Superesportes

TRAGÉDIA

Mineiro Demerson volta ao vestiário da Chape e conta como está vivendo: "É uma grande dor"

Jogador mineiro volta ao vestiário da Chapecoense, agora um contraste ao ambiente de efervescência que dividiu com os companheiros de time antes da tragédia

Rodrigo Fonseca
Desastre aéreo com a delegação do clube poupou o zagueiro, nascido em Belo Horizonte - Foto: Rodrigo Fonseca/EM/D.A Press


Rodrigo Fonseca
Enviado especial a Chapecó

Sentado no vestiário da Chapecoense, o mineiro Demerson não tem mais as companhias de Gil e Ananias, vizinhos de armárioEstá sozinhoNão há mais timeO desastre aéreo com a delegação do clube poupou o zagueiro, nascido em Belo Horizonte e cuja família mora em Contagem, na Região Metropolitana da capitalDemerson não foi relacionado para a viagemAgora, volta ao local onde fez amigos, onde construiu uma história.

O rosto marcado pelas noites sem sono desde a notícia trágica e os olhos marejados só veem no vestiário cadeiras vazias e um oratório, onde faziam as preces antes dos jogos, e agora ponto de prece pelos amigos que se foram e pelas famílias que ficaram.

Voltar ao local onde o grupo se uniu – os nomes dos colegas estão gravados nos equipamentos – não foi fácilMas as barreiras da tragédia precisam ser superadasNesse mesmo vestiário, a Chapecoense fez uma grande festa pela classificação à final da Copa Sul-Americana, um duelo que ficou para a história sem ter acontecido“Eu vejo vazioFoi um lugar onde que a gente comemorou tanto, se aproximou uns dos outrosÉ uma grande dor.”

A ansiedade pela decisão da Sul-Americana era grande
Mesmo Demerson, cortado da viagem, já que vinha se recuperando de contusão, jamais deixou de apoiar o timeNo começo da madrugada de segunda-feira, enviou mensagem ao atacante Bruno RangelNão houve resposta.

“Antes de receber a notícia, havia mandado mensagem para o Bruno, perguntando como ele estava, como tinha sido a viagem, mas não obtive respostaPosteriormente, fui dormir porque tinha treino na manhã seguinteDe repente, às três da manhã, o telefone começou a tocar e veio o susto, a notícia que ninguém esperava, que o avião com meus companheiros e amigos havia caídoAs lágrimas vieram, faltou chão.”

Demerson perdeu amigosMães e pais perderam os filhosEsposas ficaram sem maridosFilhos não verão mais os pais“Foram pais de família excepcionais, seres humanos exemplares
Nos resta orar, dar apoio aos familiares para que eles possam tentar, se é que é possível, diminuir a dor”, diz“Neste momento, temos que refletir sobre nossa vida, sobre o que fazemos, valorizar cada momento com nossos filhosOntem quando eu fui deitar, tive a oportunidade de abraçar e beijar meu filhoOs meus amigos que morreram não terão mais essa oportunidadeO que nos resta é orar e dar força aos familiares.”

FUTURO


Ainda abalado, ele revela o orgulho de ter trabalhado com os colegas“Foi um prazer e, realmente, me sinto lisonjeado de ter feito parte desse grupo”, diz o zagueiro de 30 anos, cujo contrato com a Chapecoense termina no dia 15O marido da Morgana e pai da Thalya, Lorena e Gael ainda não pensa no futuro“Não quero planejar nada agoraQuero primeiro me despedir dos meus companheiros.”