Atlético
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DA ARQUIBANCADA

Vencer, vencer, empatar - este é o nosso ideal

Ganhando todas em casa, voltando a fazer do Horto a forca para a qual caminham os Flamengos da vida, e ainda beliscando sempre uns pontinhos fora, tem-se a fórmula do título impossível

postado em 26/05/2018 12:00 / atualizado em 26/05/2018 09:38

Alexandre Guzanshe/EM/D.A. Press
Na madrugada de quinta para sexta-feira acordei sobressaltado, chorando de emoção: o jogo do título entrara em seus acréscimos e, a exemplo da narração de Vilibaldo Alves para os minutos finais da conquista de 1971, “lágrimas escorrem em minha face”. Sonho tem dessas coisas inexplicáveis, e no meu não havia ninguém narrando. Eu me encontrava sentado na cabeceira da mesa de jantar do apartamento dos meus pais, sem rádio nem televisão. Sozinho. Tinha esperado 46 anos por aquele título. Diante de mim, apenas 100g de muçarela e outros 100g de peito de peru.

Meus sonhos não são presságios de nada e na maioria das vezes, talvez por ter exagerado no loló durante minha já distante juventude, compõem-se mesmo dessas muçarelas inexplicáveis, chaves de fenda inócuas, raquetes de pernilongo surrealistas. Ainda assim, quero crer que os sonhos que a gente dorme guarda verdades ocultas, e por isso, hoje, sábado de Atlético e Flamengo, estufe o peito e siga as ordens do partido (no nosso caso, a Galoucura): seremos campeões.

Como chegar ao título com tantos problemas, elenco limitado, falta de grana, dívidas a pagar, um estádio pra se construir? Primeiramente, imaginei abrir uns 10 pontos para o segundo colocado antes da parada para a Copa. É possível. Segundamente, sonhei com o mundo se acabando e a gente no topo da tabela, o campeonato interrompido e finalizado, o Galo campeão, o Trump bombardeando a Coreia, o Putin no revide. O problema é que não se pode contar com Trump e Kim Jong-un, criados em playground de condomínio fechado.

Os caminhoneiros bloqueados abriram meus olhos: pra ganhar o Brasileiro não precisa acabar com o mundo, claro, basta acabar com o Brasil! Primeiro acaba a gasolina, depois param os aeroportos, na sequência desaparecem os produtos no supermercado. Obviamente, o campeonato acaba onde está. Dane-se tudo: andamos de carroça e comemos capim, mas o Galo é campeão! Nada mais merecido, inclusive o capim.

Não sendo plausíveis ou desejáveis os meios que justificam o fim, só nos restam três alternativas, expressas em nossa Marselhesa: vencer, vencer, vencer. Ganhando todas em casa, voltando a fazer do Horto a forca para a qual caminham os Flamengos da vida, e ainda beliscando sempre uns pontinhos fora, tem-se a fórmula do título impossível: vencer, vencer, empatar – este é o nosso ideal! Persegui-lo-emos (salve o poeta ilegítimo!) enquanto assistimos do sofá à tradicional derrocada dos brasileiros (salve Verón, mestre de cerimônia en nuestro salón de fiestas, cómo está?!).

“Quando se sonha tão grande, a realidade aprende”, ensinou nosso amigo Lobo Mauro, elevando Valter Hugo Mãe à condição de atleticano.

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Em resposta ao texto de sábado passado, Daniel Nepomuceno enviou longa missiva a este colunista. Já havia feito em outra ocasião e em ambas as mensagens não poupou os impropérios. Não posso desconsiderar, no entanto, algo de admirável nesses textos: a indignação dos justos, que se é teatro temos aqui um magnífico ator. Assim, transcrevo aqui seu ponto de vista:

“(...) Dizer que contratei Pratto, Fred e Robinho para me lançar senador é de uma total irresponsabilidade e desrespeito (...). Estou no Atlético há 12 anos com muito orgulho, e minha intenção, independentemente do cargo, sempre foi e será apenas ajudar o time a levantar taças (...). Chegamos perto, dois estaduais e dois vice-campeonatos, Brasileiro e Copa do Brasil. Você que gosta de história deveria estudar a nossa para saber quantos ex-presidentes conseguiram essas posições em três anos de mandato. Não contratei só atacantes renomados, acertando ou não, contratei qualquer jogador que acreditava poder ajudar o time. Contrariando suas palavras, os também renomados Felipe Santana, Fábio Santos e Elias são defensores. Cazares, Otero, Blanco, Douglas Santos eram apenas promessas. (...) A maior dívida do clube, a fiscal, foi equacionada na minha gestão. Do patrimônio deixo uma sede modernizada, um CT com três novos campos e um estádio futuro aprovado e financeiramente viável. Isso tudo para te dizer que não saí de fininho, fugindo de algo, tenho muito orgulho do meu legado (...).”

Em minha tréplica, disse ao Daniel que nenhuma crítica escrita por mim ao seu respeito, ou a qualquer outro, tinha conotação pessoal. Que a minha função neste espaço é fazer a crítica compromissada apenas com o leitor. Que o jornalista cultiva fontes e baseia-se nelas. Que não demonizo os políticos, ainda que esta seja a moda. Seguiram-se novas mensagens de ambas as partes. O assunto se estendeu para a política, o ódio nas redes, a utopia de um mundo em que discordar do outro não o obriga a diminuí-lo. Daniel é um cara legal.

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