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Em nome da mãe: por que Edigar Junio, do Bahia, não tem a letra R?

Atacante nascido no Gama tem 12 gols nesta edição do Campeonato Brasileiro

postado em 20/11/2017 11:00 / atualizado em 20/11/2017 11:29

Felipe Oliveira/EC Bahia
A arrancada do Bahia neste Campeonato Brasileiro tem nome e sobrenome inusitados e é made in Brasília. Edigar Junio, de 26 anos, marcou 12 gols nesta edição da Série A, 10 deles nos últimos nove jogos, e ajudou o tricolor a entrar no páreo por uma vaga na Copa Libertadores de 2018. “Recebi aqui a valorização que sempre quis, a confiança de clube, funcionários, companheiros. Isso fez com que eu crescesse bastante”, comemora.

A história do nome do atacante é curiosa. O pai, que deu o próprio nome ao filho, foi impedido por funcionários do cartório de registrá-lo como Edigar Júnior. Segundo eles, o uso só seria permitido caso a criança carregasse o nome inteiro do pai — seria Edigar Francisco Lima Júnior. Mas, dessa forma, o garoto não teria o sobrenome de Eliete, a mãe.

Para driblar o problema, seu Edigar Francisco, 56 anos, registrou o filho como Edigar Junio Teixeira Lima, sem o R e com o sobrenome da mãe. “Meu pai resolveu mudar e colocar o Junio depois do Edigar. Todo mundo repara na diferença, mas não incomoda”, assegura. A família da estrela do Bahia ainda mora no Gama. “Eu passo lá todas as folgas e férias que tenho. Só eu e minha esposa vivemos em Salvador.”

O atleta de 26 anos nasceu no Gama, mas nunca atuou no futebol do DF. Passou por categorias de base do Fluminense e do PSTC-PR antes de estrear profissionalmente pelo Atlético-PR.

O primeiro jogo foi marcante: derrota por 3 x 1 para o Fluminense, no Nilton Santos, em 30 de junho de 2011, pela sétima rodada do Brasileirão. Ele substituiu Paulo Baier, ídolo do Furacão. Aos 41 minutos do segundo tempo, marcou seu primeiro gol, num cabeceio contra as redes de Diego Cavalieri. Foi apenas a segunda vez que a equipe balançou a rede naquele Nacional. O clube acabou rebaixado para a segunda divisão.

“O técnico era Leandro Niehues, interino. Ele tinha acabado de assumir o time, me conhecia e me subiu para o profissional. Entrei com 15 minutos do segundo tempo e ainda marquei. Coisa boa”, relembra. “Comecei a me firmar no profissional ali. Mas depois fui perdendo espaço.” No restante do torneio, fez apenas dois gols em 11 partidas.
 

Jejum na segundona

Em 2012, o brasiliense amargou jejum nas seis vezes que entrou em campo na Série B do Brasileiro. No ano seguinte, disputou a segundona nacional pelo Joinville, mas o time ficou apenas em sexto lugar. Mesmo assim, o clube catarinense renovou o contrato de empréstimo dele para a temporada 2014. Com grande contribuição do atacante — artilheiro da equipe, com 12 gols, ao lado de Jael —, o Joinville sagrou-se campeão da Série B.

O Atlético-PR se animou e reintegrou o atleta ao seu elenco para o Brasileirão de 2015. Edigar, porém, não conseguiu repetir o bom desempenho: foram dois gols em 25 jogos. “Não fui valorizado como eu acho que deveria. Tive de sair de novo. Vim para o Bahia, estou me sentindo muito bem aqui.”

No tricolor, marcou cinco vezes em 19 duelos pela Série B de 2016. Em 2017, no entanto, ele virou protagonista no elenco. A temporada não começou bem. Em janeiro, uma lesão no pé direito num jogo contra o Wolfsburg, pela Flórida Cup, o deixou no departamento médico até o fim de março.

Edigar voltou a tempo de participar das últimas fases da Copa do Nordeste. Foi no segundo jogo da final da “Lampions League”, como é conhecida a competição, que caiu de vez na graça da torcida. Ele fez o gol da vitória por 1 x 0 sobre o Sport. O atacante marcou cortando o zagueiro Durval e encobrindo o goleiro Magrão na Fonte Nova lotada — o golaço acabou sendo comparado a um de Romário num clássico entre Barcelona e Real Madrid em 1994. O resultado assegurou o terceiro título do tricolor no torneio.

“Muitos duvidaram quando eu vim para cá, até pelo ano que eu tinha feito em 2015. A torcida ficou um pouco com o pé atrás, mas o melhor mesmo foi o gol na Copa do Nordeste. Só depois comecei a enxergar a dimensão dele. Foi uma coisa que explodiu aqui na Bahia. Eu saía à rua, e a torcida me parava muito”, conta.

Escolinhas na capital

Edigar Junio, também conhecido como Edigol, rodou por várias escolinhas em Brasília, entre elas a de ex-jogador Romualdo, ídolo do Gama, e a do Guaraense, do técnico Carlos Morales — que também lapidou atletas como o atacante Henrique Almeida e o zagueiro Lucão. Edigar ainda passou pelas escolinhas do São Paulo e do Internacional em Brasília. Em 2004, fez dois testes no tricolor paulista, mas não foi aproveitado.

No segundo semestre daquele ano, foi avaliado no Barueri. Teve poucas oportunidades e acabou dispensado. “Meu pai até se chateou, porque tivemos dificuldade para pagar as passagens. Aí, cheguei lá e nem me deixaram treinar direito. Depois, saí da escolinha do São Paulo e fui para a do Internacional”, conta.

Enquanto treinava na escolinha do clube gaúcho, surgiu a oportunidade de fazer testes em equipes espanholas. Foi aprovado em dois clubes, o Centre d’Esportes L’Hospitalet e o Europa, mas não pôde ficar por não ter passaporte comunitário. De volta ao Brasil, acabou aprovado no Fluminense. “Fiquei lá por oito meses, mas o comando da categoria de base mudou, e eles fizeram uma limpa. Fui dispensado.”

Já era 2007, e Edigar Junio voltou a Brasília para treinar na escolinha do Caeso. Logo depois, passou a jogar na escolinha do Morales. Em um dos torneios disputados pelo time, se destacou e foi chamado por olheiros do PSTC-PR. “Nós fomos campeões paranaenses em cima do Coritiba; fiz dois gols na final. Aí, o Atlético me puxou, cheguei à categoria de juniores. Comecei lá, em 2008”, recorda.
*Estagiário sob a supervisão de Cida Barbosa