2

Atlético bicampeão brasileiro: 5 fatos que levaram o Galo ao título

Com defesa poderosa, forte capacidade de reação e sinergia impressionante com a torcida, time alvinegro findou jejum de 50 anos e conquistou a Série A

03/12/2021 11:00 / atualizado em 03/12/2021 09:24
compartilhe
Com Mineirão lotado nos jogos da reta final, Atlético não deu chance aos rivais
foto: Pedro Souza/Atlético

Com Mineirão lotado nos jogos da reta final, Atlético não deu chance aos rivais

Avassalador no ataque e irregular na defesa; impiedoso em casa, mas tímido longe de Belo Horizonte; com bons jogadores, mas carente de peças de reposição à altura. Por algum tempo, o torcedor do Atlético se acostumou a ver o time repetir esse roteiro em edições da Série A do Campeonato Brasileiro. Neste ano, porém, a história mudou: o Galo somou pontos importantes como visitante, foi ajudado, em partidas difíceis, por atletas que saíram do banco, e sofreu apenas 25 gols em 35 rodadas até aqui. A "nova cara" foi essencial para levar o time ao bicampeonato nacional após meio século.

A força mental também foi importante. Mesmo estreando com derrota no Mineirão e oscilando no início da competição, o Atlético teve o controle necessário para engatar séries invictas. Nem mesmo a eliminação para o Palmeiras na semifinal da Copa Libertadores foi capaz de tirar o time do prumo. Hulk, principal jogador da equipe, também foi decisivo. Resolveu partidas complicadas, marcou gols fundamentais e contagiou a torcida.

Em meio a esse cenário, a taça, enfim, foi conquistada. E o Superesportes listou cinco fatores essenciais para dar forma ao incontestável título alvinegro.

Ataques vencem partidas; defesas ganham campeonatos


O Galo terminou o 35º jogo, a vitória por 2 a 1 sobre o Fluminense, com apenas 25 gols sofridos - melhor número do campeonato, com ótima média de 0,71. O time não foi vazado em 16 partidas do Brasileirão.

Com Cuca, a equipe já mostrava evolução defensiva desde a parte inicial da temporada, quando o companheiro mais habitual do paraguaio Junior Alonso era Igor Rabello. A entrada de Nathan Silva, que estava emprestado ao Atlético-GO, porém, foi fundamental.

O cria da Cidade do Galo, estreou no triunfo por 2 a 1 sobre o Flamengo, na partida 10 do torneio, já como titular, e não saiu mais do time. Com ele em campo, o Atlético foi derrotado apenas duas vezes na Primeira Divisão.

Réver, um dos capitães do grupo, também foi importante. Fez bons jogos, sobretudo na reta final. Supriu com competência as ausências de Alonso por causa da Seleção Paraguaia. Menos exposto em relação ao visto com o argentino Jorge Sampaoli, o veterano de 36 anos não precisou apostar tantas corridas com atacantes mais jovens e velozes.

A proteção à zaga, aliás, foi garantida pela afinada dupla entre Allan e Jair. O camisa 29 foi titular durante toda a temporada; o número 8, porém, alternava entre o banco de reservas e a escalação inicial, mas se firmou no time a partir de agosto. Intensos, foram fundamentais recuperando bolas e preenchendo espaços. À frente, Matías Zaracho entregou tudo no ataque e na defesa e demonstrou ser inteligente como poucos.

Leitura tática, inclusive, não faltou a Mariano: até aqui, o Galo perdeu um jogo do Brasileiro que teve o lateral direito no 11 inicial. No gol, Everson viveu a melhor temporada da vida. Contribuiu com defesas importantes e passou segurança ao time. De quebra, cumpriu a função que encantava Sampaoli, responsável por indicar sua contratação em 2020: a construção das jogadas com os pés.

A solidez defensiva, entretanto, não pode ser resumida ao desempenho individual dos atletas. O sistema construído por Cuca atribuiu funções a todos - do goleiro ao centroavante - no processo de retomada da bola.

Intenso, o Atlético apostou nas perseguições individuais em boa parte da temporada, modelo bem diferente do que falhou sob comando de Sampaoli. Deu certo. Termina o ano campeão e com os melhores números defensivos do Brasil.

O bi na voz da Massa: torcedores do Galo falam sobre a emoção da conquista



Poder mental


Não é nada simples carregar um jejum de 50 anos nas costas. Para além disso, o investimento alto fez crescer a pressão por conquistas. Por vezes, a ansiedade da torcida tomou conta dos próprios jogadores.

Nesse contexto, Cuca teve papel fundamental. Afinal, o comandante se acostumou a findar filas: em 2016, conquistou o Brasileiro pelo Palmeiras, cujo último título na competição havia sido em 1994.

No Atlético, o peso era gigante. O treinador admitiu que chegou a ficar sem dormir por tanta ansiedade. Mas, na prática, conseguiu conter os próprios nervos e passou tranquilidade aos jogadores, que superaram os momentos mais difíceis.

Prova disso é o início irregular na competição. Os tropeços em casa criaram um ambiente de incertezas, especialmente após conquistar o Campeonato Mineiro sem um futebol convincente. Mas o Atlético conseguiu embalar.

Em setembro, outro momento decisivo na temporada. Em pleno Mineirão, o time foi eliminado pelo Palmeiras na semifinal da Copa Libertadores. Dias depois, usou toda a energia mental para não se abater e derrotar um crescente Internacional no Brasileiro.

A força psicológica também foi importante para o time nos jogos fora de casa. Ponto fraco em temporadas recentes, o desempenho como visitante é o segundo melhor entre as 20 equipes do Campeonato Brasileiro: em 17 partidas, são oito vitórias, cinco empates e quatro derrotas. Só o Flamengo, vice-líder, tem números melhores.

Todos os jogos da campanha de 2021



Elenco vasto


Hulk, Nacho Fernández, Diego Costa, Eduardo Vargas... Se em 2019 alguém dissesse que o Atlético de 2021 teria tantas estrelas internacionais no elenco, você acreditaria?

A torcida que se acostumou a incentivar times muito mais modestos parece viver um sonho nesta temporada. A partir das eliminações na Copa do Brasil e na Sul-Americana de 2020, o Atlético passou por uma grande reformulação no elenco com o auxílio financeiro dos 4 R's: os empresários Rubens Menin, Rafael Menin, Ricardo Guimarães e Renato Salvador.

O investimento crescente fortaleceu o grupo comandado por Cuca, um dos melhores do continente. Em cada posição, pelo menos dois jogadores de bom nível disputam a titularidade.

Ao longo da "maratona" que é o Campeonato Brasileiro, esse aspecto foi fundamental. Durante os períodos de Eliminatórias, por exemplo, o Atlético chegou a ficar sem jogadores importantes como Junior Alonso, Guilherme Arana, Savarino e Vargas. O elenco, porém, contava com Réver, Dodô, Keno, Diego Costa...

No banco de reservas, Cuca encontrou soluções - seja para substituir os convocados, seja para mudar o panorama de jogos. O meia Calebe e o atacante Eduardo Sasha, por exemplo, foram importantíssimos nesse sentido, contribuindo com gols e assistências entrando no decorrer de partidas.

Ao longo da competição, Cuca mandou a campo 33 jogadores. Os mais assíduos foram Everson (35 jogos), Hulk (33) e Allan (31). Porém, reservas como Tchê Tchê (30) e Guga (24) aparecem no "top 10". Numa temporada tão atípica e com tantos jogos, o elenco fez a diferença.

Elenco do Atlético no Brasileiro 2021


Hulk 'esmaga' e descomplica


"Venho para ser campeão". Horas depois de ser anunciado como reforço do Atlético, em janeiro, Hulk escreveu a frase que, de tão repetida, soa como clichê entre os jogadores de futebol. No dia a dia de trabalho na Cidade do Galo, porém, o camisa 7 alvinegro provou que era muito mais do que isso.

O início foi irregular. Com dificuldade de adaptação ao futebol brasileiro, Hulk demorou um pouco até se firmar como titular e estrela do time. Chegou até a criticar publicamente o técnico Cuca por não ter a quantidade de oportunidades que julgava merecer.

Resolvido o conflito, não saiu mais da equipe. Conquistou esse direito na bola. Aos 35 anos, demonstrou um vigor físico impressionante. Teve pouquíssimos problemas físicos e é até aqui o jogador com mais partidas disputadas do elenco ao lado do goleiro Everson, ambos com 64 (das 70 do time na temporada até aqui).

São 32 gols e 13 assistências - média de 0,7 participação direta por partida. É o artilheiro do Campeonato Brasileiro, com 17 tentos, e deve ser eleito o craque da competição. Decisivo como ninguém, conquistou rapidamente a torcida e se viu homenageado nas arquibancadas do Mineirão - seja com os gritos de 'Hulk, Hulk, Hulk', seja com bonecos ou rostos pintados de verde.

Em pouco tempo, tornou-se ídolo alvinegro. Para isso, inspirou-se em um deles: Reinaldo, figura histórica do clube que, por injustiça do destino, não deu ao Campeonato Brasileiro a honra de tê-lo como um de seus campeões. Ao marcar o gol do título contra o Fluminense, Hulk ergueu o punho cerrado e celebrou ao estilo do Rei. Símbolos eternos de duas gerações alvinegras.

A fortaleza do Mineirão


Os números falam por si: em 18 partidas como mandante no Brasileiro, o Atlético venceu 16, empatou uma e perdeu apenas uma. Dos 78 pontos do time na competição, 49 (quase 63% do total) foram conquistados em casa. O aproveitamento de 90,74% no Mineirão é um dos melhores da história da Série A.

A campanha até começou de uma forma irregular. Nos três primeiros jogos, uma vitória, um empate e uma derrota. Depois disso, impressionantes 15 vitórias consecutivas - recorde absoluto no Brasileirão de pontos corridos, formato adotado em 2003.

A expectativa pelo título e a excelente campanha em casa fizeram o Atlético lotar o Mineirão seguidas vezes durante a competição, em meio ao processo de reabertura dos estádios na pandemia de COVID-19. Na vitória por 2 a 0 sobre o Juventude, o clube bateu o recorde de público desde a reforma do Gigante da Pampulha, concluída em 2013.

Públicos do Atlético no Brasileirão:
  • Atlético 1 x 0 Internacional - 7.166 torcedores
  • Atlético 3 x 1 Ceará - 10.265 torcedores
  • Atlético 3 x 1 Santos - 16.514 torcedores
  • Atlético 2 x 1 Cuiabá - 30.501 torcedores
  • Atlético 2 x 1 Grêmio - 56.624 torcedores
  • Atlético 1 x 0 América - 60.142 torcedores
  • Atlético 3 x 0 Corinthians - 58.714 torcedores
  • Atlético 2 x 0 Juventude - 61.476 torcedores
  • Atlético 2 x 1 Fluminense - 59.896 torcedores

O Atlético é o time que mais leva público ao estádio no campeonato. Em média, 40.144 torcedores foram ao Mineirão nos nove jogos disputados desde a reabertura durante a pandemia.

Mas, para além dos números, a torcida foi fundamental emocionalmente na campanha alvinegra. Entre sorrisos de alegria e lágrimas de alívio, os atleticanos "trabalharam" para o time, como se acostumou a dizer Cuca. Com a proximidade da conquista, incentivaram os jogadores e os deram forças nos momentos de maior ansiedade. "A sintonia é legal. Mas também, né!? A gente ganhou 16 em casa, se eles me xingassem...", brincou o treinador.

Na reta final, deram-se o direito de festejar, como bem ensinou Beth Carvalho no mantra entoado nas arquibancadas. O grito de "é campeão" demorou a sair, mas foi ouvido nos jogos contra Juventude e Fluminense. A sintonia estava completa - e a festa pelo bicampeonato também.

Os públicos do Atlético no segundo título brasileiro


Compartilhe
DEPLOY_APP_TESTE [an error occurred while processing this directive] 2 2