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Ídolos não comparam, mas Dadá crava: Atlético atual é melhor que o de 1971

Superesportes buscou ex-jogadores e ex-dirigentes para saber se é possível estabelecer paralelos entre os times que renderam ao Galo o bicampeonato nacional

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Hulk e Dadá Maravilha foram os grandes protagonistas nas conquistas do Atlético de 2021 e 1971
foto: Pedro Souza / Atlético - Arquivo Estado de Minas

Hulk e Dadá Maravilha foram os grandes protagonistas nas conquistas do Atlético de 2021 e 1971


O Atlético de Hulk, Junior Alonso, Guilherme Arana e Nacho Fernández se igualou ao Galo de Dadá Maravilha, Oldair, Humberto Ramos e Tião ao conquistar, cinquenta anos depois, a Série A do Campeonato Brasileiro. Com as duas taças lado a lado na galeria da história alvinegra, surge o debate: o time de 2021 é superior ao de 1971? Em busca de respostas, o Superesportes foi atrás de ídolos e ex-dirigentes do clube.
 
 

O ex-atacante Dario, o "Peito de Aço", tem a solução dessa "problemática'', e, na disputa entre 1971 e 2021, reconhece a equipe atual como a mais qualificada. Outros, porém, evitam escolher um lado e apontam as diferenças entre épocas para justificar o melhor futebol apresentado.

"É uma pergunta muito difícil, mas posso dizer que o time de hoje do Atlético tem um futebol mais clássico, mais vistoso. O meu foi mais na raça e na vontade. A torcida teve um papel fundamental naquela época. Tinha jogo que não estávamos fazendo nada e a torcida gritava meu nome, eu ficava doido. Este time é mais amor, mais calmo, e tecnicamente melhor que o meu. Mas os dois chegaram no mesmo denominador, que é, com muita raça, chegar ao título", diz Dadá, que "parou no ar" para garantir ao Galo a taça de 1971, na derradeira vitória por 1 a 0 contra o Botafogo.

Há cinquenta anos, o escrete do técnico Telê Santana tinha Renato; Humberto Monteiro, Grapete, Vantuir e Oldair; Wanderley Paiva e Humberto Ramos; Ronaldo, Lola, Dario e Tião. 

Cuca, atualmente, varia o time a cada rodada, mas conta com base formada por Everson; Mariano, Nathan Silva, Junior Alonso e Guilherme Arana; Allan, Jair, Zaracho e Nacho Fernández; Keno e Hulk.

O ex-lateral Paulo Roberto Prestes compõe o grupo que não consegue escolher entre 1971 e 2021. Quinto atleta com mais partidas pelo Galo (504), empatado com o ex-goleiro Kafunga, ele acredita que a maior evolução atleticana está nas arquibancadas.

"Difícil mensurar qual o melhor time, até porque são épocas muito distintas. A diferença é que agora nossa torcida está mais fanática pela expectativa de 50 anos de espera", afirma Prestes.

Quem também enxerga dificuldades em estabelecer paralelos entre as escalações é Sérgio Araújo, atacante hexacampeão estadual e vencedor da primeira Copa Conmebol atleticana, em 1992.

"São gerações diferentes. (O time de) 1971 foi uma equipe que conquistou o título. Muito forte, com grandes jogadores. A equipe de 2021 também demonstrou todas as condições de conseguir o título, com grandes jogadores, que fizeram a diferença. É difícil comparar. São gerações diferentes. A geração de 1971 foi brilhante. A de 2021, também", comenta.

Lôla e Zaracho: alegria da Massa pelas beiradas

Em 1971, era corriqueiro jovens treinarem com os profissionais para 'amaciarem' suas chuteiras. Danival, que vestiria a camisa alvinegra por 300 jogos, entre 1971 e 1979, foi um dos que cumpriu esse papel. Ele também se esquiva de comparações coletivas, mas garante que o argentino Matías Zaracho o faz lembrar de Lôla, ponta pela esquerda no 11 inicial de Telê Santana.

"Comparo Zaracho ao Lôla, e ainda acho o Lôla mais jogador. (Zaracho), além de servir bem as jogadas, no esquema tático do Cuca, facilita muito para os outros. É o caso do Hulk, de mais explosão, bom chute e aproveitamento melhor no ataque. Zaracho, quando pega a bola, está sempre tocando nos espaços vazios, para que os atacantes possam chegar à cara do gol", comenta Danival, lembrando dos passes de Lôla em direção a Dadá.

Lembranças da infância afetam dirigentes


A reportagem conversou, também, com os ex-presidentes do Atlético Alexandre Kalil e Sérgio Sette Câmara. Participou, ainda, Lásaro Cândido, ex-vice-presidente do clube. Para o atual prefeito de Belo Horizonte, as duas equipes têm igual peso na história atleticana. 

"No futebol não tem 'melhor'. Em uma diferença de quase 50 anos, não há melhor. Não há como comparar um time que jogava em uma velocidade e corria tantos quilômetros pelo outro. O importante é que os dois times entraram definitivamente para a história do Atlético. Então, historicamente, não se fala que Dom Pedro I, o Imperador, foi melhor ou pior que Juscelino Kubitschek de Oliveira. Cada um em seu tempo", diz.

Kalil, no entanto, admite que uma espécie de memória "infantil" sobre os anos 1970 o afeta.

"Eu sou suspeito para falar, porque o Buião, antes um pouco, e o Dario, foram meus grandes ídolos. Eu sou suspeito para falar porque eu tenho um encanto infantil pelo Dario. Isso é encanto infantil. Então, eu não posso colocar em uma balança, com 62 anos de idade, e julgar hoje, se eu tenho uma lembrança da minha infância com o Dario", afirmou Kalil.

Na visão de Sette Câmara, os dois times se assemelham pelo estilo dos treinadores. 

"Acho complicado comparar épocas tão distintas. Era muito criança ainda em 1971, mas assisti ao jogo final. O Galo tinha um excelente time e nos deu uma alegria enorme naquele primeiro Brasileiro. Estamos falando de Telê Santana e Cuca, dois treinadores que privilegiam o futebol bem jogado, o toque de bola e o gol", analisa o ex-presidente.

Lásaro, por outro lado, ressalta a força do time de 1971, mas faz questão de mencionar a força do grupo deste ano.

"Não assisti no campo ao Galo de 1971. Morava no interior, mas por tudo que acompanhei, era um time, não um elenco tão forte. Já no atual, de 2021, temos um elenco, com vários jogando muito. De todos os times do Galo, voto no de 1977, com Reinaldo. O maior de todos", afirma o ex-presidente.

Na torcida, o sentimento de memória afetiva citado por Kalil também é evidente. Muitos atleticanos cresceram com pais e avôs relembrando, por exemplo, a narração de Vilibaldo Alves, da rádio "Itatiaia", para o gol decisivo de Dario.

O aposentado Márcio Reis, de 67 anos, se recorda de chegar ao Mineirão para o duelo contra o São Paulo, último jogo antes da partida contra o Botafogo, instantes antes de Oldair, ex-lateral-esquerdo do Galo, marcar de falta. Apesar disso, tende a escolher o time deste ano. 'Posição por posição, os jogadores são melhores", opina o torcedor.

"O futebol, antigamente, era diferente. Hoje se joga com dois ou três volantes; antigamente, se jogava só com um. O futebol era mais técnico; hoje, é mais força", completa o atleticano. "No mano a mano, o time de 2021 é muito melhor que o de 1971. É um time mais compacto,  que se exige no futebol de hoje. Antigamente era mais 'light', com mais toque de bola", encerra Márcio Reis. 

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