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MINEIRÃO 50 ANOS

Todo respeito ao Gigante

Jornalistas do Estado de Minas recordam momentos que os marcaram no cinquentenário do Mineirão e dissertam sobre a história do estádio

postado em 06/09/2015 11:00 / atualizado em 09/12/2015 15:28

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press

O dia do Mineirón
Carlos Marcelo
Diretor de Redação

No ano passado, antes de os 7 a 1 marcarem a história das Copas e do estádio, o Mineirão já tinha sido palco de experiências bem marcantes. Os ingleses, precocemente desclassificados, chegaram cedo para tomar sol e cerveja, como se a esplanada fosse Hyde Park. Colombianos, gregos, argelinos, belgas, costarriquenhos, iranianos, todos tentavam se entrosar com os brasileiros. Mas os argentinos... Bem, os argentinos se entrosaram com os outros argentinos. E transformaram os donos da casa em visitantes incomodados. ‘‘Brasil, decime qué se siente tener en casa a tu papá…’’ Como esquecer o cântico debochado que foi repetido como mantra, cantado cada vez mais forte até o arremate ‘‘Messi lo vas a ver, la Copa nos va a traer, Maradona es más grande que Pelé’’? Os argentinos ignoraram o padrão Fifa e impuseram o padrão AFA: cigarro, pés em cima das cadeiras, desrespeito ao lugar marcado. O Mineirão virou uma monumental Bombonera. A tensão crescente durante o confronto contra o Irã explodiu nos minutos finais, quando Messi brilhou e definiu o jogo. À minha frente, um brasileiro, que passou a partida inteira provocando os hermanos, tomou um soco na cara; brigas explodiram em outros pontos do estádio. Depois, o clima se desanuviou e os brasileiros deixamos o estádio, escutando os “invasores” cantando alto nas arquibancadas, celebrando a própria devoção e a conquista (felizmente, temporária) do Mineirón.

De correrias e de luzes
Cláudio Arreguy
Editor de Esportes

Eram dois os sinais. O primeiro para quem via o jogo da geral – aos pulos e sem noção precisa das linhas demarcatórias, diga-se. Por volta dos 10min a 15min do segundo tempo, os portões internos do Mineirão eram abertos e provocavam uma correria desenfreada nas escadas de acesso à arquibancada. Era o upgrade dos geraldinos em busca de 30 a 35 minutos de visibilidade mais ampla do que ocorria em campo. A preocupação em perder o menor tempo possível do jogo causava uns encontrões, alguns escorregões e cotovelaços. Tudo em nome do bem comum: a vitória do time do coração. Foram muitos anos de dinheiro pouco e fidelidade muita. O segundo sinal era para todos. Aos 40min da etapa derradeira, as luzes da cobertura eram acesas. Aquelas que iluminavam o pânico ou a esperança. “Ai, meu Deus, faltam só cinco minutos!” A frase só variava no tom: de expectativa, mãos esfregadas, se a vitória estava apertada; de desespero, mãos na cabeça, porque o gol salvador não saía. Sinais que remarcavam espaços e calculavam tempo. Que desapareceram nestes dias de lugar marcado e plateia em vez de torcida compacta. E se transformaram em nostalgia de uma época em que os craques brasileiros eram vistos a metros de distância, e não na tela grande da TV ou na pequena de um smartphone.

Nova casa, novos rituais
Ivan Drummond
Repórter

A inauguração do Mineirão mudou a vida e os hábitos da cidade. A imprensa mineira também estava ansiosa. Naquele domingo, o almoço foi mais cedo. Tínhamos de ir para o estádio – não mais Antônio Carlos, JK, Alameda, Campo do Sete (Independência). Ainda menino, lá estava eu na Praça 7, no Café Nice, com meu pai (Felippe Drummond, jornalista da TV Itacolomi e do Diário da Tarde), Edison Zenóbio, Francisco Teixeira da Costa (o Xoxó), Naeme Mansur, Fernando Sasso, Ronan Ramos, Kafunga, Magafa, José Flávio Lanna Drumond, Afonso Celso Raso, Orlando José, Januário Carneiro, Jota Júnior, Luiz Carlos Alves, Dirceu Pereira, Valter Luiz, Paulo Celso... E o Canor Simões Coelho, radicado no Rio, mas sempre fiel a BH. Kombis, Rurais, Vemaguets estavam lotados. Ver o estádio pronto emocionou quem havia acompanhado toda a construção. Entrar na arquibancada com toda aquela gente... Atleticanos, cruzeirenses, americanos misturados. Banda de música, políticos, uma festa só. A Seleção Mineira e o River Plate entraram em campo. A torcida cantou com orgulho: “Oh, Minas Gerais”. Gol do Buglê, euforia total, pessoas pulando e se abraçando. Surgiu o hábito: depois do jogo, jornalistas e radialistas se reencontraram no Café Nice. Com um pensamento em comum: “O futebol mineiro terá outro destino, com títulos nacionais e internacionais”. Não deu outra.

A noite em que o Leão riu por último
Ney Soares Filho
Editor de Primeira Página

Na adolescência e juventude, para quem sempre foi fanático por futebol, uma ótima pedida em época de grana escassa era ir de geral aos jogos no Mineirão. Ok, não tinha conforto nem o melhor ângulo de visão, mas era divertido. E foi lá da geral que, em 1981, assisti ao interessante desfecho de uma partida entre Cruzeiro e Villa Nova. O placar não saía do 0 a 0 e acabava o tempo regulamentar, quando o juiz marcou uma falta de bem longe para o time azul e branco. Longe até para o Nelinho bater direto, e a opção era levantar na área para alguém cabecear. Por isso, ele mandou todo mundo para a área, inclusive os últimos defensores. Afinal, podia ser o último lance. Mas não foi. Nelinho jogou na área, a zaga rebateu e a bola ficou com o Villa, que disparou no contra-ataque sem ninguém na marcação, até Jéferson ficar de cara com o goleiro celeste Gasperin e marcar nos acréscimos. Confesso que vibrei com a façanha do Leão, que encerrou série de 23 partidas invictas da Raposa no Estadual. E pude vibrar à vontade, porque àquela altura os demais geraldinos tinham ido embora ou subido para as arquibancadas pelos acessos então já abertos. Eu estava lá e vi, de pertinho.

Jogos inesquecíveis

Cruzeiro 1 x 2 Ipatinga
17/4/2005

O 1 a 1 no Ipatingão, uma semana antes, reforçava o favoritismo do Cruzeiro para conquistar o tricampeonato mineiro. Mas, com apenas 15 minutos de partida, a história já aprontava para cima da Raposa: o Ipatinga vencia por 2 a 0, gols de Leo Medeiros e do capitão William. O time celeste martelou até o fim e o máximo que conseguiu foi o gol de honra, com Fred, artilheiro da competição. Depois do jogo, incrédulos, os torcedores cruzeirenses assistiram à comemoração da equipe do interior, formada na maioria por jogadores revelados na Toca da Raposa, dirigidos por Ney Franco, também cedido pela matriz, que teve de se curvar à filial.

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