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MINEIRÃO 50 ANOS

Funcionários recordam jogos memoráveis e revelam rotina nos bastidores do Mineirão

'Memória viva', gerente de operações e 'voz do Mineirão': conheça os personagens que trabalham duro para fazer o espetáculo acontecer

postado em 02/09/2015 08:00 / atualizado em 02/09/2015 09:59

Arquivo EM

A história dos grandes estádios geralmente é contada com enfoque naqueles que são considerados seus protagonistas. Com o Mineirão não é diferente. A memória coletiva costuma ser bastante generosa com jogadores, técnicos, árbitros e a própria torcida. Enquanto atletas e treinadores fazem do gramado seu palco, juízes são transformados em vilões e torcedores dão o tom à atmosfera, há aqueles que ficam fora de cena durante o espetáculo. Esses personagens não ocupam as páginas mais conhecidas dessa narrativa, mas desempenham papéis fundamentais na regência do Gigante da Pampulha.

Funcionário do Mineirão desde sua fundação, José França é a memória viva dessa história. Nascido na zona rural de Papagaios-MG, foi contratado no dia 9 de março de 1961 para ser chefe de escritório da obra no estádio. Era responsável pela contratação de operários a engenheiros para uma construção que não parava. A partir de 1962, 3 mil operários se revezavam em dois turnos, 2 mil diurnos e mil noturnos, em uma rotina de trabalho de 24 horas.

“Era uma gente muito simples que trabalhou na obra do Mineirão. Construímos esse gigante praticamente sem máquinas. Naquela época, os operários trabalhavam sem proteção, mas tenho orgulho de falar que não tivemos nenhuma baixa e nenhum operário mutilado”, recorda.

Os 76 anos de José França se confundem com os 50 do Gigante da Pampulha, já que boa parte do acervo do estádio foi produzida pelo funcionário. Após a inauguração da obra, em 1965, se tornou gerente de operações, escrevendo a maquina as súmulas de todos os jogos realizados no Velho Mineirão. O grande volume de trabalho naquele período impede o funcionário de apontar com veemência aquela que considera a partida mais marcante realizada no estádio.

“Não tinha muita oportunidade de ver os jogos, porque trabalhava muito. Então, posso dizer que todos foram marcantes para mim (risos). Eu tinha um estádio para fazer, eram 14 portões, mulheres, crianças e autoridades não pagavam. Trabalhávamos muito para definir publico não pagante, não tínhamos computador. Mas lembro bastante da vitória do Cruzeiro por 6 a 2 contra o Santos, em 1966, com Pelé e tudo, pela Taça Brasil. Para mim, era muito marcante saber que um rapazinho do interior estava vendo aquele gigante lotado”.

Atualmente, José França atende aqueles que visitam o Museu Brasileiro do Futebol (MBF), no Mineirão. O funcionário é o primeiro a receber as pessoas no local e brinca sobre sua função: “A primeira impressão é a que fica”. Ele trabalha de terça a sábado cuidando do legado que ajudou a construir.

“A minha faculdade foi a do mundo, a experiência me educou e aprendi a lidar com todo naipe de gente. Não consegui me formar em um nível superior, mas tenho que agradecer a tudo que tenho aqui”, concluiu.

Edésio Ferreira/EM/D. A press


Gerente de operações


Severiano Braga começou a trabalhar no Mineirão em outubro de 2011. O engenheiro civil de 50 anos acompanhou as etapas de reforma do Gigante da Pampulha. Viu de perto a transformação do tradicional estádio em uma moderna arena para a Copa do Mundo de 2014. No momento, participa de praticamente toda a rotina do Mineirão. Seu principal desafio é deixar o complexo em condições de receber de partidas de futebol a eventos empresariais.

“Na gerencia de Operações, participamos praticamente de todo dia a dia do estádio. Das equipes de limpeza, manutenção civil, hospitalidade, acessos, alimentação e bebida até o campo de futebol, além de termos um contato direto com os clubes, FMF e outros responsáveis pelas partidas de futebol”, disse.

Ao contar sobre a sua relação com o Mineirão, Severiano se orgulha da reforma ter sido entregue sem um dia sequer de atraso. O engenheiro ainda destaca a importância do zelo diário em relação ao gramado como fator importante na administração do Gigante da Pampulha: “não é somente podar e irrigar”. O funcionário acredita que os frutos desse trabalho, que demanda cuidado com adubação, pulverização e outros tratamentos, foram colhidos em todas as partidas recebidas pela arena.

“Todos os jogos têm sua particularidade. O amistoso Brasil e Chile, em 2013, foi marcante, pois estávamos em preparação para as copas das Confederações e do Mundo. As finais de Libertadores e da Copa do Brasil foram trabalhos muito intensos. Teve também a final da Recopa, logo após a Copa do Mundo, os grandes jogos de casa cheia do Cruzeiro, nas fantásticas campanhas do clube em 2013 e 2014, não podemos esquecer do Brasil e Alemanha, na Copa do Mundo, e também dos outros jogos desse evento que foi tão marcante para o estádio”, frisou.

A voz do Mineirão


“Minas Arena informa”, é o que ecoa no sistema de som do Gigante da Pampulha antes de serem comunicados os públicos e renda das partidas. A voz que sai dos auto-falantes pertence à jornalista Pollyanna Andrade, de 35 anos, 16 dedicados à locução. Desempenha a função desde abril de 1999, quando participou da rodada dupla na abertura do Campeonato Mineiro. Naquela ocasião, participou do 0 a 0 entre Atlético e Caldense, e na vitória do Cruzeiro por 1 a 0 diante do Valeriodoce.
Arquivo pessoal


“O presidente da ADEMG da época resolveu inovar e colocou uma voz feminina para a locução. O convite foi feito para a minha irmã, mas ela não aceitou por trabalhar durante a noite. Ela me indicou. Estudava jornalismo, sempre gostei de futebol e sonhava em trabalhar na área. Foi uma grande oportunidade”.

Supervisora na Ouvidoria da Minas Arena, Pollyanna diz que costuma ser reconhecida pelos torcedores. A voz a entrega: “As pessoas não sabem meu nome, me chamavam de ‘Ademg informa’”, brinca se referindo à época em que o Mineirão era administrado pela iniciativa pública.

As lembranças da locutora guardam outros momentos curiosos, como a substituição de um árbitro por lesão e o desafio comunicar a morte da mãe de um torcedor: “Pedi para o torcedor entrar em contato com o pai que ele tinha algo importante para falar”. Em relação aos jogos mais marcantes que presenciou no estádio, apresenta uma coleção de partidas memoráveis.

“Difícil escolher um só. O primeiro que me marcou foi Cruzeiro e São Paulo em 2000, pela Copa do Brasil. Teve também a final da Libertadores de 2013, decidida nos pênaltis. E o 7 a 1 da Alemanha, que assisti como espectadora, não estava trabalhando na locução durante a Copa do Mundo. Foram vários ao longo dos anos”, conclui.

Tags: funcionários mineirão jogos memoráveis rotina bastidores estádio severiano frança Pollyanna Andrade