Já em dezembro do ano passado, a diretoria do Atlético fez uma reengenharia intensa no grupo. Saíram medalhões (Fred e Robinho), além de Rafael Moura, Marcos Rocha, Capixaba e Marlone. A ordem era reequilibrar o caixa, adequar o orçamento à realidade financeira do clube. Na base de trocas, sobretudo, chegaram Arouca, Samuel Xavier, Erik, Róger Guedes e Ricardo Oliveira.
Janeiro também foi mês de mudanças, como naturalmente ocorre no futebol brasileiro – até aqui, nada de anormal. São as reconstruções usuais de início de temporada, que demandam mesmo um período maior de organização, especialmente tática. Maidana e Tomás Andrade foram contratados, e Erazo, Alex e Mansur deixaram a Cidade do Galo. Mas aí veio fevereiro, a demissão do técnico Oswaldo de Oliveira, e o primeiro recomeço forçado. Na prática, o segundo recomeço em dois meses. Thiago Larghi assumiu, no que foi um ponto positivo, já que as opções no mercado não possibilitavam expectativas muito positivas: iam de Vanderlei Luxemburgo a Vagner Mancini. Melhor Larghi, que estava aí e conhecia o que tinha em mãos.
Mas o Atlético continuou nessa toada, de se desconstruir e se reconstruir. Valdivia, Pablo e Nathan saíram. Em março, foi a vez de Carlos César. Em abril, o clube contratou Matheus Galdezani, Emerson e Juninho e deu outro destino para Carlos, Felipe Santana e Danilo. Em maio, mais mexidas e duas delas, especialmente, sintomáticas: as saídas de Roger Bernard e Samuel Xavier, que expuseram o trabalho ruim de captação de jogadores. Vieram, nada fizeram e se foram. Prejuízo técnico e financeiro. Ainda deixaram o grupo César e Marco Túlio (um dos pratas da casa de maior potencial do Galo, usado para abater dívida com o Sporting pelo veterano Elias), e Hyuri, que havia retornado de empréstimo, mas não foi aproveitado.
Ainda que aos trancos e barrancos, em junho o Galo tinha um esboço de time. Uma espinha dorsal que, se ainda pecava pela instabilidade, começava a funcionar, a dar sinais de que poderia engrenar. Pelo menos o torcedor já começava a decorar a escalação. Aí veio mais um vaivém, desta vez com baixas importantes, que afetam diretamente a qualidade da equipe.
Otero foi vendido e Giovanni, que vinha sendo pouco aproveitado, rescindiu. Nada menos do que cinco chegaram: os gringos Chará e Terans, além de Denílson, Edinho e Zé Welison. No início de julho, mais quatro despedidas, duas delas de jogadores que estavam sendo fundamentais para elevar a perspectiva de bons resultados: Bremer, vendido para o Torino, e Róger Guedes para o Shandong Luneng. Fechando a lista, Arouca foi embora depois de pouco mais de seis meses no Galo (repassado ao Vitória, em outro exemplo de contratação equivocada) e Yago transferiu-se para o futebol árabe. O atacante Leandrinho, que estava no italiano Napoli, foi incorporado ao grupo.
Esse breve retrospecto ajuda a explicar o desempenho ruim do Atlético contra o Grêmio, na noite de quarta-feira, em Porto Alegre, na retomada do Brasileiro. Ao longo do ano, o alvinegro tem sido uma colcha de retalhos. Costura um pedaço, arranca outro. Remenda daqui e dali. E cada chegada, obviamente, vai requerer adaptação. De adaptação a adaptação, o time vai ficando desfigurado, sempre desajustado.
Difícil culpar o treinador num cenário assim. Ainda que tenhamos de admitir que muitos dos jogadores que saíram ou estavam subaproveitados ou não serviam mesmo, as muitas mudanças acabam por impedir a formação de uma unidade. E sem essa unidade não há entrosamento, sintonia. E, sem isso, não há boas atuações e bons resultados. O preço a pagar, geralmente, é alto.