Givanildo Oliveira merece todo o respeito da diretoria e da torcida América, mas não pode ser isento de culpa pelo desempenho desanimador do time no começo do Campeonato Brasileiro. Afinal, ele e o assistente técnico Cláudio Prates tiveram suas parcelas de responsabilidade tanto em decisões malsucedidas quanto na montagem do elenco, que perdeu atletas titulares por lesão e não encontrou em seu banco de reservas a devida reposição. A saída do pernambucano de 67 anos após a derrota de quinta-feira para a Ponte Preta (2 a 1), resultado que manteve o Coelho na lanterna da competição, com dois pontos em cinco jogos, esteve longe de ser surpresa para torcedores e profissionais que acompanham o dia a dia do clube.
As dificuldades já eram evidentes no Campeonato Mineiro. O título conquistado na base da raça “maquiou” as deficiências da equipe, classificada apenas na quarta colocação e sem ganhar um jogo sequer fora de Belo Horizonte (perdeu para Guarani, Tricordiano e Tombense e empatou com a URT). O gol de empate do lateral-esquerdo Danilo na decisão contra o Atlético quebrou um jejum de 16 anos do time sem vencer o Estadual, contudo não corrigiu os problemas visando à Série A.
Na elite nacional não havia espaço para invenções e nem insistências com atletas em fase ruim. Mas Givanildo teimou. Na estreia diante do Fluminense, preferiu improvisar o zagueiro Artur na lateral direita, mesmo depois de ter solicitado à diretoria a regularização de Hélder no BID da CBF. Teve muita paciência com o inconstante Rafael Bastos, que viveu de lampejos e um gol marcado quase do meio-campo num clássico contra o Atlético. Talvez tenha sido o jogador mais contestado pela torcida americana nos últimos tempos. Apostou bastante no inseguro Sueliton, de rebaixado à Série C com o ABC a zagueiro titular do Coelho na Primeira Divisão. Esgotou todas as forças do veterano Leandro Guerreiro, de 37 anos, em natural desaceleração do condicionamento físico por causa da avançada idade.
O excesso de lesionados também foi problema para Givanildo. No departamento médico estão jogadores de extrema importância, como o volante Pablo, os armadores Tony e Osman e os atacantes Victor Rangel e Borges. Talvez com todos os atletas à disposição, o América não se encontraria numa situação tão desconfortável na tabela. Porém, o número de contusões poderia ser menor se o treinador optasse pelo rodízio de peças em determinadas partidas e os escalasse somente em condições físicas adequadas. O entrosamento entre os suplentes, por exemplo, deveria ser aprimorado em coletivos e treinos técnicos.
Givanildo é, sim, o maior treinador da história do América. Ganhou a Série B em 1997, a C em 2009 e o Mineiro em 2016. Comandou o time em 235 jogos, conquistou mais de 100 vitórias e não à toa virou cidadão honorário de Belo Horizonte. Suas convicções, entretanto, já não eram mais compatíveis com a atuais condições do clube. A diretoria, que reconhece a falha no planejamento para a Primeira Divisão, deve apostar as fichas no português Sérgio Vieira, compatriota do cruzeirense Paulo Bento.
Prever que Vieira conseguirá salvar o Coelho do descenso? Difícil, pois o treinador pegará a equipe no decorrer do Brasileiro e precisará, o mais rápido possível, conhecer o grupo a tempo de começar uma reação. Quanto ao demitido Givanildo, fica a sensação de que ele cavou o próprio buraco nesses últimos meses e fez, junto do assistente Cláudio Prates – que segue no clube –, escolhas equivocadas até chegar ao fim de sua quarta e duradoura passagem de 625 dias pelo Lanna Drumond. Sorte ao Rei do acesso em seus novos caminhos.
OPINIÃO
Escolhas malsucedidas encerraram quarta passagem de Givanildo Oliveira pelo América
Insistência com atletas em má fase foi um dos motivos para a queda de técnico
postado em 04/06/2016 09:44 / atualizado em 04/06/2016 09:49