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Contratações, programa de análise e modelo único de jogo: Rui Costa passa a limpo mudanças na base do Atlético

Dirigente comenta novidades nas divisões inferiores do alvinegro

<i>(Foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)</i>

O Atlético passa por reestruturação das categorias de base. As mudanças são comandadas por Rui Costa e Júnior Chávare, respectivamente diretor de futebol e coordenador das divisões inferiores do clube. Entre as novidades estão: busca por jovens jogadores em processo avançado de formação, a contratação de uma empresa especializada para analisar os dados de todos os atletas mais novos e a escolha por um modelo único de jogo - igual ao do time profissional -, para todas as idades no alvinegro.

Rui Costa diz que vem tomando as decisões em conjunto com Júnior Chávare. Ele explicou que, desde a chegada, encontrou problemas na base do clube e vem tentando solucioná-los com novas propostas: uma delas é um plano de carreira para jogadores e treinadores. 

“Eu não acredito em clube grande que não tenha uma base forte, uma base formadora. Desde a primeira conversa que tive com o presidente Sérgio Sette Câmara, ele me deixou muito claro, que eu iria interferir na formação. Nós (junto a Júnior Chávare) identificamos alguns problemas que são muito evidentes. Não é uma crítica a quem estava aqui, mas você não pode colocar seis atletas da base no profissional só para dizer que tem atletas da base”, disse o dirigente, em entrevista exclusiva ao Superesportes.

“Quando você pega jogadores que não estão prontos e aptos a jogar no Atlético e traz eles para sua formação, dentro de processos que estamos evoluindo, com um departamento de lapidação, como fizemos em outros clubes… às vezes, o atleta precisa se preparar melhor. O Rodrigo Santana é um exemplo disso, é um profissional que veio de lá, vamos interagir cada vez mais. O treinador que assume o sub-20 é o do sub-17. Estamos passando para nossos profissionais que isso é um plano de carreira, ou seja, trabalhe bem, forme bem os atletas, que o atleta que você formou vai te encontrar lá no ápice. Isso é extraordinário”, completou. 

O primeiro passo é buscar jogadores jovens, em processo de formação avançado. Para isso, a diretoria promete ser agressiva. O exemplo de sucesso utilizado por Rui Costa é o Palmeiras, que costuma conseguir bons negócios para as categorias de base.

“O clube está investindo fortemente para criar condições e possa ser agressivo num mercado em que os clubes são hoje. Gosto de citar o Palmeiras porque conheço os profissionais que lá trabalham. O Palmeiras é um clube muito agressivo nessa faixa etária de 16, 17, 18, 19 anos. Não há mais espaço no futebol para ter um menino dos 13 aos 19 anos no seu clube. Você precisa ter garotos a partir dos 11, 12, 13 anos, para um processo de iniciação, para ter torcedores, o pai indo lá, para ter consumidores. Os grandes atletas de formação serão os que vão chegar aos 16, 17, vindo de outro do clube, que serão preparados para serem grandes atletas”.


Programa de análise

O Atlético negocia com uma empresa internacional para ter um programa capaz de fazer análises minuciosas nas categorias de base do clube. Rui Costa vê essa parceria como fundamental para conseguir ter todos os dados dos atletas. No entanto, ele pede paciência para que o processo seja feito com calma e, no futuro, alcance o efeito desejado pelos dirigentes. 

“Estamos negociando com uma empresa global, que vai trazer métricas para o Atlético. Ou seja, vamos ter conceitos muito claros, matemáticos e estáticos, do que um lateral-direito do Atlético precisa ter desde os 16 anos para chegar ao profissional. Não vai ter como contar história, vai estar protocolado, vai ser um documento com modelo de jogo, filosofia de jogo. Estamos criando um sistema de coordenação técnica para todos os treinadores da base, para que eles respeitem, de forma vertical, como o Atlético joga, o que o torcedor do Atlético exige de um jogador, o que eu espero de um volante ou de um lateral. Isso é um trabalho que leva um ano, dois, dois anos e meio até colher os frutos”, concluiu.

Veja outros trechos da entrevista de Rui Costa ao Superesportes

Rodrigo Santana acompanhando a base

Estamos criando agora, a partir do sub-20, a transição do Atlético, que não é um time sub-23, que às vezes é só despesa. Vamos ter, no sub-20, a antessala do futebol profissional. O melhor meia do sub-17 vai jogar ali; o melhor meia de 19 anos vai jogar ali. Nós vamos ver, o Rodrigo vai ver. Vamos implantar como protocolo do treinador que trabalhar no Atlético que, uma vez por semana, ele vai ter que acompanhar a equipe sub-20. 

Uma vez por semana, o Rodrigo vai estar in-loco no treino do sub-20. O treinador do sub-20 vai estar uma vez por semana conosco para conversar com o Rodrigo e vai falar sobre algum jogador da base. E o Rodrigo já vai saber. Isso é para que o diretor de futebol, antes de contratar um jogador por US$ 6 milhões, ele pense bem antes de fazê-lo, porque deve ter esse jogador na base. Não é discurso, nós já temos um plano de ação. 

O Júnior foi contratado, já estamos trazendo jogadores. Chegou agora o Bruno Silva, da Chapecoense, que é um desses casos de, não me interpretem mal, de ‘deformação’. É um jogador que rapidamente ascendeu, jogou Libertadores, Campeonato Brasileiro, eu fiz o primeiro contrato dele, tivemos assédio de clubes portugueses, milhões envolvidos. De alguma forma, ele não estava preparado para isso. Agora, com muita humildade, ele vem para o sub-20 do Atlético, um jogador que já disputou Libertadores, porque ele entendeu que precisa se formar. Vamos preparar esse atleta para quem saber ser, daqui seis meses, um ano, dois, um dos grandes jovens jogadores do futebol brasileiro no Atlético. Ou não, vamos nos dar conta de que ele não conseguiu atender as metas, as métricas, que vamos estabelecer na base.

Cuidado com os jovens

Lançar um atleta da base, com a camisa do clube onde ele sempre esteve, no profissional, é talvez uma das tarefas mais difíceis de qualquer profissional que esteja no futebol: treinador, diretor executivo, presidente. Por que? Porque você pode colocar em risco a vida e a carreira do atleta se isso não for bem conduzido.

Parceria com clubes portugueses

Vamos começar a pegar jogadores nossos, que já atingiram um limite (de idade) que não lhe permite mais jogar na base, mas que confiamos e depositamos muita confiança na sua qualidade. Nós vamos colocar esses jogadores na Europa. Eu preciso ver eles jogando, submetidos a processos de adversidade, contra jogadores de outra cultura tática. Lá eu consigo ver se ele vai voltar e ser meu jogador aqui. Por isso eu digo, até que ponto estar no profissional é formação? Ele não joga, só treina, não é escalado, não é sequer cogitado, porque ainda não tem condições. Isso é formação? Não, isso é criar estatísticas que te favorecem. 

O Atlético ter quatro jogadores da base atuando no futebol português, numa Série B, levando porrada, tendo adversidades e entendendo o que é estar no Atlético e não estar no Atlético, valorizando porque tem que estar pleno em sua atividade profissional para não sair do Atlético. Isso é formação. Às vezes você tem oito jogadores da base no profissional que não agregam nada para você e você não agrega nada para eles. Aí, eles jogam dois jogos e a torcida diz que não dá mais, não aguentam mais o cara. Aí ele vai para outro clube, é vendido por R$ 40 milhões e o diretor de futebol é um imbecil. Esse é um processo muito rigoroso, que tem uma maturação muito complexa e que a gente está tratando como prioridade.

Negócio já está encaminhado?

Existem vários clubes interessados na parceria. Vamos priorizar alguns clubes porque vamos conhecer a estrutura, vamos conhecer os princípios formadores, quem são os treinadores. Eu não quero que um jogador nosso vai para um clube, aí o dirigente contrata um treinador croata que não trabalha com brasileiros, e aí nosso projeto vai para o ar. Vamos procurar clubes que possamos conversar, compartilhar, trazer treinadores de lá para cá, levar os nossos para lá.

Teto de gastos na base

Não existe um teto de gasto para contratar jogadores para a base. O Bruno Silva é um caso de transição. O custo mensal do Bruno não vai ficar na base, vai ficar no profissional. O salário do Bruno é um salário pequeno, mas é acima do padrão da base. Dentro da política orçamentária, ele vem para o meu centro de custo, mas ele estará na base. Vamos trazer três ou quatro jogadores que a opção de compra de 70% é de R$ 150 mil. Esse valor é porque vimos coisas que ninguém viu. Temos uma capacidade de negociação muito boa na base. E não é o Rui que está negociando, é o Júnior, que tem um conhecimento prévio, um banco de dados. Hoje temos, acima de qualquer coisa, a camisa do Atlético. Quando o atleta vê que é o Atlético, o processo de formação que o Atlético está desenvolvendo, o atleta força para vir para cá.

Multa de R$ 2,5 milhões para comprar Bruno Silva, da Chapecoense

O Bruno está fora do padrão normal, já jogou Libertadores, disputou competições importantes. Mas a média de gasto vai ser de R$ 150 mil, R$ 200 mil, R$ 300 mil. A exceção é quando você traz um jogador fora de série, como eu acho que é o Bruno. Se ele colocar a cabeça no lugar e entender a oportunidade que a vida está lhe dando, vocês vão ver que ele vai revelar muita coisa boa.

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