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DA ARQUIBANCADA ESPECIAL

Perdão, a culpa foi minha

Ninguém desaprende a torcer! Nesta quarta-feira, vamos fazer a maior Rua de Fogo que já existiu e espero que você esteja lá, erguendo seu sinalizador

- Foto: BRUNO CANTINI / ATLÉTICO
Durante anos escrevi para quem quisesse ler sobre o orgulho de ser alvinegro e que o Galo nos bastava, convicto de que essa era uma das leis fundamentais do universoNão importava a fase, não importavam os pangarés que vestiam nossa camisa, não importava se era Libertadores ou torneio de porrinhaA gente era Galo Doido e prontoE éramos felizes pra caramba assim, pagando ingresso de “2 Real”, comendo tropeiro de verdade e gritando que Danilinho era Seleção.

Quando Victor defendeu aquele pênalti com o pé esquerdo, isolando toda zica grudada em cada atleticano para a pêquêpê, a coisa começou a mudarEu não vi, porque estava de costas para o lance, tipo o Fábio no gol do VanderleiVi depois pela TV e até hoje, quando vejo, dá um frio na barrigaParece que Riascos vai converter aquele maldito penal e me despertar de um sonho bom numa manhã de segunda-feira, quando já é hora de sair para o trabalhoAinda bem que o Victor sempre defende de canhotaAcontece que não vi nenhum pênalti daquela LibertadoresÉ uma superstição e não poderia quebrar a correnteImagina se a bola entra por minha culpa? Nem a pau
Valei-me, São Victor!

Pois éNão vi os pênaltis, mas vi quando Guilherme deu aquele chute de fora da área, contra o Newell’sTambém vi quando Ferreyra levou uma rasteira do destino e depois, quando Leonardo Silva testou aquela bola aos 42 da etapa finalOs pênaltis não vi e vocês já sabem o motivo, mas me lembro do barulho da bola batendo na trave, na cobrança derradeiraFoi ali que o Galo deu uma guinada na própria história: deixou de ser o time do quase e se transformou no time dos milagres, das viradas improváveis, no time do “eu acredito”Levantamos a mais emocionante Libertadores de todos os tempos e nossa gente sofrida finalmente encontrou a terra prometida, depois de 40 anos vagando pelo deserto.

No ano seguinte, eu fui testemunha de algo espetacular: eu vi nossa torcida ganhando um campeonatoQuem ainda ousa dizer que torcida não ganha jogo, precisa urgentemente assistir aos jogos do Galo daquele anoFomos nós, sim, que vencemos aquelas partidasO time era bom, claro, mas os dois – torcida e time – eram um só, com uma viseira que nos permitia enxergar apenas a vitóriaQuem viveu aquilo de perto sabe: a energia que vinha da arquibancada era coisa de doido
Não tinha jogo perdido, não tinha placar irreversívelCorinthians e Flamengo que o digamNosso maior ex-rival também sofreu na nossa mão e na bendita Quarta do Goulart levantamos mais um troféuO choro foi livre.

Agora, em 2016, chegamos às fases decisivas da Libertadores e do Super RuralO Galo precisa apenas de duas vitórias simples para levantar o caneco regional e passar para as quartas de final do torneio continentalTarefas simples e tranquilas, fossem outros temposEu, insone atleticano, estou acordado aqui às 3 da manhã – a tal da hora do capeta – angustiado, precisando mandar a real para vocês, irmãos alvinegros (juro não estar possuído por nenhuma entidade maligna): se não houver uma mudança de postura imediata da nossa torcida, estamos ferradosSe não apoiarmos 100% esse time, de nada valerá o gol de Lucas Pratto aos 48 do segundo tempo contra o AméricaSe não estivermos juntos com os caras, terá sido em vão toda luta em AvellanedaE aí, meu amigo, seremos novamente o time do quaseÉ isso que você quer? Não, né.

A boa notícia é que ainda há tempo de reverter o quadro de crüzeirização bizarra da MassaEntão, acorda, pô! Ninguém desaprende a torcer! Nesta quarta-feira, vamos fazer a maior Rua de Fogo que já existiu e espero que você esteja lá, erguendo seu sinalizador, mostrando para o Brasil e o mundo que a Massa é fodaQue o Independência seja transformado num caldeirão sinistro, capaz de fazer tremer o adversário, como nos bons tempos do Cemitério do HortoQue eles borrem as calças e tenham vontade de sair correndo, pegar o primeiro voo atrás do colo da mamãe, lá na Argentina.

Que no domingo a dose se repita no Gigante da PampulhaQue a diretoria ajude também, colocando ingressos a preços populares, para que possamos abarrotar o Mineirão e gritar insanamente, como se fossem os últimos 105 minutos das nossas vidasVamos fazer o que fazemos de melhor, que é levar o Galo à vitóriaDa minha parte, prometo nunca mais cair em tentação e não ver mais nenhuma cobrança de penal..perdão, Robinho, no último domingo a culpa foi minha.

* Fred Kong é atleticano e pontoTodo o resto é por acréscimoTorce pelo fim do futebol gourmet, pela volta das chuteiras pretas e para que o crüzeiro consiga retornar às finais do Campeonato Mineiro algum dia