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Bruno Fratus finda angústia pelo pódio olímpico e leva bronze nos 50m livre

Da depressão à medalha, atleta do Minas Tênis Clube brilhou na prova mais rápida da modalidade e pôs fim à espera pela consagração nos Jogos Olímpicos

31/07/2021 22:24 / atualizado em 31/07/2021 23:42
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Bruno Fratus com a sua sonhada medalha
foto: Attila KISBENEDEK / AFP

Bruno Fratus com a sua sonhada medalha



A vida de Bruno Fratus nunca mais foi a mesma depois do sexto lugar nos 50m livre nos Jogos do Rio de Janeiro, em 2016. A decepção por ficar fora do pódio em casa, quando era líder mundial do ranking, deu início a um quadro de depressão. Foi quando buscou ajuda profissional e contou com o apoio irrestrito da esposa, Michelle Lenhardt. E o processo valeu a pena: na noite deste sábado (manhã de domingo no Japão), o nadador enfim conseguiu a consagração olímpica com a conquista da medalha de bronze em Tóquio. Mas, mais importante que isso, voltou a sorrir.

Aos 32 anos, o atleta do Minas Tênis Clube estava leve e muito menos pressionado do que quando competiu em casa. O nadador percorreu os 50m da piscina do Tokyo Aquatics Centre em 21s57. O ouro ficou com a estrela da natação estadunidense Caeleb Dressel (21s07). A prata foi do francês Florent Manadou (21s55), campeão olímpico no Rio de Janeiro.

Fotos do bronze de Bruno Fratus nos 50m livre


Fratus havia se classificado para a final da prova mais rápida da natação com o terceiro melhor tempo (21s61), atrás apenas da estrela de Caeleb Dressel (21s53) e de Manadou (21s53).
Bruno Fratus, do Minas, percorreu os 50m da piscina do Tokyo Aquatics Centre em 21s57
foto: Odd ANDERSEN / AFP

Bruno Fratus, do Minas, percorreu os 50m da piscina do Tokyo Aquatics Centre em 21s57


Logo depois da prova, Fratus atendeu a reportagem na zona mista e fez questão de citar o Minas, seu clube, e vários nadadores que abriram o caminho para a medalha dele em Tóquio.

"Publicamente, queria agradecer a dois caras. O primeiro é o Cesar (Cielo), que falou que era possível há alguns anos. No começo da minha carreira se eu não tivesse tido a oportunidade de treinar e competir ao lado dele, que eu acho que é o melhor velocista da história, eu não teria chegado aqui hoje. O outro é o Fernando Scheffer, que mostrou que era possível nessa semana. Ele é meu parceiro no Minas Tênis Clube. Meu ídolo, o cara que eu mais admiro, que cresci assistindo é o Fernando Scherer. Esse mostrou que era possível há décadas”, disse.

O nadador ainda destacou o trabalho psicológico que fez para realizar o sonho de conquistar a medalha olímpica. Sair das redes sociais e se isolar foi fundamental, segundo Fratus.

“É um dos motivos de porque saí das redes sociais, eu precisava estar isolado na minha própria dimensão. Eu vou afunilando quando vai chegando na competição e tirando as coisas que não importam muito, priorizando o que é prioridade. Hoje, estava ali eu e a piscina. Eu e minha raia. Eu precisava atravessar aquela piscina. É que nem a Michelle (Lenhardt, esposa) me falou, antes da prova, me permitir ser feliz independentemente do que acontecesse hoje. Vocês sabem que eu tenho uma cobrança muito grande em cima de mim. Meu trabalho de psicologia é de botar o pé no freio, ao contrário de muita gente que precisa acelerar. Hoje, finalmente eu consegui não me cobrar tanto. Isso mostra que não faço a parada sozinho, sou só o cara que sobe no bloco e dá o tiro, mas tenho centenas de pessoas a agradecer aqui", acrescentou.

Da depressão à medalha


Bruno Fratus estava em casa, mas se sentia perdido. Na piscina do Estádio Aquático Olímpico, no Rio, o sonho do fluminense de Macaé se transformou no pior dos pesadelos em poucos segundos. Foi o tempo que bastou para que o líder do ranking mundial à época, em 2016, se visse frente a frente com o maior desafio da vida.

"A competição no Rio foi uma das piores da minha carreira. Ter aquela multidão gritando meu nome, minha família, amigos... é muito difícil entrar na disputa numa Olimpíada naquela situação e errar tão feio na frente da sua torcida. Fui deixado de lado por muita gente que eu achei que me apoiaria numa situação como essa", disse, ao Canal Olímpico.

Nas competições seguintes naquele ano, Fratus nadou para tempos muito piores aos quais havia se acostumado. E o corpo sentiu o abatimento psicológico: o nadador foi de 80kg para 92kg em pouco tempo. Foram tempos difíceis, em que o brasileiro perdeu até o treinador. O australiano Brett Hawke, que o acompanhava diariamente, decidiu se dedicar prioritariamente à equipe universitária de Auburn.
 
Mas Fratus não estava sozinho. Com apoio da família e, em especial, da esposa Michelle Lenhardt, as coisas começaram a melhorar. A companheira, nove anos mais velha e ex-nadadora, cumpriu papel fundamental na recuperação psicológica do atleta do Minas. Além disso, passou a trabalhar como treinadora do marido.

Para voltar ao alto nível, Fratus também recorreu, é claro, à ajuda profissional. Consultou-se com a psicóloga do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carla di Pierro. E buscou na meditação e no autoconhecimento os segredos para superar os males que o atingiam desde aquela manhã frustrada na capital fluminense.

"Depois do Rio, eu comecei a fazer as coisas do jeito que eu gostaria de fazer, e não como um determinado técnico ou equipe manda. Comecei a meditar e aprendi a olhar mais para dentro, a fazer as coisas acontecerem de dentro para fora. Parei de procurar a felicidade do lado de fora e comecei a tentar encontrar o que realmente me faz feliz. Comecei a competir muito mais feliz e a nadar porque eu gosto de nadar", disse. E nadou feliz para alcançar a tão sonhada medalha.

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