O ano era 1997. Aos 17 anos, Leonardo Silva treinava pela primeira vez entre os profissionais do América, do Rio de Janeiro. O começo se confunde com o sonho de inúmeros garotos que enfrentaram obstáculos para se tornarem jogadores de futebol e defender um grande clube. Poucos conseguem. “Às vezes, não tinha o dinheiro para o lanchinho e pedia para passar por baixo da roleta no ônibus para sobrar um pouco mais para o treino seguinte”, recorda. Vinte anos depois, Leonardo Silva não está mais no grupo de sonhadores. Escreveu uma história peculiar de sucesso, que teve o Atlético como aliado.
“Faço um balanço muito positivo, com crescimento. Comecei no América-RJ. Em 1997, passei a treinar com os profissionais. Foi meu início. Todos os clubes por onde passei me fizeram crescer e evoluir como atleta, como homem e profissional. Procurei tirar cada informação de cada clube para complementar na minha história e na minha carreira”, diz o zagueiro, exibindo as oito medalhas de campeão alcançadas no Atlético.
Leonardo Silva já tinha 31 anos quando assinou com o Atlético, em janeiro de 2011. Na temporada anterior, havia sido capitão do arquirrival alvinegro, o Cruzeiro. Mas foi como capitão do Galo que o zagueiro encontrou as maiores glórias da carreira. Na memória do atleticano estão a firmeza do defensor e o brilho nos momentos decisivos. O gol de cabeça na final da Copa Libertadores contra o Olimpia virou um dos símbolos da épica campanha. A marca de 300 jogos pelo clube está próxima. Já são 294 partidas defendendo o Alvinegro.
O orgulho do passado não faz Leonardo Silva abandonar o presente. Aos 37 anos, o zagueiro segue como titular absoluto do Atlético. “Procuro fazer todos os treinos para que meu corpo se adapte e tenha condições de fazer o que sei fazer.”
E o futuro? Leonardo Silva não pensa em aposentar as chuteiras no final do ano. Ele também não se vê defendendo outro clube que não seja o Atlético. Mas quando chegar a hora de parar nos gramados, o zagueiro quer estar preparado para novos desafios, e no Galo. Leonardo Silva cursa Educação Física. Está no segundo período. “Penso em me formar já visando uma carreira depois.”
Confira a entrevista completa de Leonardo Silva ao Superesportes
Balanço dos 20 anos de carreira
Faço um balanço muito positivo, com crescimento. Comecei no América-RJ. Em 1997, passei a treinar com os profissionais. Foi o início. Todos os clubes por onde passei me fizeram crescer e evoluir como atleta, como homem e profissional. Procurei tirar cada informação de cada clube para complementar na minha história e na minha carreira.
Dificuldades e superação
Elas são iguais às de todo menino que sonha em ser atleta profissional, que vem de família carente, mas que tem o sonho de ser jogador. Há dificuldades de não ter dinheiro para condução. Morava em São Gonçalo e tinha que viajar durante duas horas, atravessar a cidade. Pegava dois ou três ônibus ou pegar uma carona. Depois do treino, tinha que ir para a escola à noite e depois treinar no dia seguinte. Às vezes, não tinha o dinheiro para o lanchinho e pedia para passar por baixo da roleta do ônibus para sobrar um pouco mais para o treino seguinte. Nunca faltou alimentação graças ao trabalho do meu pai (Luís Carlos da Silva). Ele trabalhava como eletricista e tínhamos muita dificuldade em casa e cuidávamos de casa, da minha mãe (Angela Maria da Silva). Tinha que compartilhar tudo isso com meus irmãos para mantermos a família unida. Procurei estudar e ter tudo que um menino tem na infância, que é um sonho de ser atleta. Essa dificuldade me ajudou a ficar mais forte.
Pensou em desistir?
Em 1996, eu troquei a base do Botafogo pela do América-RJ. Nesse momento oscilei um pouquinho em saber se continuava no futebol, mas graças a Deus continuei no futebol.
Carreira dividida em dois momentos
Minha trajetória é dividida em dois momentos, mas essa fase de afirmação veio um pouco antes do Atlético. Aqui tive as conquistas e a evolução num clube grande. Mas, antes disso, já vinha sendo consolidada a carreira desde que voltei dos Emirados Árabes. Minha participação no Vitória foi muito positiva e, os clubes menores me fizeram evoluir para que quando tivesse a oportunidade num brilhante, como aconteceu no Cruzeiro, eu não a desperdiçasse. Passei pelo Palmeiras em 2005 e 2006 muito novo e não tive chance. Aproveitei numa segunda oportunidade para que minha carreira decolasse. Graças a Deus isso ocorreu.
Passagem pelos Emirados (entre 2007 e 2008, defendeu o Al-Wahda)
Foi muito rápida, mas foi positivo por ser um país com cultura diferente, onde o futebol não é igual a outros centros importantes. Voltei mais amadurecido e pude dar continuidade à evolução no Vitória para chegar ao ápice como ela chegou.
Nome na história do Galo
Superar lesões
A desconfiança sempre existe. Todas minhas dificuldades foram por conta de lesão, seja no Atlético ou no Cruzeiro, onde é preciso se recuperar e voltar a fazer melhor aquilo que estávamos fazendo. Procurei me concentrar para superá-las. Tanto no Cruzeiro quanto no Atlético, elas foram bem sucedidas. Até hoje busco evoluir para que possam jogar por mais tempo e o Atlético volte a conquistar outros títulos.
Longevidade na carreira
Por incrível que pareça, a preparação é normal. Faço tudo o que os outros atletas fazem, mas com um cuidado maior de carga, para que isso não coincida com treinamentos e jogos e acabe me prejudicando. Hoje, os treinamentos são evoluídos e pensados no melhor para o atletas. Mesmo com 37 anos, procuro fazer todos os treinos para que meu corpo se adapte e tenha condições fazer o que sei fazer.
Renovação de contrato (atual vínculo termina no final do ano)
Vida após aposentadoria dos gramados
É uma coisa que está amadurecendo. Meu pensamento é permanecer no futebol. Faço Educação Física e penso em me formar já visando a uma carreira depois. Estou acompanhando essa evolução para que eu possa me preparar fora de campo da mesma forma que faço como jogador".
Cargo administrativo ou dentro do campo?
É difícil pensar isso agora. Não dá para escolher entre ser diretor ou treinador. Quando parar, vou selecionar aquilo que se encaixa no meu perfil para que eu possa fazer em boas condições.
Trabalho de Roger Machado
O Roger passa tudo mastigadinho para nós. A gente tem que fazer tudo dentro de campo. O grupo é experiente e tem referências com carreiras vitoriosas em outros clubes e até no exterior. Não temos apenas uma liderança. É uma série de jogadores que fazem com que o clube se fortaleça e têm opiniões decisivas e fortes para a evolução dentro e fora de campo.
Momento de cobranças
Foram cobranças injustas, mas conseguimos fazer que elas não interferissem dentro de campo. Alguns comentários vieram com o intuito de criar polêmicas e se tornou o principal ponto. Acabaram influenciando as decisões de alguns torcedores, que tomaram atitudes erradas e agredissem alguns atletas materialmente. Repercutiu não só dentro do Atlético, mas em toda Minas Gerais, que não compactuou com isso. A equipe vinha numa evolução e estávamos perto de disputar uma final. Mas conversamos para que não interferisse dentro de campo e, graças a Deus, conquistamos o título, dando resposta aos que não acreditavam.
Vibração com a conquista do Mineiro
Brasileirão (Galo estreia sábado contra o Flamengo, no Maracanã)
Acho que não tem que fazer algo diferente. Chegamos numa conquista em ponto de igualdade com outros adversários. Disputamos até o fim. Temos que seguir o mesmo caminho, procurando errar menos nos principais jogos, tentando manter uma regularidade para que a gente conquistar essa taça.
Experiência e juventude na zaga
A parceria com Gabriel (zagueiro é o mais jovem do time titular, com 22 anos) tem dado certo, pois une a juventude com experiência. Conseguimos conciliar isso para que o Atlético se torne forte defensivamente. Gabriel é um excelente jogador, que em breve vai se tornar atleta de seleção e que está em evolução. Esperamos dar sequência a esse trabalho para que o Atlético se torne forte.
Leonardo Fabiano da Silva e Silva
Data de Nascimento: 22 de junho de 1979
Naturalidade: Rio de Janeiro-RJ
Carreira
América-RJ - 1997/2001
Brasiliense-DF - 2002/2003
Bahia-BA - 2004
Palmeiras-SP - 2005
Portuguesa-SP - 2006
Juventude-RS - 2007
Al-Wahda-EAU - 2007/2008
Vitória-BA - 2008
Cruzeiro - 2009/2010
Atlético - 2011/2017
Seleção Brasileira - 2012
Títulos
2002 - Campeonato Brasiliense - Brasiliense-DF
2002 - Campeonato Brasileiro Série C - Brasiliense-DF
2008 - Campeonato Baiano - Vitória-BA
2009 - Torneio de Verão - Cruzeiro
2009 - Campeonato Mineiro - Cruzeiro
2012 - Campeonato Mineiro - Atlético
2012 - Superclássico das Américas - Seleção Brasileira
2013 - Campeonato Mineiro - Atlético
2013 - Copa Libertadores da América - Atlético
2014 - Recopa Sul-Americana - Atlético
2014 - Copa do Brasil - Atlético
2015 - Campeonato Mineiro - Atlético
2016 - Florida Cup - Atlético
2017 - Campeonato Mineiro - Atlético