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COPA LIBERTADORES

Vitória da persistência

Feito atleticano manda para escanteio a fama de azarado do treinador e prova que trabalho com competência é o melhor caminho para garantir grandes conquistas

postado em 25/07/2013 09:35 / atualizado em 25/07/2013 09:40

Alexandre Guzanshe/EM
Emotivo, fervoroso, suado, sofrido, melancólico, tenso e intenso. Muito intenso. O caminho do Atlético até a conquista da Libertadores tem tudo a ver com a trajetória do seu comandante, Alexi Stival. Se por um lado é inegável a capacidade de Cuca – apelido que recebeu da mãe quando criança – em montar times fortes e ofensivos, que trazem o que de melhor há no futebol pentacampeão do mundo, por outro não era possível esconder que faltava a ele uma vitória de expressão que o incluísse na galeria dos grandes técnicos. Faltava. Com o título continental, inédito para Cuca e para o Atlético, ele põe fim ao doloroso estigma de azarado que o acompanhou nos últimos anos, quando colecionou sucessivas derrotas em jogos decisivos. Se a partir dessa conquista a carreira do curitibano, que em junho completou 50 anos, vai passar a ser marcada por novos feitos, ainda não se sabe, mas a busca incessante para montar elencos vencedores, que agradem às torcidas, se consolida como filosofia.

O início à frente do Galo foi o pior possível em resultados. Seis derrotas consecutivas, incluindo uma para o Cruzeiro diante apenas de sua própria torcida – na Arena do Jacaré – e uma eliminação da Copa Sul-Americana pelo Botafogo logo na primeira fase. Seu nome partiu de sugestão de um dos filhos do presidente Alexande Kalil. Para o rapaz, ninguém conhecia melhor o Atlético do que o treinador, que comandava o arquirrival Cruzeiro até menos de dois meses antes. Muito questionado pela torcida atleticana, com cerca de 70% considerando seu nome ruim para dirigir o Galo, Cuca logo se viu frente a novo desafio: impedir a queda dos alvinegros para a Série B.

A campanha irregular e a forte pressão das arquibancadas levaram o treinador a cogitar sair, entregando o cargo depois de empate com o Ceará, que complicou muito a situação do time no Brasileiro. Mas o caminho escolhido foi outro. “O mais fácil seria pegar minhas coisas e voltar para Curitiba, deixando o problema para outro. Mas tenho certeza de que esses jogadores vão virar essa situação”, garantiu.

A insistência da diretoria superou o início tumultuado e o Atlético, nas últimas rodadas do Brasileiro de 2011, conseguiu uma sequência de vitórias que o livrou do risco de cair para a Série B. Objetivo conquistado e tranquilidade para montar o elenco para 2012? Nada disso. As coisas não seriam tão fáceis para Cuca. No último jogo do campeonato, os alvinegros tinham a chance de rebaixar o principal rival, mas acabaram sofrendo goleada por 6 a 1, que pôs o trabalho novamente em xeque. Os pedidos pela cabeça do treinador voltaram com força.

No ano passado, ainda sob forte desconfiança do torcedor, o Galo começou a colher os frutos da aposta em Cuca. Morando na Cidade do Galo e “vivendo o clube 24 horas”, diz o técnico, a primeira glória veio com a campanha invicta no Estadual de 2012. No meio do ano, ele teve papel decisivo na maior contratação da história do clube, correndo atrás de Ronaldinho Gaúcho assim que o craque se desligou do Flamengo. Apostando em esquema tático que priorizasse a liberdade do jogador duas vezes eleito o melhor do mundo, o treinador conseguiu montar um time que encantou o país e foi vice-campeão brasileiro, garantindo a volta do Galo à Libertadores depois de 13 anos.

MILAGRE Se nem a vaga na competição continental e o bi mineiro neste ano foram capazes de preencher os buracos no currículo de Cuca, ainda sem título de expressão, não se pode dizer que em sua carreira de técnico faltaram momentos de glória. Em 2009, o Fluminense estava na última posição no Nacional e próximo do rebaixamento quando ele assumiu o time. O calvário tricolor seguiu até as últimas seis rodadas, quando os matemáticos apontavam chance de 99% de queda. Apoiando-se na fé e buscando motivar os jogadores enquanto existisse chance, Cuca conseguiu o feito histórico e salvou o Fluminense do vexame.

No Rio, ele teve feitos importantes também no Botafogo, que treinou de 2006 até 2008, alcançando as fases finais do Campeonato Carioca e da Copa do Brasil. Lá ficou conhecido também pelas manias e superstições. Se o ônibus do time tinha de dar ré para estacionar no estádio, os jogadores precisavam descer antes para o resultado não ser negativo. O treinador chegou até a levar um coração de boi para a preleção antes de uma partida. “Era um jogo importante e não podíamos perder de jeito nenhum. No vestiário, pouco antes, Cuca nos falou que iria mostrar o que precisávamos para alcançar a vitória. Foi uma surpresa quando tirou de uma bolsa um coração sangrando e nos pediu para jogar com tudo aquela partida. Ele sempre trabalhou muito bem a questão da motivação dos seus jogadores”, lembra Lúcio Flávio, então o camisa 10 botafoguense.

Hoje o religioso Cuca tem motivo de sobra para rezar: agradecer a conquista do Galo.



O grande momento

A TROCA DE TARDELLI E BERNARD POR GUILHERME E ALECSANDRO NA VITÓRIA SOBRE O TIME ARGENTINO, PELAS SEMIFINAIS

ATLÉTICO 2 X 0 NEWELL’S OLD BOYS

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