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Diretor diz que projeção financeira para arena do Atlético é 'conservadora' e fala se eventos podem atrapalhar utilização para jogos

Conselheiro do clube e principal mentor de estudos sobre estádio, Bernardo Farkasvölgyi comentou ainda as inspirações e experiência "caldeirão"

João Vitor Marques
Votação no próximo dia 18 definirá se projeto do estádio do Atlético será ou não aprovado por conselho - Foto: Reprodução/Projeto do estádio
A diretoria do Atlético se movimenta nos bastidores para conseguir 260 votos favoráveis do Conselho Deliberativo e dar sequência ao plano de construção do novo estádio. Principal mentor de projeções que também serão debatidas no dia 18 de setembro, o diretor da empresa responsável pela produção do projeto da arena Bernardo Farkasvölgyi mostrou otimismo: “Eu, pessoalmente, acho até que este estudo está um pouco conservador”, disse em entrevista ao Superesportes.

A estimativa inicial é que o clube arrecade R$ 27 milhões com o estádio já em 2020, ano previsto para inauguração da obra. A projeção de média de renda líquida anual para as primeiras 21 temporadas é de mais de R$ 36 milhões - R$ 20 milhões a mais que o total de 2016.

“É ‘conservador’ na minha opinião porque acho que o ticket médio estipulado está muito baixo e acho que o público médio também está muito baixo. Acho que a realidade é que seja mais alto. É minha opinião pessoal, não do Atlético”, continua Farkasvölgyi. A previsão é que a média de público seja de 23 mil torcedores - 4 mil a mais que na última temporada. O valor médio dos ingressos projetado é de R$ 43,16.

Valores para a construção

O principal ponto do projeto que será votado na próxima segunda-feira é sobre a venda de 50,1% do Diamond Mall, um shopping na região centro-sul de Belo Horizonte, por R$ 250 milhões. Este valor viabilizaria a construção do estádio no bairro Califórnia, Região Noroeste da capital.

A diretoria alvinegra defende que conseguirá R$ 100 milhões com a venda de cadeiras cativas (60% do valor já garantido pelo BMG).
Os naming rights serão adquiridos pela MRV por R$ 60 milhões. Além desses valores, Farkasvölgyi argumenta que outras rendas podem ser conseguidas pelo clube.

“Se o Atlético negocia questões de bebidas e comidas agora, é um valor. Se negocia depois, com a obra ‘subindo’, é maior. Tem uma série de possibilidades de receitas que não foram exploradas e vão ser no momento certo, o que é muito bom para o caixa do Atlético”, disse o diretor, que também é conselheiro eleito do clube. Negociações sobre os estacionamentos também serão definidas posteriormente.

Multiuso até que ponto?

Ideia da diretoria do Atlético é utilizar a esplanada do novo estádio para a realização de outros eventos - Foto: Reprodução/Projeto do estádioNo projeto, a diretoria do Atlético cita dois estádios brasileiros como inspiração: a Arena Corinthians e o Allianz Parque. A administração, entretanto, será diferente da que é praticada na casa do Palmeiras.

A ideia do Atlético é que a arena também seja multiuso, ou seja, permita a realização de eventos como feiras, shows e congressos. Segundo Farkasvölgyi, no entanto, não há possibilidade de esses eventos sejam priorizados em detrimento do futebol.

“Nunca. A gestão compartilhada no Allianz Parque foi negociada para que a WTorre tenha preferência de datas para os eventos em relação ao futebol. Isso nunca vai acontecer, porque o próprio Atlético administrará a arena”, disse.

A projeção é que o estádio seja utilizado, em média, 38 vezes por ano para jogos de futebol. A análise do clube, entretanto, cita jogos da Primeira Liga e da Copa Libertadores - competições que podem não estar no calendário do time mineiro nas próximas temporadas. Questionado sobre a rentabilidade do estádio em anos sem competições internacionais, Farkasvölgyi apostou na realização de eventos.

“Nossa cidade geograficamente está bem localizada, perto de Rio, São Paulo, Salvador. Ela é perfeita para a possibilidade de exploração de turismo, negócios e eventos. Posso fazer uma feira, um congresso, shows, diversos eventos entre 5 mil e 20 mil pessoas, que é uma coisa que não existe em BH, uma série de atividades dentro do espaço externo e interno”, disse.

Inspirações, “caldeirão” e outros pontos

Durante a entrevista, Bernardo Farkasvölgyi também comentou a tentativa de popularização do estádio com a volta da “geral”, explicou as inspirações para o design interno das arquibancadas e falou da busca pela experiência do “caldeirão”.
Veja outros pontos da conversa com o diretor responsável pelo projeto.

Como você avalia as projeções financeiras do Atlético para o estádio?

É ‘conservador’ na minha opinião porque acho que o ticket médio estipulado está muito baixo e acho que o público médio também está muito baixo. Acho que a realidade é que seja mais alto. É minha opinião pessoal, não do Atlético. Acho que vai conseguir mais do que isso. É nesse ponto que coloco que é mais conservador. Se o Atlético negocia questões de bebidas e comidas agora, é um valor. Se negocia depois, com a obra subindo, é maior. Tem uma série de possibilidades de receitas que não foram exploradas e vão ser no momento certo, o que é muito bom para o caixa do Atlético.

As projeções dependem de jogos que podem não ocorrer em determinadas temporadas em que o clube não se classificar para a Libertadores, por exemplo. Como suprir essas lacunas?

Com eventos. Em Belo Horizonte, temos o Expominas (com 10 mil metros quadrados), o Minas Centro (com 4 mil metros quadrados).
Nossa cidade geograficamente está bem localizada, perto de Rio, São Paulo, Salvador. Ela é perfeita para a possibilidade de exploração de turismo, negócios e eventos. Posso fazer uma feira, um congresso, shows, diversos eventos entre 5 mil e 20 mil pessoas, que é uma coisa que não existe em BH, uma série de atividades dentro do espaço externo e interno. A esplanada ainda tem uma área de 10 mil metros coberta, que se pode fazer outros tipos de feira. Em uma temporada ruim, isso sobreporia os dias de não futebol. Todo o planejamento está sendo feito.

O uso para outros eventos pode atrapalhar o uso para o futebol, como no Allianz Parque?

Nunca. A gestão compartilhada no Allianz Parque foi negociada para que a WTorre tenha preferência de datas para os eventos em relação ao futebol. Isso nunca vai acontecer, porque o próprio Atlético administrará a arena. Para eventos, a logística de montagem é não entrar dentro do gramado. Colocar um caminhão atrás do gol para não pisarem no gramado. E um outro palco em cima da arquibancada inferior, seja para show grande ou pequeno. A logística é montar um show e desmontar tudo em 24 horas. O futebol é a palavra de ordem. E temos outras duas questões importantes. Se eu vou no Mineirão atrás do gol ou no meio do campo, a experiência é a mesma. A gente, na nova arena, está com a volta da geral. Os dois setores atrás dos gols não terão cadeiras. É arquibancada com preços populares. O restante do campo está sendo setorizado. A experiência no nosso estádio será bem bacana.
Qual a proporção de ingressos para a “geral”?

Cerca de 20%. Em torno de 9.700 lugares (serão comercializados a preços populares). (Manteremos) O conceito de caldeirão. Serão 6,5m da arquibancada para o campo, mas num conceito de arena mais moderna. Não terá barreira. A torcida precisa ser educada para saber que não pode invadir. Essa experiência é para ser realmente um caldeirão.

Como funcionará a logística para a entrada das diferentes torcidas?

A torcida adversária entra por trás, via BR-040. Isso foi discutido em reuniões com comando da PM e do Corpo de Bombeiros. Tivemos reuniões no Ministério Público, nos adiantamos e entendemos que a participação do MP é essencial. Foi muito bom, porque a gente discutiu vários fatores em termos de segurança, não só em dia de grandes eventos, mas também da própria construção. No fundo, no fundo, a gente está se precavendo para evitar brigas de torcida, melhorar saídas de estádio em dias de grandes eventos… Teremos portas mais generosas, possibilidades de acessos em todos os níveis. Não tem escada para a arquibancada superior, são seis rampas. No Independência, a bilheteria está no mesmo lugar que se entra. No estádio, a bilheteria está em um cantinho da esplanada, bem longe do anel. Para que o torcedor saiba que no anel é só entrada.

Quais mudanças serão feitas no trânsito da região?

O trevo do Anel Rodoviário com Via Expressa tem que ser feito. Isso, inclusive, já é um projeto básico já aprovado. Projeto é uma demanda do governo federal que está sendo muito bem negociado. Já tem uma verba para isso. Facilidade para chegar ao estádio. A estação Eldorado é para chegar à arena sem cruzar um carro. Como se fosse quase que ter uma estação de metrô dentro da arena, sem risco nenhum. A esplanada será aberta à comunidade em dias que não tiver evento. A comunidade poderá usar uma área de mais de 50 mil metros quadrados, além do parque que será criado atrás. Isso, obviamente, está dentro do esforço como um todo da arena.

Quais foram as inspirações do estádio?

Visitei estádios também por meio de pesquisa, bibliografia, plantas, projetos de arquitetura, acesso a consultorias. Acessamos muita bibliografia. Pegamos o que tinha de melhor em todos eles - e não somente no da Juventus - e o que tinha de pior. Propomos uma arena que tenha tudo o que deu certo e evite o que deu errado. Obviamente, eu, como autor do projeto, é difícil dizer que será a arena mais moderna do Brasil. Mas será uma das (mais modernas). Porque pode ficar parecendo que sou prepotente, o que não é o caso. Inspiração do projeto vem de onde? Vem do meu tempo em que eu frequentava o Mineirão da década de 1970, 1980, em que colocávamos 110 mil pessoas. A torcida jogava faixas preto e brancas de cima da arquibancada chegando até a geral. Essas listras da fachada é que nos inspiraram para poder dar o visual do estádio. E também, obviamente, a camisa do Galo. A inspiração é o próprio Atlético. Veio do que é do Galo.
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