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ENTREVISTA

Passado no Atlético, presente no Manchester e futuro na Seleção: mineiro Fred abre jogo sobre carreira e sonha com Copa do Catar

'Não tenho mágoa alguma do Atlético. Pelo contrário. As coisas acabaram acontecendo e fui para o Inter, mas o carinho pelo Galo permanece até hoje'

postado em 26/08/2018 09:00 / atualizado em 26/08/2018 03:47

AFP
No bom estilo mineiro – conquistando espaço silenciosamente –, o belo-horizontino Fred se tornou um dos jogadores mais valorizados do futebol mundial. Em plena preparação para a Copa do Mundo da Rússia, o jogador de 25 anos, nascido no Bairro Jardim Europa, Região de Venda Nova, deu salto na carreira ao trocar o Shakhtar Donetsk-UCR pelo poderoso Manchester United, numa transação que custou 55 milhões de euros (R$ 240 milhões) aos cofres ingleses. Mesmo sem entrar em campo na Rússia, ele permanece nos planos de Tite ao ser convocado para os amistosos contra Estados Unidos e El Salvador, no mês que vem, o que renova a esperança de atuar no Catar em 2022. O jogador vive também etapa importante em sua vida particular: ele se casou com a engenheira Monique Salum no mês passado. O casal espera o primeiro filho. Fred conversou com o Estado de Minas/Superesportes sobre os próximos passos na carreira e o carinho pelo Atlético, seu primeiro clube na base.


Em dois meses, você foi chamado para a Copa do Mundo, se machucou nos treinos, foi vendido a um dos clubes europeus mais importantes e viu o Brasil ser eliminado pela Bélgica. Como fez para administrar esse turbilhão de emoções em tão pouco tempo?

E teve mais... Depois da Copa, ainda me casei e, algumas semanas depois, descobri que vou ser papai (risos). Posso dizer que, da convocação para a Copa até aqui, vivi os melhores momentos da minha vida. O pacote veio completo em pouco tempo, com Seleção, novo clube, casamento e paternidade. Não poderia estar mais feliz. Não é fácil administrar tanta coisa, é verdade, mas tudo isso só me dá ainda mais força para trabalhar e querer sempre mais. É claro que a alegria não foi completa devido à lesão que tive nos treinos na Rússia e à eliminação, mas temos que levantar a cabeça para dar os próximos passos.

Quais são os objetivos na carreira?

Fazer um grande trabalho e conquistar títulos com a camisa do Manchester, o que seria um passo enorme para me manter na Seleção Brasileira, um orgulho e um prazer. E, com isso, poder ajudar a levar o Brasil à disputa de mais uma Copa e ter a chance de jogar no Catar.

O Campeonato Inglês é o mais prestigiado da Europa. E dois clubes manifestaram a vontade de contratá-lo: o Manchester United e o Manchester City. O que pesou na escolha pelo United?

Na verdade, preferi me manter longe das negociações. Deixei tudo nas mãos dos meus representantes e sabia que eles fariam o melhor para mim. Quando acertaram tudo com o Manchester United, fiquei feliz demais, pela grandeza do clube, o maior da Inglaterra. Posso dizer que é um sonho realizado.

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José Mourinho é um dos mais respeitados treinadores do mundo por conseguir extrair ao máximo as virtudes de cada jogador. Como têm sido os primeiros dias de trabalho ao lado dele?

Ele é um grande treinador, um cara fantástico. Tem me ajudado muito neste início de trabalho no Manchester. Realmente, ele consegue extrair o melhor de cada um, com muita orientação e conversa. É um trabalho de fácil assimilação por ele ser bem objetivo. E é muito estrategista, tem um conhecimento grande de futebol. Tem sido um prazer e um aprendizado diário.

Você vê muitas diferenças entre o estilo de jogo ucraniano e o inglês?

Até que os estilos não diferem tanto. Só tive a oportunidade de jogar duas partidas da Premier League até agora, mas já dá para perceber que na Inglaterra os jogos são bem mais disputados, até pelo maior investimento dos clubes e, consequentemente, maior qualidade dos jogadores e das equipes. Mas, em relação ao futebol jogado, se assemelham pela velocidade e pela técnica.

Apesar de convocado, Tite não o escalou em nenhum jogo na Copa. Ficou alguma frustração?

Frustração pela lesão que eu tive, num lance casual num treino. Até consegui me recuperar e ficar à disposição, mas a chance não apareceu. Faz parte, futebol é assim. De repente, não era para ser mesmo. Quem sabe minha história não está guardada para 2022? Farei de tudo para me manter no grupo e representar o Brasil em mais uma Copa.

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Você está incluído na convocação para os amistosos contra EUA e El Salvador. Como você enxerga seu futuro na Seleção?

É um orgulho e um prazer enorme vestir a camisa da Seleção. Ainda arrepio quando ouço ou leio meu nome nas convocações. Teremos a Copa América no ano que vem, no Brasil, e Eliminatórias para a Copa do Mundo do Catar. Espero me manter em alto nível no Manchester para continuar sendo chamado e fazer parte deste ciclo. Temos tudo para chegar ainda mais fortes e mais maduros no próximo Mundial. A safra é muito boa.

A renovação da CBF para a Copa de 2022 propõe a inclusão de jogadores versáteis, que defendem e atacam com eficiência. Esse é seu trunfo para buscar espaço na Seleção? 

O Tite conhece bem as minhas características e sabe como pode me utilizar. Minha função ali no meio, primeiramente, é a marcação, mas gosto de sair para o jogo, de criar e abrir espaços para o pessoal da frente. E de chegar na área para finalizar também. No futebol de hoje, temos de buscar essa versatilidade. A busca pela renovação, ainda mais no início de novo ciclo, é fundamental. O Brasil sempre foi um celeiro de grandes jogadores, a produção não para, e novos nomes de qualidade já aparecem nessa primeira convocação pós-Copa do Mundo.

O doping que o tirou da Copa América de 2015 foi o momento mais tenso da carreira? O quanto você aprendeu com a situação?

Foi o momento mais triste, até pelo fato de ter sido pego de surpresa. Quem me conhece sabe que jamais faria uma coisa que vai contra os meus princípios. Sempre fui um cara muito correto. Acabei ficando um bom tempo sem poder jogar, e o que me deu força foi o apoio da minha família e dos amigos. O que ficou de lição foram a persistência e a força de vontade, de não desistir, de não baixar a cabeça, de seguir fazendo o que mais amo.

Você deixou o Atlético com 15 anos e se mudou para Porto Alegre, levado pelo Assis, irmão de Ronaldinho Gaúcho. Ficou alguma mágoa do Galo por não tê-lo aproveitado? 

Não tenho mágoa alguma do Atlético. Muito pelo contrário. Foi o primeiro clube a me dar oportunidade no futebol, onde dei meus primeiros passos. As coisas acabaram acontecendo e fui para o Inter, mas o carinho pelo Galo permanece até hoje. Sou mineiro, uai! (risos). Minha família toda é de BH, mora aí. Acabei sendo muito feliz no Colorado, que também me deu toda uma estrutura para me tornar o atleta profissional que sou e me abriu portas.

Se tivesse que retornar ao futebol brasileiro no futuro, jogaria no Atlético?

Com toda certeza. Tenho um carinho enorme pelo clube. E BH é a minha cidade. Posso garantir que a dona Roseli, minha mãe, e toda a minha família ficariam muito felizes em ter -me por perto. Mas não é uma coisa para se pensar agora. Acabei de chegar à Inglaterra e espero poder fazer história com a camisa do Manchester.

Qual a sua relação com Belo Horizonte hoje? Ainda tem contato com amigos de Venda Nova, onde nasceu?

A relação é a melhor possível. Nas férias, sempre que posso faço questão de ir aí para ficar com minha família, comer comidinha mineira, ir a lugares de que gosto, fazer churrasco... E vou sempre a Venda Nova também, porque minha avó e alguns tios ainda moram lá, além de alguns amigos de infância, como o Daierson, Luiz Paulo, João Octávio, Márcio... Uma rapaziada da melhor qualidade.

Quem é ele

Frederico Rodrigues de Paula Santos
>> Nascimento: 5/3/1993, em Belo Horizonte
>> Posição: volante e armador
>> Clubes: Internacional (2012-2013); Shakhtar Donetsk (2013-2018); Manchester United (2018)
>> Títulos: Campeonato Gaúcho (2012 e 2013); Campeonato Ucraniano (2013-2014, 2016-2017 e 2017-2018); Copa da Ucrânia (2015-2016, 2016-2017 e 2017-2018); Supercopa da Ucrânia (2013, 2014, 2015 e 2017)
>> Pela Seleção Brasileira: 8 jogos e nenhum gol

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