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MINEIRÃO 50 ANOS

No jogo político, vitória do Colosso

postado em 30/08/2015 11:00 / atualizado em 30/08/2015 13:26

 Arquivo EM/D.A Press
Entre a assinatura da lei que criou o Estádio Minas Gerais, de 12 de agosto de 1959, e a inauguração do estádio, em 5 setembro de 1965, Minas Gerais teve dois governadores e o país passou do regime democrático ao militar. Nesse ínterim, as intensas disputas entre União Democrática Nacional (UDN) e o Partido Social Democrático (PSD) quase emperraram o andamento das obras do Colosso da Pampulha – que viria a ser um dos primeiros dos cerca de 50 estádios inaugurados ou ampliados durante os anos de chumbo (1964-1984).

O estádio recebeu o nome de Governador Magalhães Pinto (foto), líder da UDN, que assumiu o governo em 1961 e se empenhou na reta final da construção, embora tenha se manifestado contrário ao empreendimento no início de seu governo. A falta de entusiasmo do udenista tinha motivações políticas, já que a lei que criava o estádio, apresentada pelo então deputado Jorge Carone, havia sido assinada pelo antecessor, José Francisco Bias Fortes, líder do PSD. Também foi Bias Fortes – que recebeu da crônica esportiva mineira o título de “Governo dos Esportes” – quem designou o engenheiro Gil César Moreira de Abreu administrador do estádio e, em 21 de dezembro de 1959, nomeou o primeiro conselho de administração, sob a presidência de Carone. Além disso, o então presidente Juscelino Kubitschek, também pessedista, foi quem assinou, em 25 de fevereiro de 1960, o convênio de comodato com a Universidade Federal de Minas Gerais, liberando o terreno de 300 mil m² do futuro estádio. JK também foi o primeiro a se mostrar favorável à construção, quando ainda governador mineiro.

Magalhães vinha de embate acalorado com Tancredo Neves (PSD) pelo governo estadual e não estava disposto a entregar láureas a arquirrivais. Chegou a criar comissão para avaliar gastos do governo, logo entendida como possível pá de cal no projeto. “Quando Magalhães Pinto (UDN) assumiu o cargo de governador, havia um clima de revanchismo contra o governo anterior (PSD). A diretoria de Esportes foi o órgão mais visado e o estádio ficou sob suspeita”, relata o livro Mineirão, o maior gol de Minas, de José Flávio Dias Vieira e Afonso Celso Raso.

Entretanto, dois fatos em 1963 levariam Magalhães a abandonar a ideia de parar a obra. Primeiro, um parecer do engenheiro Luiz Pinto Coelho, que havia sido escolhido pelo governador para presidir o Conselho de Administração do Estádio Minas Gerais, apresentou argumentos fortes para que não se desistisse da arena. Segundo, o futebol mineiro estava em festa com o título do Brasileiro de Seleções, competição tradicional na era pré-Brasileiro, quebrando hegemonia de três décadas do eixo Rio-São Paulo.

Em busca de surfar na popularidade do futebol para emplacar o sucessor e se lançar candidato à presidência – pretensões frustradas com o golpe militar, em março de 1964 –, Magalhães, enfim, se convenceu de que o estádio era boa ideia. Na reta final das obras, o local virou vitrine do governo, atraindo visitas ilustres de autoridades e personalidades, todas saindo impressionadas pela pujança do empreendimento, que também não passou incólume da inveja de federações de outros estados. Acreditavam que aquele enorme esqueleto de concreto se tornaria um elefante branco.

Trégua política

O projeto do Mineirão expôs rivalidades, mas também representou tréguas temporárias, como entre o deputado Jorge Carone, que viria a ser prefeito da capital e se empenhou bastante para obter a concessão do terreno da UFMG, e Magalhães Pinto. Outro momento de trégua entre pessedistas e udenistas foi depois da saída de Magalhães do governo – frustrado por não ter conseguido emplacar o sucessor. Eleito governador, Israel Pinheiro foi quem assinou o decreto-lei que atribuía ao Mineirão o nome do rival político, além de honrar os compromissos financeiros herdados.

As décadas dos elefantes brancos


A profecia de o Mineirão se tornar um elefante branco não se confirmou, ao contrário de muitos dos cerca de 50 estádios inaugurados durante o regime militar, especialmente no governo Garrastazu Médici (1969 a 1975), que viu no futebol uma oportunidade de pôr em prática seu discurso de integração nacional. Com o apelido no aumentativo consagrado pelos locutores de rádio, o estádio foi o primeiro da era dos “ãos”, gigantes de concreto inaugurados pelo país – como Batistão, em Aracaju (inaugurado em 1969); Vivaldão, em Manaus (1970); Morenão, em Campo Grande (1971); Machadão, em Natal (1972); Castelão, em Fortaleza (1973); Albertão, em Teresina (1973); Almeidão, em João Pessoa (1975); além de dezenas em outras capitais e no interior do Brasil. Alguns projetos megalomaníacos não chegaram a se concretizar, como o Pinheirão, em Curitiba, inaugurado somente em 1975, que tinha a ambição de ser o segundo maior estádio do mundo, mas acabou entregue com capacidade bem inferior.

A conquista que mexeu com Minas


A conquista do Campeonato Brasileiro de Seleções, em 1963, mexeu com o brio dos torcedores mineiros, que receberam os campeões com direito a festa e desfile em carro aberto. Isso porque a vitória quebrava hegemonia de três décadas de paulistas e fluminenses. Na decisão, o time comandado por Mário Celso de Abreu, o Marão, venceu a Seleção da Guanabara por 2 a 1, em pleno Maracanã. O rival tinha uma geração vitoriosa, com Castilho, Zózimo, Joel, Dida, Escurinho e Gérson, ainda jovem armador canhoto do Flamengo. Dida abriu o placar, mas os mineiros viraram com Luiz Carlos e Marco Antônio. A vitória jogou holofotes sobre o futebol mineiro. A equipe campeã: Marcial; Massinha, William, Procópio e Geraldino; Ílton Chaves e Amauri; Luiz Carlos, Rossi, Marco Antônio e Ari.

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