, Reinaldo, Cerezo, Paulo Isidoro, ngelo, Heleno: era um grupo muito bom. E, como a diretoria não concordou com os pontos corridos, acabamos perdendo o título".

Danival mostra, com orgulho, as recordações dos tempos de Galo
foto: Guilherme Peixoto/EM/D.A Press

Danival mostra, com orgulho, as recordações dos tempos de Galo

Regulamento, esse velho obstáculo


A temporada do Atlético é perfeita. Tão perfeita que, além de ter conquistado o Brasileiro e estar na final da Copa do Brasil, a equipe deixou a Libertadores sem perder. Saiu da competição continental após dois empates - 0 a 0 e 1 a 1 - por causa da regra do gol fora de casa.

Danival enxerga certa semelhança entre os times de 1977 e 2021. Em comum, a necessidade de lidar com uma derrota imposta por um ponto das regras do torneio. O gol fora de casa nos certames da Conmebol, aliás, deixará de valer a partir de 2022.

"Tudo é o regulamento. O regulamento, às vezes, favorece um time e desfavorece outro", lastima. "São os mesmos jogadores. Quem tem de diferente é o Diego Costa. O regulamento, às vezes, prejudica bastante. Esse negócio de gol fora de casa favorecer o time que marcou... ou ganha no tempo normal ou ganha nos pênaltis. Isso prejudica muito", completa ele.

Todos os jogos da campanha de 2021


Lições dos experientes


Neste ano, garotos como o zagueiro Micael, o goleiro Matheus Mendes, o volante Neto e o atacante Savinho estiveram no grupo atleticano. Eles não tiveram tantos minutos em campo, mas puderam treinar ao lado de jogadores como Hulk, Nacho Fernández, Junior Alonso e Éverson.

A oportunidade de trabalhar com as feras de Telê em 1971 foi fundamental para moldar Danival, meio-campista conhecido por sua técnica e pelo bom chute. "A gente fazia os coletivos contra o time titular e, dificilmente, a gente perdia para eles. Nossa turma que subiu, quando fazia coletivo contra o profissional, era uma briga. Ninguém queria perder", lembra.

"Era uma briga, mas uma briga saudável. A gente tinha Marcelo, Campos, eu, Antenor, Getúlio, que veio depois, Paulinho, que chegou de fora, Ângelo, Zolini, goleiro. Tínhamos um plantel muito bom".

As primeiras oportunidades de Danival vieram em jogos do Campeonato Mineiro. Mesmo assim, dividia ambientes com os ídolos. "Na época, Telê levava 17 ou 18 jogadores para a concentração. Sobravam 15. Desses 15, tirava cinco para participar e ganhar metade do bicho, para motivar a gente nos treinamentos e continuar brigando por uma oportunidade no time".

Depois das três centenas de jogos e dos 59 gols anotados pelo Galo, que deixou em 1978, Danival rumou ao Vila Nova (GO). Antes, em 1972, depois da experiência ao lado dos campeões brasileiros, seguiu o roteiro trilhado por craques como Reinaldo, e passou um tempo emprestado ao Nacional (AM). Atuou, também, pela Portuguesa de Desportos (SP).

Agora, o camisa 8 espera ansioso a conclusão da Arena MRV. Entusiasta das categorias de base, crê que o novo estádio vai ser fundamental para as finanças atleticanas e, assim proporcionar mais investimentos na formação.

O Galo em 1977: Da esquerda p/ dir. Joao Leite, Márcio, Modesto, Toninho Cerezo, Alves e Vantuir. Agachados: Serginho, Danival, Reinaldo, Paulo Isidoro e Ziza
foto: Arquivo Estado de Minas - 23/10/1977

O Galo em 1977: Da esquerda p/ dir. Joao Leite, Márcio, Modesto, Toninho Cerezo, Alves e Vantuir. Agachados: Serginho, Danival, Reinaldo, Paulo Isidoro e Ziza



Elenco do Atlético no Brasileiro 2021

 


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