2

Corinthians: Vítor Pereira fala sobre mudanças e desejos a longo prazo

Treinador português foi apresentado pelo Timão nesta sexta-feira

04/03/2022 13:26
compartilhe
Vítor Pereira concedeu a primeira entrevista coletiva pelo Corinthians
foto: Rodrigo Coca / Ag. Corinthians

Vítor Pereira concedeu a primeira entrevista coletiva pelo Corinthians


Uma semana após o início de seus trabalhos no Corinthians, o técnico Vítor Pereira finalmente foi apresentado na manhã desta sexta-feira no CT Dr. Joaquim Grava, um dia antes de sua estreia, no clássico contra o São Paulo, no Morumbi. O português, aliás, já falou sobre o Majestoso, trazendo outras partidas como essas nos países onde atuou.



"Eu confesso que sou um treinador de grandes jogos, eles me estimulam. Nós ganhamos, como equipe, dois campeonatos a ponto de sermos campeões em duas temporadas com uma derrota só, jogando contra Sporting, Benfica, não é fácil. Na Grécia, tenho algumas experiências... Sou um treinador emocional, vivo as coisas com emoção. Na Turquia, igual. Podia contar algumas histórias, escrever um livro com as experiências. A única diferença que nunca joguei um clássico com três dias de treinos. Chegar e ir diretamente para o clássico, mas é uma experiência nova. Vamos para o clássico com o objetivo de ganhar, nem para empatar e nem perder, vamos para ganhar", falou em sua primeira coletiva.

Ele também deu indícios de que pode manter a mesma escalação utilizada nos últimos compromissos, quando a equipe era comandada pelo interino Fernando Lázaro.

"Aproveito para agradecer ao Fernando (Lázaro) e mesmo ao Sylvinho pelo trabalho que fizeram. O Fernando, nessa transição, conseguiu resultados... Vamos ver se consigo manter o mesmo nível. Eu vou poder contar com ele ao meu lado, vamos evoluir juntos. Nós podemos mudar ou melhorar comportamentos sem mexer em nada. O sistema pode ser o mesmo e a dinâmica ser completamente diferente. Não posso chegar e mudar muita coisa, temos que ir devagar, pondo os pés na terra, ver o que ela pode nos dar. Ir plantando para as coisas começarem a crescer. Precisamos de tempo, não vou fazer grandes mudanças, sinceramente, mas começamos a estimular alguns comportamentos", falou.

Um dos pontos mais importantes foi, como não poderia deixar de ser, o que deseja fazer no Corinthians. Ele foi direto ao ponto.



"O que eu gostaria de deixar é títulos, gostaria, porque, para além da qualidade de jogo, é importante ganhar. Gosto de ganhar com qualidade de jogo, mas ganhar é fundamental. Com um clube dessa dimensão, com essa torcida enorme, é importante lutar, competir por títulos. Não posso prometer títulos, mas prometer muito trabalho em busca disso".

Veja outros trechos da coletiva de apresentação de Vítor Pereira no Corinthians:

Organizar o time

"Essa é a minha praia, falar de futebol e do jogo. Para mim, ser treinador é evidentemente tenho minhas ideias. Ao longo da minha carreira, fui projetando uma metodologia de treino e um modelo de jogo, mas ser treinador é mais que isso, é chegar, avaliar o que temos e, depois, procurar colocar os jogadores confortáveis no seu jogo. Eu venho para organizar, o meu estafe e mais o que já estava, o que pretendemos é criar um jogo em colocar os jogadores de forma confortável, de acordo com as características deles. É como que organizar as qualidades que temos ao meu dispor. É isso que vamos fazer, tentar encontrar um equilíbrio entre a qualidade técnica do plantel e a capacidade física também".

Treinos e qualidades dos jogadores

"Ontem (quinta) já me diverti no treino. Nós, treinadores, vamos modulando o nosso jogo, ou seja, nós temos ideia que começamos a trabalhar no treino, a estimular, mas as qualidades dos jogadores acrescentam, vamos modulando. Os jogadores de qualidade acrescentam às nossas ideias. Em outros países não foi assim, a qualidade era mais baixa, o resultado era diferente, também íamos modulando. Quem vai dizer se o Corinthians vai jogar um jogo de grande qualidade são os jogadores. Vamos ver as respostas deles. Ontem já me diverti um bocado por causa da qualidade".

Conhecia os jogadores?

"Eu conheço muito bem alguns jogadores, enfrentei na China, já vi jogar. Jogadores de qualidade, mas já tive muitas experiências engraçadas no futebol. Muitos deles conheço de ver jogar pela televisão. Mas já tive muitas experiências engraçadas no futebol, onde temos uma visão de um atleta, e quando começamos a trabalhar com ele, o jogador manifesta coisas que nunca vimos ele fazer. Essa fase é de avaliação para mim, apesar de conhecer as características de muitos deles. O jogo é sempre feito de intenções. O treinador tem que chegar com determinados tipos de intenções, depois de fazer uma avaliação do elenco. Muitas vezes o jogador surpreende negativamente ou positivamente, então estou nessa fase de avaliação".

Tempo de contrato

"Contrato, vou explicar. Quando saí do Porto, fui para a Arábia Saudita. Eu tenho tomado algumas decisões na minha vida que são muito intuitivas, emocionais, para me convencer é preciso apelar ao meu sentimento do momento. Fui para lá com dois anos de contrato e, ao final do primeiro, quis ir embora e tive que pagar multa. Nunca mais voltei a fazer contratos de (longa) duração. Chega ao final da temporada, quero saber se estou feliz, o clube também, se estamos satisfeitos. Se houver essa sintonia, não há problema e renovamos".

Adaptação

"É mais fácil me adaptar ao Brasil do que na China, porque culturalmente temos coisas em comum, a língua também é fácil de nos entendermos. Aqui a grande adaptação, a grande dificuldade será o clima, que, em termos de intensidade de jogo, eu gosto de jogo intenso, de qualidade. Pode afetar um pouco essa intensidade. Mas eles estão mais habituados a isso, vamos treinar com calor. A grande dificuldade serão as grandes viagens, a densidade competitiva, são muitos jogos; ter que reformular minha metodologia de treino, muitas vezes vou ter que trabalhar sem carga, porque os jogadores estarão se recuperando. Os desafios me estimulam, não sou de ter medo, eu gosto. Quando me sinto desafiado, eu vou".

Convite do Corinthians

"Eu já fui convidado para vir ao Brasil várias vezes. Sou um treinador fundamentalmente do pormenor tático, da estratégia. O que me motiva é o lado tático-técnico, estratégico do jogo. Motivam as qualidades dos jogadores. Tenho certeza que temos isso aqui. O que me estimula é também a dimensão do clube, a paixão dos torcedores. Meu lado emocional, a persistência do presidente e da direção, me fizeram crer que tinha que ser eu. Comecei a perceber que os torcedores me queriam e me liguei. Me senti, mesmo antes de vir, que estava a fazer uma ligação. Minha decisão foi por aí. Antes não decidi vir porque tive sempre a Champions League e essa ideia da Champions na Europa. A Libertadores é uma competição muito grande também, a nível mundial, vamos ver como eu consigo superar o desafio. Vamos tornar a equipe mais forte, mais agressiva, mais competitiva, com essas qualidades de ter bola, de estar compacta e perceber bem os momentos do jogo. Vamos ver a resposta desse Corinthians".

Jogadores jovens

"Fiz minha formação como treinador nas equipes da base do Porto, portanto, tive cinco anos em várias funções. Eu acho que treinar é também ensinar os jovens de 20 anos, como também aos 35, continuamos a aprender. Há sempre coisas importantes que se vão transmitindo, e o jovem, gosto muito de trabalhar, porque não se precisa desmontar, é mais fácil montar, enquanto um jogador experiente já tem coisas adquiridas que às vezes não estão de acordo com o que queremos, é um processo mais difícil".

Busca por centroavante

"Quero um centroavante que faça muitos gols, estamos trabalhando, buscando. Certeza que, em breve, haverá novidades relativas ao centroavante ou atacante".

Reforços

"A densidade competitiva é grande, de fato. Gosto muito de trazer jogadores da base todas as semanas, porque tenho essa preocupação nos clubes onde passei. Nesse momento estou avaliando. Depois de avaliar os jogadores que temos, estarei mais apto a perceber as necessidades. Preciso um pouco mais de tempo".

Jorge Jesus

"Eu já joguei contra o Jorge Jesus muitas vezes, é de fato um treinador que imprime um ritmo forte de jogo. É um pouco nessa linha, da nossa escola de treinadores portugueses, mas é uma intensidade qualitativa. Não é só ganhar bola, perder bola, ganhar bola, perder bola. Se perdemos, não temos qualidade para ficar com ela. Quem tem que marcar o ritmo, nas minhas equipes, somos nós. Eu trabalho para dominar o jogo com bola. É um padrão das minhas equipes. Ter a posse de bola, ser agressivos quando perdemos a bola. Evitar ao máximo correr para trás. Não é padrão das minhas equipes defender dentro da área. Não gosto de marcações individuais, de corridas desnecessárias".

Estilo de jogo

"Quero uma transição ofensiva agressiva, rápida, mas uma equipe inteligente que perceba quando não dá para fazer o contra-ataque, é o momento de dominar o jogo com a bola. Essa é a intenção do nosso treino, desde o primeiro até ontem. A equipe vai chegar em um momento com essa identidade. Intenção de ter a bola, dominar, marcar o ritmo do jogo, saber quando acelerar e quando desacelerar, uma equipe que gosta de ter a bola para construir com inteligência. No momento em que perdermos a bola, temos que ter essa vontade imediata de retomar, atacar o portador da bola, e vamos ver isso no Corinthians daqui algum tempo. Depois, intenção de um contra-ataque rápido, intencional, em determinadas zonas, quando for possível. Quando não for possível, desacelerar e voltar a dominar com a posse. São comportamentos que estimulamos".

Luan

"O Luan está em recuperação ou precisava recuperar. Dependemos de nós próprios para nos recuperar. A força do caráter de uma pessoa é muito mais o que vem de dentro do que de fora. O Luan precisa se encontrar com ele próprio, acreditar nele próprio. Conheço ele há muito tempo, sei das qualidades. Mas tem que ser ele, não é o treinador que vai transmitir essa força. Ele tem muita qualidade, é questão de se encontrar, perceber que estou aqui para ajudá-lo e a todos da mesma forma".

Perfil competitivo

"Tenho muito trabalho a fazer, muito o que estudar, muitos jogos para ver, muitos jogadores para analisar, então não é por falta de educação que me isolo. Sou uma pessoa obcecada por futebol, com uma paixão enorme, e essa paixão que, muitas vezes, me transforma em um animal competitivo. Eu quero ganhar sempre, não deixo nem meus filhos ganharem, não facilito para eles ganharem. Me habituei, desde criança, a competir por tudo - e sou emocional. Quando se junta na mesma pessoa, em um ambiente de paixão como o futebol, a paixão e a competitividade, isso ultrapassa um pouquinho, há momentos de desequilíbrio".

"Sou um animal lá dentro de campo. Mas depois, quando acaba o trabalho, sou o Vítor, sou tranquilo, tenho valores morais. Reajo mal a quem me desrespeita em termos de valores. Aí sim reajo mal, porque fui educado com valores em uma família humilde, de respeito, de honestidade, de verdade. Tudo que é mentira, falta de caráter, me choca e me torna reativo. Vocês já viram alguns momentos, e foi porque as pessoas não me respeitaram, aí viro o bicho. Mas também já tenho mais experiência, consigo perceber que a intenção é provocar, aí lido melhor".

Tempo para implementar o trabalho

"Depende de dois fatores essenciais, experiência do treinador. Um mais experiente consegue direcionar os treinos e consegue mudanças mais rapidamente. Hoje, eu não preciso experimentar coisas do passado, já sei para onde quero direcionar para chegar ao jogo que quero. Também depende da resposta dos jogadores. Não só a qualidade técnica, mas também a cultura tática, ou seja, a capacidade de entender o jogo. Se tiver muita gente com essa capacidade, o processo é mais rápido".

Torcida

"O que me disseram ao longo da negociação, conversei com Duilio, Roberto, Alessandro, é sobre o caráter da torcida. Caráter de gente que vive o futebol como se fosse sua própria vida, que vive o clube como se mais nada existisse, fazendo o clube como sua família. É uma torcida que apoia e cobra. Cobram quando não damos tudo em campo, e o nosso compromisso é dar tudo dentro de campo. Os jogadores, nós da comissão. O que eu vi confirmou o que me disseram. Eles estão ali para apoiar. No fim, se cobrarem, é porque não gostaram. Se não gostaram, é porque não demos tudo. Aí eles têm o direito de cobrar".

Paulinho

"Eu já tinha uma admiração muito grande por ele na China. Ele tem o caráter, é aquele tipo de jogador que não consegue jogar mal, é daqueles que aparece nos grandes jogos. O Renato também era muito isso na China. Nós tínhamos grandes estrangeiros e brasileiros. (...) Aquilo que eu avalio na equipe é que temos jogadores que, neste tipo de jogo, não tremem, querem a bola para assumir a responsabilidade. Agora é uma questão de equilibrar a dimensão tática com a física, encontrar um jogo que não os desgaste tanto. Com tantos jogos, precisamos de gente capaz de entrar e responder de igual forma".

Jogo contra o RB Bragantino

"Foi bom ter visto o jogo ao vivo, e um jogo já desta dimensão, contra o Bragantino, uma equipe boa e organizada. Avaliamos o jogo. Nossa dinâmica de trabalho é sempre essa. Fazemos um vídeo compacto sobre o jogo anterior, aquilo que fizemos bem, o que não fizemos, o que precisamos melhor, e é com base neste vídeo que vou trabalhar os treinos na semana (...). Tivemos o vídeo contra o Bragantino, e depois começamos a trabalhar o São Paulo".

Como prefere ser chamado?

"Podem me chamar do que quiser, desde que com respeito. Vitão se eu ganhar. Se perder, Vitinho", disse aos risos.

Compartilhe