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VICTOR

Fé e talento sob as traves

Com um ano de clube, o camisa 1 justificou a mensagem de Kalil à torcida pelo Twitter, quando o contratou do Grêmio: se o problema atleticano era goleiro, deixou de ser

postado em 25/07/2013 09:44 / atualizado em 25/07/2013 09:52

Rodrigo Clemente/EM
A oração tornou-se um amuleto para Victor. Católico dedicado, devoto de Nossa Senhora Aparecida, o goleiro costuma ir ao Santuário da Mãe Rainha, em Lagoa Santa, para agradecer a graça concedida na partida anterior. Nesta Libertadores, o camisa 1 fez muitas orações de joelhos ao alcançar feitos importantes e se transformar em grande herói do título atleticano. Debaixo das traves, ele pegou dois pênaltis – nos acréscimos contra o Tijuana, pelas quartas de final, e na disputa de tiros livres diante do Newell’s Old Boys, nas semifinais – e levou o Galo às fases seguintes. Mas sua contribuição foi além. A experiência e a tranquilidade nos momentos difíceis foram essenciais para dar a confiança necessária à equipe.

Desde Diego Alves, em 2007, um goleiro do Atlético não caía nas graças da massa. Victor Leandro Bagy, paulista de Santo Anastácio, foi contratado em 29 de junho de 2012, em transação que custou 3 milhões de euros aos cofres do Galo. Na época, o presidente Alexandre Kalil disse que o ex-gremista encerraria de vez as dúvidas da torcida sobre a meta alvinegra. “Torcida mais chata do Brasil, se o problema é goleiro, ele acabou. Victor é do Galo”, anunciou o dirigente, via Twitter. Poderia ser mais uma aposta cara que não daria certo. Mas, gradativamente, o jogador conquistou a confiança e o respeito dos torcedores.

O goleiro começou sua trajetória em 2005 no Paulista, de Jundiaí, com o técnico Vágner Mancini. Juntos, ganharam a Copa do Brasil. Victor, que era reserva, logo virou titular, se destacou e foi parar no Grêmio. “Ele tinha um estilo próprio, de buscar a perfeição, absorver o máximo de cada treino e se dispor a ouvir conselhos daqueles que queriam o bem. Desde que surgiu, sabíamos que seria um jogador promissor. É um exemplo para os demais e não surpreende que seja o grande nome do Atlético na Libertadores”, disse o treinador, hoje no Atlético-PR.

Vágner Mancini sente-se orgulhoso pelo grande desempenho do camisa 1. “Ele era o segundo goleiro do Paulista em 2005, mas depois da Copa do Brasil o Rafael foi negociado. Seria natural que o Victor virasse o titular. Trabalhamos muito para lançá-lo, mas sabemos que ele passou por um processo de amadurecimento muito grande ao longo da carreira. De certa forma, é gratificante ver que o projeto deu certo.”

Victor considera que sua evolução se deve à responsabilidade nos tempos do Grêmio, quando teve de ocupar a posição que havia pertencido a Danrlei, ídolo da torcida. “Ninguém tinha se firmado. Fui obrigado a jogar e mostrar serviço. Era uma novidade para mim, mas graças a Deus tudo deu certo. Agora, encaro essa pressão e responsabilidade com muita naturalidade. Sei que a torcida do Atlético espera grandes atuações, mas quero sempre corresponder.”

No Galo ele é bem treinado pelo preparador Francisco Cersósimo, o Chiquinho. Quando chegou ao clube, o goleiro teve dois concorrentes: Lee e Giovanni, então o titular. E desde os primeiros dias de convivência já se sabia quem seria o escolhido de Cuca, principalmente pelo status obtido nos clubes anteriores. Com o tempo, os três viraram amigos e companheiros nos treinos e partidas. “É uma pessoa experiente e merece todas as glórias por este bom momento. Nos treinos sempre nos dá aquele toque no posicionamento e sempre é prestativo a nos ajudar no que for preciso”, diz Giovanni.

Victor e Chiquinho, que já haviam trabalhado juntos no Grêmio e na Seleção, fortaleceram a amizade em Belo Horizonte. A relação harmoniosa contribuiu para o sucesso atleticano. Exigente, o preparador normalmente é o último a deixar o campo na Cidade do Galo – já ao anoitecer. Nesse tempo, conversa, dá dicas e traça o planejamento para cada partida.

Na noite em que defendeu a cobrança de pênalti de Maxi Rodríguez, do Newell’s, Victor teve ajuda fundamental do fiel escudeiro no dia a dia. Antes da disputa por tiros livres, Chiquinho lhe entregou uma lista com o estilo de cada cobrador do time argentino. “É um trabalho importante que a gente faz, avaliando o adversário. Mas nem sempre isso é necessário. No momento, prevalecem a sensibilidade, a tranquilidade e a frieza, e Victor juntou todas essas características para conseguir seu grande objetivo”, analisou o preparador, ao comentar o lance decisivo.

VIDA FAMILIAR Fora dos campos, Victor se considera caseiro. Além da vida familiar, adora filmes e cães. Em seu quintal, tem um golden, um dachsund (salsicha) e um vira-lata. Da Região da Pampulha, onde mora, à Cidade do Galo, são cerca de 30 minutos, evitando o tumultuado trânsito do Centro. Mas nas folgas o goleiro gosta de se aventurar pelos restaurantes da Savassi ao lado da mulher, Gisele Bueno, com quem está há sete anos, e de conhecer novos lugares, como cidades históricas e pontos turísticos de Minas. O casal já passeou por Ouro Preto e Tiradentes.

Vitorioso dentro e fora das quatro linhas, o atleta comemorou o título do Atlético com o orgulho do dever cumprido. Se a maior conquista da história do Galo teve o dedo de Cuca e a competência de Ronaldinho e cia., grande parte do mérito foi garantida com as defesas de São Victor em momentos dramáticos.



O grande momento

ENTRE TRÊS DEFESAS DE PÊNALTIS, A QUE EVITOU NOS ACRÉSCIMOS O GOL DOS MEXICANOS QUE ELIMINARIA O GALO NAS QUARTAS DE FINAL

ATLÉTICO 1 X 1 TIJUANA

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