Era noite de quarta-feira na Marginal Pinheiros. Em meio aos veículos enfileirados na avenida - uma das mais movimentadas da cidade de São Paulo -, um galho de uma árvore subitamente cai em um dos carros. Dentro estava Larissa Oliveira. Ela foi atingida de raspão na coxa esquerda e teve de ser levada às pressas à cama de cirurgia. Aquele seria o início de um drama para a nadadora, com 24 anos à época.

Naquele momento, a mineira de Juiz de Fora escutou dos médicos que precisaria de dois meses para se recuperar. Mas o prazo real foi maior. Bem maior. Depois de 111 dias sem treinar, Larissa, enfim, recebeu alta e foi liberada para voltar para as piscinas. "Foi uma fase da minha vida bem difícil. Tive azar, mas também tive muita sorte. Sem chover, uma árvore podre quebra e cai no meu carro. É muito azar. Mas tive sorte por ter saído viva", conta, em entrevista ao Superesportes.

Ali a vida e a carreira da atleta mudaram. De volta às águas - ambiente que frequenta desde os dois anos, quando aprendeu a nadar -, Larissa superou os fantasmas para chegar ao auge. Apenas dois anos depois do acidente, ela fez história: conquistou sete medalhas nos Jogos Pan-Americanos de Lima (recorde entre brasileiros), em 2019, e igualou a ginasta Daniele Hypolito como a atleta do país com mais pódios na competição. Agora, vive o sonho de disputar a segunda Olimpíada (esteve no Rio de Janeiro, em 2016).

"Acho que é resiliência. Era a hora de botar para fora tudo o que o esporte tinha me ensinado até ali. Essa vontade de viver e a resiliência que tenho me fizeram forte, superar tudo e chegar ao Pan e aqui a Tóquio", contou. O acidente fez Larissa, agora com 28 anos, pegar ainda mais gosto pela vida. Por isso, cada momento é para desfrutar - fora ou dentro das piscinas.

"A Larissa fora das piscinas gosta muito de aproveitar a vida. O Rio, onde moro agora, tem me proporcionado mais esse prazer de viver. Sou apaixonada por praia, então tenho ido bastante, pois me tranquiliza. Acho que ter personalidade forte e ao mesmo tempo gostar muito de viver me ajudam na piscina, porque é muito rápido e é muito único o nosso momento de competição. Eu tento trazer essa vontade de viver ali na hora de competir, de aproveitar ao máximo a prova", prosseguiu a atleta do Flamengo.

Dos 26 representantes brasileiros da natação, Larissa é quem vai disputar mais provas. São quatro: 100m livre, 4x100m medley misto, 4x200m livre e 4x100m livre - nesta última, terminou na 12ª colocação. "Então, estou muito animada, estou muito empolgada, já contando os dias para cair na água de novo. Estou muito feliz por estar aqui, é um privilégio para poucos. Então, estou aproveitando muito", comemorou.

A juiz-forana vai duas vezes à piscina nesta quarta-feira. A primeira é às 7h09, para os 100m livre. A segunda está marcada para 8h21, no revezamento 4x200m. Com vontade de viver e aproveitando cada segundo debaixo d'água.

A natação de Minas Gerais ainda conta com o belo-horizontino Vinicius Lanza, de 24 anos, nos Jogos Olímpicos de Tóquio. O atleta do Minas Tênis Clube vai nadar os 200m medley nesta quarta-feira, a partir das 7h54.