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Ligeirinho, patrimônio alvinegro: com 40 anos de Galo, auxiliar só pensa no título brasileiro

Rubens Pinheiro viveu os anos dourados de Reinaldo e se encanta ao falar de R10

Roger Dias
Ligeirinho ganhou o apelido de Marcelo Oliveira porque ia correndo todos os dias de casa até a Vila Olímpica - Foto: Leandro Couri/EM/D.A Press
Ele conhece o Atlético como poucos e tem o clube no sangueJá conviveu com vários ídolos do passado e participou ativamente dos momentos de glória do alvinegroSem a fama de atletas como Victor, Robinho e Fred, o auxiliar de campo Rubens Pinheiro, de 63 anos, esbanja humildade e simplicidadeNo Galo, quase ninguém o conhece pelo nomeDo técnico Marcelo Oliveira, nos anos 1970, o modesto funcionário ganhou o apelido de Ligeirinho, pelo qual ficou conhecido pelos colegas na Cidade do Galo e pela torcidaEm 2016, ele completa quatro décadas de serviços prestados ao clube de Lourdes, com direito a placa de homenagem e gratidão vinda da diretoria.

Mas por que o apelido de Ligeirinho? O próprio explica: “Quando comecei a trabalhar na Vila Olímpica, antigo centro de treinamento do Atlético, saía da minha casa correndo até lá (cerca de 13 quilômetros)Fiz isso por mais de 20 anosPara mim, era uma coisa normalChegava e ainda trabalhava no time profissionalFoi o Marcelo Oliveira quem me colocou esse apelido”Ligeirinho vive seu dia a dia no CT de Vespasiano ajudando os treinadores na reposição de bolas, na montagem dos campinhos nos treinos e na organização do material
Sua trajetória começou em 1976, quando começou a trabalhar no time juvenil com o técnico BarbatanaDepois, teve passagens por todas as categorias do clube: júnior, profissional, feminino e futsal.

Ligeirinho frequentava o clube de Lourdes desde os 8 anos, por influência do pai, que trabalhava na Vila OlímpicaEle marcou seu nome no Galo em outra vertente: o atletismo – por isso, o apelido também se encaixou com outra de suas especialidadesEle já era corredor de rua quando serviu no Exército, no fim dos anos 1960Depois, tornou-se atleta do Atlético, que foi um dos primeiros em Belo Horizonte a investir na modalidade“Tínhamos uma equipe de corredores de rua dos melhores do BrasilO Atlético ajudava com transporte, passagens e hospedagemDisputei provas em São Paulo, Rio e no resto do BrasilParticipava de todas as categorias, seja ela 5km, 10km ou 40kmAté provas de 100km eu cheguei a correr
Comecei a ter grandes resultados e me dediquei à maratona”, conta o funcionário alvinegro.

Placa comemorativa: homenagem alvinegra - Foto: Leandro Couri/EM/D.A PressA preparação do auxiliar era intensaTodos os dias eram 35 quilômetros percorridosTudo isso ao mesmo tempo em que trabalhava no dia a dia de treinos da equipeEle lamenta os poucos recursos naquela época: “O atletismo não tinha apoioHoje é o contrário, porque um atleta tem patrocínio e corre no mundo inteiroEu corria maratona de congaNão havia investimentoFazíamos por amor ao esporte e satisfação pessoal”.

Por causa das andanças pelo Brasil nas corridas e por causa do trabalho, Ligeirinho se tornou amigo de todos, inclusive dos grandes ídolos da história do Atlético“Trabalhei com o Cerezo, com o Reinaldo e com o ÉderEram jogadores de Seleção BrasileiraEles gostavam da genteNós cobrávamos muito deles nos treinos.” Para Ligeirinho, um outro craque se tornou diferenciado em toda a história“Um jogador que marcou realmente foi o RonaldinhoEle marcou a vida do clubeEu o conhecia de vista, mas quando ele veio para cá a história mudouA gente imaginava que ele fosse um ídolo e medalhãoMas na realidade ele é medalha de lataMuito simples, humilde e mudou a história do AtléticoConversava, foi muito bacanaNenhum funcionário vai se esquecer dele.”

Ligeirinho e Ronaldinho ficaram tão próximos que o camisa 10 o presenteou com o par de chuteiras que ele usou em seu último jogo pelo clube – na conquista do título da Recopa Sul-Americana, contra o Lanús, no Mineirão, em julho de 2014O presente está guardado num cantinho da sala da casa de Ligeirinho, assim como inúmeras bolas históricas, medalhas, camisas especiais e fotografiasO funcionário presenteou o goleiro Victor com a bola do jogo contra o Tijuana, que se tornou fundamental na conquista da Copa Libertadores de 2013 – o goleiro fez uma defesa de pênalti com o pé aos 47min do segundo tempo, em chute de Riascos, e garantiu a classificação às semifinais.

SONHO DO TÍTULO O auxiliar de campo já passou por momentos épicos no Atlético, mas sustenta um sonho: ver a equipe ser campeã brasileira, o que pode ocorrer em 2016“O Atlético busca isso há muitos anos e não conseguiu por muitos fatoresEm 1971, eu ainda não era funcionárioEu vivia dentro do clube, porque meu pai trabalhava lá, mas não trabalhei efetivamenteA realidade é que o Atlético foi muito prejudicadoSe as coisas ocorressem de forma diferente, estaríamos com cinco títulos nacionaisInfelizmente, as coisas extracampo foram problemasJá temos uma Copa do Brasil e a Copa LibertadoresMerecemos o Brasileiro”, diz Ligeirinho.

Ele vive uma vida longe dos holofotes e da famaSempre que tem tempo, vai ao sítio e fica com a família“A gente vive tantos anos no futebol que não temos mais ilusãoNós buscamos é resultado no campoNunca me importei em ser famoso ou ficar conhecidoSou um cara que convivi com ídolos e fiz com trabalho, mas nunca me importei com vaidadesMinha vida sempre foi simples e centrada na busca pelo bem- estar dos jogadores”, afirma.