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DA ARQUIBANCADA

Eu te amo, velha senhora!

postado em 31/08/2015 08:39 / atualizado em 31/08/2015 08:41

CELSO BIRRO / EM DA PRESS
“Ah, Mineirão, agora você é uma velha senhora, e andamos de mãos dadas no salão de festas sem nos preocupar com a vaidade e a inveja de terceiros”

Ah, meu velho Mineirão... Você parece aquela mulher que por anos e anos, linda e burra, só tripudiou da gente, corno manso e saco de todas as pancadas. Aí, quando nós lhe demos as costas, você voltou arrependida e rastejante, Adelino Moreira na voz da Bethânia: “Diga que já não me quer! Negue que me pertenceu, que eu mostro a boca molhada e ainda marcada por um beijo seu”.

E a gente voltou, porque homem é burro. E você cumpriu sua promessa, porque não vive sem a gente. E então, numa noite mágica – a madrugada do dia 25 de julho de 2013, data que eu tatuei no braço, mas nem precisava, porque já tá na alma –, você começou a devolver com juros e correção todos os chifres do passado. Sua traíra!

Ah, Mineirão, agora você é uma velha senhora, e andamos de mãos dadas no salão de festas sem nos preocupar com a vaidade e a inveja de terceiros. Finalmente você caiu na real e entendeu o recado: você é nosso, tem que respeitar. Pois é, hoje tá tudo certo – mas permita-me falar do passado sem meias palavras.

Mineirão, sua puta, você me roubou o título de 77! A bola entrou em 85, sua ladra dos meus sonhos de juventude! Por que não deu um carrinho por trás no Renato Gaúcho quando ele escapou sozinho em 87? Era o jogo da vingança, sua desgraçada, e foi você que se vingou de mim. Porque embora o imortal Sempre tenha escolhido o lado do sol pra abrigar a Massa, você virou casaca, se escondendo nas sombras e se mancomunando com o lado azul da Força, com os Darth Vader do Tibete Azul.

Então veio você, com o peito caído e os pés de galinha, pedir arrego. E puxou a perna do Ferreyra e rebaixou a trave um pouquinho quando o Baggio paraguaio bateu o pênalti. E parou o tempo no jogo contra o Corinthians e repetiu a dose contra o Flamengaço classificadaço. Nesse momento, meu coração carcomido voltou pra você, junto com aquele tesão proporcionado pelas bolas que penetravam sua gruta sem nenhum pudor.

E assim eu te perdoei de tudo, passei todos os meus bens pro seu nome, fiz conta conjunta, te dei o meu cartão de crédito pra você gastar como quiser. Ah, Mineirão, eu te amo demais! Nós fomos feitos um pro outro, pode crer. E assim será, até que o estádio do Galo, com seus apelos de novinha do funk, nos separe para sempre. Amém.