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COPA LIBERTADORES

Abel prepara mudanças táticas no Palmeiras para surpreender Atlético

Treinador fez testes no posicionamento e na movimentação do time na vitória sobre a Chapecoense, nesse sábado, já planejando o confronto da Libertadores

João Vitor Marques
Abel Ferreira durante a derrota do Palmeiras por 2 a 0 para o Atlético, pelo Brasileirão - Foto: Cesar Greco/Palmeiras Abel Ferreira tem se notabilizado por encontrar soluções pouco usuais em jogos decisivos do Palmeiras. Na semifinal da Copa Libertadores de 2020, surpreendeu o River Plate na Argentina ao escalar um time com três garotos - Danilo, Patrick de Paula e Gabriel Menino - e fazer história ao vencer por 3 a 0. Contra o São Paulo, nas quartas de final desta temporada, posicionou o ponta Dudu centralizado e o meia Raphael Veiga aberto pela direita. Deu certo: triunfo por 3 a 0 no Allianz Parque e classificação garantida. Para as partidas diante do Atlético nas duas próximas terças-feiras, às 21h30, a tendência é que o português tente 'aprontar' novamente, especialmente porque o time vive momento de instabilidade.



O treinador palmeirense aposta em duas frentes para bater o time alvinegro na semifinal da Libertadores. A primeira é a psicológica. Abel tratou de jogar a pressão para o lado do Atlético, que, de fato, vive uma temporada melhor. "É o favorito. Já os dão na final", disse. Campeã mineira, a equipe de Cuca lidera o Campeonato Brasileiro e também é semifinalista da Copa do Brasil (vai enfrentar o Fortaleza). Já o Palmeiras perdeu o Paulista, foi eliminado do mata-mata nacional e está em segundo lugar na Série A.

A segunda é a tática. "Eu sou meio maluco, um treinador jovem, que gosta de fazer coisas fora da caixa, que erra, que perde, que às vezes é um idiota. Sei o que faço, onde vim, onde estou, aquilo que quero, onde quero percorrer e meus jogadores acreditam em mim. Isto é mais importante. Quando o jogador é bom, a ideia coletiva é boa, jogadores podem atuar em qualquer posição", disse Abel, em entrevista nesse sábado, após a vitória por 2 a 0 sobre a Chapecoense, pela 21ª rodada do Brasileirão.

Abel fez vários testes no posicionamento e na movimentação do time na partida na Arena Condá, em Chapecó. Com a vitória encaminhada pelos gols marcados por Veiga e Luiz Adriano na primeira meia hora de jogo, o treinador usou a segunda etapa para rodar a equipe e projetar a estratégia que pensa em colocar em ação nos confrontos decisivos diante do Atlético. O Superesportes acompanhou a partida e detalha algumas das experiências do português, que podem se repetir na Libertadores.



Outro time


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Atlético e Palmeiras se enfrentaram recentemente no Mineirão. Em 14 de agosto, Savarino marcou duas vezes e garantiu o triunfo alvinegro por 2 a 0, em jogo da 16ª rodada do Brasileirão. A formação atleticana pouco mudará em relação àquele duelo; a palmeirense, porém, será bem diferente.

Naquela tarde, Abel Ferreira optou por preservar a maioria dos titulares para tê-los em melhores condições físicas contra o São Paulo, nas quartas de final da Libertadores. O time alviverde foi a campo com Weverton; Gabriel Menino, Felipe Melo, Gustavo Gómez e Piquerez; Danilo, Patrick de Paula e Gustavo Scarpa; Wesley, Gabriel Veron e Willian.

Nesta terça-feira, só Weverton, Gómez, Piquerez, Danilo (ou Felipe Melo) e Wesley devem iniciar o jogo no Allianz Parque. O mistério persiste, mas jornalistas que acompanham o time diariamente apontam uma provável escalação com Weverton; Marcos Rocha, Gustavo Gómez, Luan e Piquerez; Danilo (Felipe Melo) e Zé Rafael; Wesley, Raphael Veiga e Dudu; Luiz Adriano (Rony).



Mudam as peças, mas não muda tanto o posicionamento. Na construção das jogadas, Abel aposta em um time com saída de três (os dois zagueiros e um lateral ou um volante ou três zagueiros, caso essa seja a formação), dois jogadores à frente e cinco na última linha para a conclusão. A marcação é por zona, com variações na primeira defesa (com quatro ou cinco atletas).

Dois ou três zagueiros?


Atlético x Palmeiras: a cobertura da imprensa nos jogos mata-mata

Capa do jornal Estado de Minas de 4 de abril de 1996 destaca negativamente a atuação do árbitro pernambucano Wilson de Souza Mendonça: 'Juiz derrota o Atlético'. As reclamações foram, principalmente, pela anulação do gol de bicicleta de Fábio Augusto e a não marcação de um pênalti. No fim das contas, o Palmeiras saiu vencedor do Independência: 2 a 1, no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. - Arquivo/EM
'Derrotado, mas não sem bravura'. O destaque das páginas internas do EM naquele 4 de abril de 1996 foi para a boa atuação alvinegra contra o poderoso time palmeirense. A atuação do árbitro voltou a ser questionada. Há, ainda, o relato de um caso de violência: o fotógrafo André Brant, que trabalhava na partida, agrediu Wilson de Souza Mendonça e cuspiu no major Garibaldi, da Polícia Militar. Ele seria preso, mas o caso foi abafado ainda no Independência. No jogo de volta, o Palmeiras goleou por 5 a 0, em São Paulo, e avançou no torneio. - Arquivo/EM
Atlético e Palmeiras se reencontraram em mata-matas nas quartas de final da Copa Mercosul de 2000. A capa do EM de 23 de novembro dá espaço nobre para a goleada sofrida pelo time alvinegro no jogo de ida, em São Paulo: 4 a 1 e desclassificação praticamente certa. O texto fala em 'decepção'. Há, ainda, menção à negociação do atacante Guilherme com o Corinthians. - Arquivo/EM
Nas páginas internas, mais críticas ao Atlético pela goleada sofrida no Palestra Itália: 'Atuação indigna da tradição'. 'Faltou raça e coragem. Faltou brio e respeito à tradição de um grande clube', escreveu o repórter Antônio Melane, responsável pela crônica da derrota para o Estado de Minas. Há, também, menção ao momento financeiro ruim do Atlético: 'Time à venda para pagar dívidas'. Na época, o então gerente de futebol Eduardo Maluf voltou a dizer que o Atlético precisaria negociar dois jogadores para resolver dívidas de aproximadamente R$ 12 milhões. Atualmente, o débito do clube passa do R$ 1,3 bilhão. - Arquivo/EM
A capa do Estado de Minas de 29 de novembro de 2000 destacou o fim de ano melancólico do Atlético, com derrota por 2 a 0 para o Palmeiras no jogo de volta, eliminação na Mercosul e muitos protestos dos torcedores. 'Quase 20 mil pagantes compareceram ao estádio e, ao final, saíram revoltados, clamando por mudanças. Houve protestos no hall do Mineirão. O Clube Labareda e a sede de Lourdes foram protegidos por policiais', lê-se. - Arquivo/EM
'Torcida de coração ferido'. Nas páginas internas daquela edição do EM, a repórter Lilian Monteiro detalhou a atuação apática do time no Mineirão e os protestos dos torcedores. 'Urgente: torcida precisa de apoio do 'time''; 'Jogadores e diretoria, vocês envergonham a nação atleticana', lia-se em duas das manifestações. À época, o presidente do Atlético era Nélio Brant. Curiosamente, o vice era Sérgio Coelho, atual mandatário alvinegro. - Arquivo/EM
Em 2010, Atlético e Palmeiras duelaram nas quartas de final da Mercosul. O primeiro jogo, disputado com mando alvinegro em 27 de outubro, acabou empatado por 1 a 1. Na manhã seguinte, a capa do EM destacava a atuação salvadora do centroavante Obina, que saiu do banco de reservas para reforçar o time misto e garantir, com um gol de pênalti, a igualdade. 'Obina salva o Galo outra vez', lê-se. - Arquivo/EM
O Atlético jogou com vários reservas na Sul-Americana, já que o foco maior era escapar do rebaixamento no Campeonato Brasileiro. Obina, titular, salvou: 'atacante esquenta misto e garante empate com o Palmeiras em Sete Lagoas, deixando time em condição de avançar na Sul-Americana', lê-se na crônica daquela partida, publicada no EM. - Arquivo/EM
De nada adiantou o empate em Minas Gerais. No jogo de volta, o Atlético perdeu por 2 a 0, em São Paulo, e foi eliminado pelo Palmeiras. O revés foi destacado na capa do EM: 'Galo perde e dá adeus à Sul-Americana'. - Arquivo/EM
O torneio não era a prioridade do time. Então, apesar de a eliminação ter sido doída, não estremeceu o planejamento alvinegro para a temporada. 'Com um time praticamente de reservas, Galo até que luta muito, mas não segura o Palmeiras. Perde por 2 a 0 e se despede da Sul-Americana', lê-se nas páginas internas do EM. - Arquivo/EM
A capa do EM de 28 de agosto de 2014 dá destaque à vitória do Atlético por 1 a 0 sobre o Palmeiras, em São Paulo, no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. Logo acima, há menção também à goleada do Cruzeiro por 5 a 0 sobre o Santa Rita (AL), pela mesma fase da competição. Os rivais se enfrentariam na final do torneio, com o Galo levando a melhor. - Arquivo/EM
'Luan garante a festa atleticana'. O título da crônica do jogo contra o Palmeiras é significativo e se aplicaria a várias outras partidas daquela campanha. O 'Menino Maluquinho' foi decisivo e fez gol em todas as fases da Copa do Brasil, conquistada pelo Atlético. - Arquivo/EM
O jogo de volta das oitavas de final também terminou com triunfo atleticano: 2 a 0 no Independência e classificação garantida. Nas páginas internas do EM, a projeção para a fase seguinte: 'Duelo com outro paulista: Atlético despacha o Palmeiras, se classifica para quartas de final da Copa do Brasile e agora enfrenta o Corinthians'. - Arquivo/EM
Ao longo da passagem pelo Palmeiras, Abel Ferreira alternou entre formações com dois e três zagueiros. Luan e Gustavo Gómez são titulares indiscutíveis, na avaliação do treinador palmeirense. Contra a Chapecoense, foi feita uma modificação: o paraguaio, que costuma atuar na esquerda, foi deslocado para a direita; com isso, o brasileiro jogou do outro lado.

Na prática, Gómez é o zagueiro mais firme, rápido e preciso do time. Já Luan tem como ponto forte a boa saída de bola e o lançamento. Foi a primeira vez que Abel testou a inversão - e fez isso já pensando no Atlético.



Há, porém, a possibilidade de o comandante escalar o jovem Renan, de 19 anos, como terceiro zagueiro. O teste foi feito no segundo tempo do jogo contra a Chape. A linha defensiva ficou com Gómez na direita, Luan centralizado como líbero e o garoto, canhoto, posicionado à esquerda. O sistema com três beques liberou os alas Gabriel Menino (entrou na vaga de Marcos Rocha na etapa final) e Piquerez, que têm como principal característica o apoio ofensivo.

É uma possível mudança para o jogo (ou para o decorrer da partida) com o Atlético, apesar de o Palmeiras ter piorado com as modificações no segundo tempo contra a Chape. "Não jogamos bem o segundo tempo e a culpa é minha. Sou engenhocas, arrisco muito. A equipe jogou mal com bola, porque queria ver a dinâmica de um jogador só e na minha opinião não tivemos a mesma fluidez. Mexi em posições e o culpado fui eu de não ter um jogo tão fluído", disse Abel.

"Queria ver uma situação, sob pena até de a Chapecoense entrar no jogo e ganhar como foi contra o Bragantino. A vida é feita de riscos e foi o que fiz. Na segunda parte pensei um pouco à frente, às vezes cometo erros. A equipe baixou a dinâmica ofensiva, mas foi por culpa minha. Ainda assim tivemos duas oportunidades para fazer o terceiro e matar o jogo", completou.



Meio-campo


Destaque palmeirense na temporada, o volante Danilo sentiu incômodo no tornozelo esquerdo e não jogou contra a Chapecoense. Voltou aos treinos com bola no fim de semana e deve ser titular. Se não estiver à disposição, será substituído pelo experiente Felipe Melo, de 38 anos, que, como já frisou o próprio Abel Ferreira, não tem a mesma dinâmica de outrora.

À frente do primeiro homem, devem completar o meio alviverde Zé Rafael e Raphael Veiga. Existe, porém, a possibilidade de Abel deslogar Veiga para a ponta direita e posicionar Dudu como 'camisa 10', centralizado. Foi o que fez nas quartas de final contra o São Paulo - e deu certo.

No segundo tempo contra a Chapecoense, Abel testou outro posicionamento dos meias palmeirenses. Com três zagueiros, o Palmeiras jogou com seis jogadores no meio. Eram dois alas (Menino e Piquerez), dois volantes (Felipe Melo e Matheus Fernandes) e dois meio-campistas centralizados (Dudu e Veiga) atrás do centroavante Luiz Adriano. É uma possibilidade para o decorrer das partidas da Libertadores.



Maior assistente do Palmeiras na temporada, Gustavo Scarpa deve ser reserva mais uma vez. Patrick de Paula é outro que tende a iniciar no banco, mas com boas chances de entrar no decorrer dos jogos contra o Atlético.

Ataque com Luiz Adriano ou Rony?


Luiz Adriano comemora gol do Palmeiras contra a Chapecoense - Foto: Cesar Greco/Palmeiras Pelo desempenho em partidas recentes, é possível cravar a titularidade de Wesley e Dudu no ataque alviverde. O terceiro homem é uma incógnita, com Rony e Luiz Adriano como os principais candidatos à vaga. O primeiro é aposta de velocidade, como 'falso 9'; já o segundo, centroavante de origem, é o nome para um jogo posicional, de mais presença na área - embora também tenha boa movimentação.

Luiz Adriano viveu uma seca de mais de três meses no Palmeiras, mas marcou no fim de semana e pode ganhar nova oportunidade nesta terça-feira. Com ele, Dudu na esquerda e Wesley na direita, o time dominou a Chapecoense no primeiro tempo. Foram dez finalizações (cinco no gol), 54% de posse de bola, 228 passes trocados... Os 2 a 0 poderiam ter sido muito mais.



Na segunda etapa, com as alterações de Abel, o time caiu muito. Tanto é que o jogo terminou com maior posse (53%), mais finalizações (15 a 13) e mais passes trocados (461 a 416) da Chapecoense. Portanto, especialmente na partida em casa, a tendência é que o comandante português repita o que deu certo no fim de semana com o trio Dudu, Wesley e Luiz Adriano.

Independentemente de quem jogar, o Palmeiras tem variações táticas de um time que tem o mesmo treinador há quase 11 meses. E, pelo que se conhece de Abel Ferreira, deve tentar surpreender Cuca - técnico que derrotou na final da Libertadores contra o Santos em 30 de janeiro. Cabe ao Atlético impedi-lo.