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Do Afogados ao bi: como o Atlético mudou gestão para ser campeão brasileiro

Eliminações traumáticas em 2020 fizeram clube mudar rumos e apostar em um modelo administrativo com auxílio diário do grupo de empresários intitulado '4 R's'

03/12/2021 12:00 / atualizado em 03/12/2021 09:26
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Empresários Rafael Menin, Renato Salvador, Rubens Menin e Ricardo Guimarães formam os
foto: Reprodução

Empresários Rafael Menin, Renato Salvador, Rubens Menin e Ricardo Guimarães formam os "4 R's" do Atlético

No final de fevereiro de 2020, Sérgio Sette Câmara chamou Rubens Menin para uma reunião. O então presidente do Atlético estava preocupado. Afinal, iniciara o último ano do seu mandato de forma traumática. Em campo, o time tinha sido eliminado precocemente da Sul-Americana para o Unión e da Copa do Brasil para o modesto Afogados da Ingazeira. O encontro com o megaempresário era quase um pedido de socorro. Menos de dois anos depois, aquele time pouco competitivo deu lugar ao estrelado elenco bicampeão brasileiro.

A resposta ao pedido de ajuda veio de forma incisiva. Não foi apenas Rubens Menin que passou a fazer ainda mais parte da estrutura administrativa. Financiador de longa data do clube alvinegro, o dono da MRV Engenharia foi acompanhado do filho Rafael Menin e dos também empresários Ricardo Guimarães (Banco Bmg) e Renato Salvador (Rede Mater Dei).

Juntos, o quarteto forma o grupo intitulado "4 R's". Ao longo de 2020, foram parte ativa na reformulação do grupo de jogadores, processo comandado pelo então diretor de futebol Alexandre Mattos. Em pouco tempo, saíram 19 jogadores e chegaram 11 - vários deles com auxílio financeiro dos empresários. Tudo isso passou, também, pelo aval do novo técnico, Jorge Sampaoli. A aposta era salvar o ano do time e iniciar a construção de um grupo poderoso para os anos seguintes.

Rapidamente, o comandante argentino conseguiu formar um time competitivo. Porém, os altos e baixos ao longo do Campeonato Brasileiro impediu a conquista do título. O Galo terminou na terceira colocação, com 68 pontos - a apenas três do campeão Flamengo. O sonho foi adiado, mas as esperanças aumentaram.

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Mudança de comando

Em dezembro de 2020, Sérgio Sette Câmara deu lugar a Sérgio Coelho na presidência do Atlético. O recém-eleito mandatário foi indicado ao pleito justamente pelos 4 R's, que passaram a fazer oficialmente parte da estrutura administrativa alvinegra. Era formado o órgão colegiado, composto pelos empresários, o presidente e o vice José Murilo Procópio.

Esse passou a ser o fórum de discussão a respeito de todos os assuntos importantes ligados ao clube. A primeira mudança foi demitir Alexandre Mattos e substituí-lo por Rodrigo Caetano, reponsável por fechar algumas das principais contratações da temporada. No comando técnico, Sampaoli - que rumou para a Europa - deu lugar a um velho conhecido: Cuca, campeão da Copa Libertadores de 2013 pelo Atlético.

Em meio ao sufoco financeiro, o Atlético continuou contratando muito. Depois de reforçar bastante o time na temporada 2020, o clube passou a buscar reforços pontuais de acordo com carências identificadas no elenco. Nesse processo, chegou a acordos com estrelas internacionais, como o meia Nacho Fernández e os atacantes Diego Costa e Hulk. Foi o grande salto de qualidade necessário para rivalizar contra os ricos Flamengo e Palmeiras.

As aquisições ao elenco também tiveram, é claro, as participações financeiras dos empresários. Administrativamente, Renato Salvador e Rafael Menin são os mais próximos da diretoria de futebol e chegam, inclusive, a participar de negociações.

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Gestão de dívidas

Na nova gestão, as mudanças não ficaram restritas ao planejamento do futebol. Os empresários têm voz na composição do organograma do clube e chegaram a indicar - e aprovar - nomes contratados para setores estratégicos. Mas a principal ação do grupo foi no trato com a dívida bilionária do Atlético.

Em abril, o clube realizou o "Galo Business Day", evento em que detalhou o tamanho do rombo nos cofres alvinegros e traçou metas para reduzí-lo consideravelmente em cinco anos. Na ocasião, a dívida era de R$ 1,209 bilhão - valor que aumentou ligeiramente nos meses seguintes. O plano é que o total caia para R$ 341 milhões até 2026.

Enquanto ainda não consegue efetivamente reduzir o montante, o Atlético conta com os empresários - em especial Rubens Menin - para mudar o perfil da dívida. Ao fim do primeiro semestre de 2021, o valor oscilou 2,8% para cima. Somados, os passivos circulante (R$ 487,532 milhões) e não circulante (R$ 862,818 milhões) do clube passaram a totalizar R$ 1,350,350 bilhão

O ponto mais positivo, porém, foi a redução do passivo circulante (as dívidas com prazo de até 12 meses para pagar, que efetivamente "sufocam" o caixa alvinegro): de R$ 608,202 milhões no segundo semestre de 2020 para R$ 487,532 milhões no primeiro de 2021. O "fôlego" só foi possível porque Menin empresta dinheiro sem juros para que o clube pague as dívidas mais urgentes com terceiros e estabelece prazos folgados para receber o dinheiro de volta.

A mudança no perfil da dívida é o primeiro passo adotado pelo Atlético para lidar com um passivo tão grande. Simultaneamente, o clube tenta encontrar soluções para lucrar mais e, eventualmente, andar com as próprias pernas em um futuro próximo. Por enquanto, porém, o clube depende dos empresários para arcar com folhas salariais, premiações e pendências na Fifa, por exemplo.

"A dívida do Atlético com a família Menin é uma dívida em que o Atlético não paga juros, nem correção monetária, e nem tem um prazo pré-fixado para ser pago, independentemente se o dinheiro que veio através deles foi para pagar uma folha de pagamento ou se foi para comprar um jogador", detalhou o presidente Sérgio Coelho, em entrevista ao Superesportes em março. Em outro momento, o mandatário chegou a dizer que o Galo estaria na Série B não fossem os mecenas.

O caminho seguido, porém, foi bem diferente. Com um futuro incerto em função das elevadas dívidas e da alta dependência dos empresários, o Atlético tenta se aprumar para os anos seguintes. E as conquistas - como esta histórica do Campeonato Brasileiro - podem ser parte do caminho.

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