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Casa perto do Independência vira palco de guerra com invasão de corintianos e bombas da PM

PM jogou bombas em residência cheia de crianças depois que local foi invadido por torcedores do Corinthians antes do jogo contra o Atlético no Estádio Independência

Pedro Ferreira


A família da dona de casa Inês de Araújo Cardoso, de 69 anos, viveu momentos de pânico neste domingo quando dezenas de torcedores do Corinthians invadiram a sua casa, na Rua Alexandre Tourinho, ao lado da Arena Independência, no Bairro Horto, Região Leste de BH, e o local se transformou em um palco de guerra quando militares do Batalhão de Choque entraram atrás e começaram a jogar bombas de efeito moral e de gás lacrimogêneo, destruindo portas e o banheiro.


No local havia mais de seis crianças, e uma sobrinha de Inês, grávida, precisou pular uma janela para escapar da confusão. O filho da dona de casa, o cabeleireiro Marcos Cardoso Pereira, de 37, se trancou no banheiro com mais seis torcedores e denuncia que a porta foi destruída a chutes pelos militares, que jogaram uma bomba de efeito moral dentro. O vaso sanitário foi arrancado. A banheira de um bebê foi partida ao meio.

Pedaços do vidro da janela deixaram cortes profundo na perna de Marcos. A sobrinha dele, Tília Cardoso, de 14, conta que foi empurrada por PMs para cima do fogão e teve a perna queimada pela panela de pressão que estava no fogo. Um outro filho de Inês, Anderson Cardoso Pereira, de 39, tentou impedir a PM de entrar na casa e teve o nariz quebrado com um golpe de cacetete.

Inês conta que a confusão pouco antes do jogo começar. Ela estava com a família sentada na calçada em frente à casa e dezenas de corintianos apareceram correndo dos PMs. “Onde tinha portão aberto, os torcedores entravam e a PM entrava correndo atrás. Corri para dentro de casa com as crianças e vários torcedores entraram atrás. Só no meu quintal tinha mais de 50”, conta a dona de casa. Os PMs, segundo ela, entraram na casa gritando para os torcedores saírem. “Os policiais bateram tanto nos torcedores dentro da nossa casa que tivemos que lavar o chão depois por causa do sangue”, conta Marcos. “Foi uma cena de guerra. Era tanta fumaça branca da bomba que ninguém enxergava nada. Só vi o clarão da bomba explodindo dentro do banheiro e meu corpo arder com os estilhaços de vidro da janela”, relata o cabeleireiro. Segundo ele, os torcedores foram liberados depois pela PM.

A briga, segundo a família, começou quando corintianos insistiam em comprar ingressos para o jogo, que já haviam acabado, e foram empurrados pelos PMs. Depois, houve outra briga porque a PM só permitia descer grupos de dez torcedores dos ônibus e a demora causou revolta, pois o jogo está quase começando. A vizinha Vanda Rodrigues dos Santos, de 55, tem um bar e conta que os PMs também invadiram o local dando tiros de borracha, jogando bombas. Cadeiras do bar foram quebradas. “Quase machucaram meu netinho de apenas seis meses”, reclamou.

O comandante do Batalhão de Choque (BPChoque), coronel Gianfranco Caiafa, informou que o caso será apurado. Ele disse ter sido informado que os militares entraram nas casas para proteger os moradores,. “Os torcedores entraram nas casas promovendo quebradeira e a PM foi para socorrer os moradores. A confusão começou porque a torcida queria furar a entrada no estádio e a Tropa de Choque usou a força e eles saíram correndo e entraram nas casas”, disse o coronel.

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Moradores da residência mostram restos de bombas e balas de borracha atiradas pela PM durante ação