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TIRO LIVRE

A hora das velhas paixões

Sempre que os clubes entram na fase de contratações, o coração do torcedor se deixa levar pelas recordações felizes e alimenta a esperança do retorno de muitos deles

postado em 14/12/2018 12:46

Rodrigo Clemente/EM/D.A Press
Período de negociação é aquela época de relembrar amores antigos, de requentar velhas paixões, de projetar reencontros. Sempre que os clubes entram na fase de contratações, o coração do torcedor se deixa levar pelas recordações felizes ao lado de ídolos que se foram, esquece qualquer tipo de ressentimento e alimenta a esperança do retorno de muitos deles. É assim em toda parte, só mudam as cores da camisa e o objeto da cobiça.

Os cruzeirenses, por exemplo, há quase três anos sonham com a volta da dupla que embalou a conquista do bicampeonato brasileiro de 2013 e 2014, Éverton Ribeiro e Ricardo Goulart (foto). Sempre que se fala em reforço, o nome dos dois aparece na lista de desejos celestes. Não importa quem esteja na equipe, o torcedor abre uma vaga para Ribeiro e outra para Goulart, doa a quem doer.

Pelas últimas notícias, no entanto, parece que não será desta vez que isso vai ocorrer, já que o primeiro custou, em meados do ano passado, R$ 22 milhões ao Flamengo, com quem tem contrato até 2021; e o segundo estaria praticamente acertado com o Palmeiras, a pedido do técnico Luiz Felipe Scolari – falta bater o martelo com o chinês Guangzhou Evergrande, clube que é dono dos direitos de Goulart desde 2015.

Outro que tem seu nome ventilado pelos cruzeirenses a cada início de temporada é o volante Ramires, que deixou boas lembranças na Toca da Raposa, rodou o mundo e hoje, em litígio com o Jiangsu Suning, da China, ensaia um retorno ao Brasil. A presença dele em uma festa ao lado do zagueiro Dedé, no início deste mês, foi a senha para os torcedores vislumbrarem os dois em campo. Mas há concorrência, e muita, na parada: o Palmeiras também estaria de olho em Ramires e o Benfica, que na última janela de verão europeia chegou bem perto de repatriá-lo (com um salário de R$ 14 milhões por temporada), estaria preparando nova investida para janeiro.

No Atlético, ninguém bate a preferência da Massa pelo atacante Diego Tardelli. Mas a relação do jogador com o clube é tão ioiô que chega a se aproximar daquela categoria de amor bandido – quando está longe quer voltar, quando está junto dá um jeito de se distanciar. Desde a primeira passagem dele é assim. Tardelli foi contratado em janeiro de 2009, assinando vínculo até 2013, mas foi vendido para o Anzhi, da Rússia, em 2011. Na despedida, disse que sua história no Galo não havia terminado e prometeu voltar. Sem se adaptar ao futebol russo, no fim daquele mesmo ano, fez de tudo para voltar, mas acabou negociado com o Al-Gharafa, do Catar, no início de 2012.

Depois de um ano e muitas juras de amor (a distância) ao Atlético, foi recontratado pelo então presidente Alexandre Kalil, integrando o time campeão da Copa Libertadores em 2013. No fim de 2014, depois de ser escolhido o melhor jogador da Copa do Brasil conquistada pelo alvinegro e voltar a ser convocado para a Seleção Brasileira, foi novamente seduzido por uma proposta do exterior e fez as malas em direção à China, para atuar no Shandong Luneng.

O fim do contrato com o clube do Oriente reacendeu os clamores pelo retorno à Cidade do Galo. Nas redes sociais de Tardelli não há uma foto que não seja acompanhada por uma enxurrada de comentários de atleticanos quase implorando seu retorno. De férias nos Estados Unidos, cada post tem, logo abaixo, um pedido em forma de hashtag: #voltaproGalo.

No América, a bola da vez é o atacante Marcelo Toscano. Destaque do time na Série B do Campeonato Brasileiro de 2005, o jogador, hoje com 33 anos, pode ser uma exceção nesta lista e passar de sonho a realidade para os torcedores do Coelho, saudosos dos gols que ajudaram o Coelho a garantir, naquela ocasião, a volta à elite nacional.

Depois de deixar o Omiya Ardija, do Japão, ele está livre no mercado e manifestou o desejo de retornar ao CT Lanna Drumond. De férias com a família em Mirassol, no interior de São Paulo, o atacante estaria perto de acertar a volta, num legítimo caso de amor correspondido.

Paixão antiga é assim, mexe mesmo, é difícil esquecer, não dá nem para disfarçar – tal e qual cantava Tim Maia. No futebol, então, tudo ganha dimensão ainda maior. Os momentos ruins são varridos para debaixo do tapete. Restam apenas as lembranças das vitórias, das comemorações, das horas felizes. E é isso o que garante polpudos contratos aos jogadores. Para eles, o final é sempre feliz.

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