Mas não foi assim tão fácil. Era preciso cautela para expurgar os fantasmas que vez ou outra costumam assombar o clube de Lourdes – assombração que ficou à espreita ao fim dos primeiros 45 minutos. A preocupação, as unhas ruídas, os cigarros acesos escondidos da fiscalização, mostravam que o torcedor alvinegro não estava gostando do que via. Na saída para o intervalo, eles se espremeram acima da entrada do vestiário cobrando empenho. “Capricha aí, Ronaldinho, estamos contigo”, incentivou um. “Raça, raça!”, pediram em coro os outros.
Se começou azul e branco, com direito a mosaico, “o Mineirão é nosso”, e dois gols de pênalti de Dagoberto, o estádio foi ficando alvinegro ao passo que o azul do céu dava lugar ao breu do início da noite. Os 45 minutos finais seriam decisivos para os alvinegros, que já escutavam chacotas do outro lado da grade. E foi da mesma marca de cal que o Cruzeiro abriu vantagem que Ronaldinho Gaúcho fez ressurgir os gritos de alegria.
O gol foi aos 33min e não demorou nem dois minutos para surgir o primeiro vendedor anunciando a faixa de bicampeão a R$ 10. “Já estava preocupado em perder o título e o investimento”, brincou um dos ambulantes. Dali em diante, foi só festa. De Victor a Bernard, todos tiveram o nome lembrado pelos torcedores.
Antes de ir embora, os cruzeirenses, em vantagem numérica, tentaram abafar a comemoração alvinegra, mas já era tarde. A noite já havia sido pintada de branco e preto. Depois de viver dois tempos distintos, da tensão à euforia, dois atleticanos puderam enfim desembrulhar o cartaz de cartolina: “Eu já sabia. Só vim assistir à missa de sétimo dia”.