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COLUNA DO JAECI

Hora de mudarmos o nosso futebol

postado em 09/12/2018 10:00

Alberto Escalda/EM/D.A Press - 17/07/1994
 Domingo sem futebol é como criança sem brinquedo. Nós, que vivemos do esporte bretão e amamos aquilo que fazemos, sentimos falta, mesmo que a bola tenha parado no Brasileirão há uma semana. Porém, é o momento de refletirmos e buscar soluções para que o nosso futebol melhore, seja mais competitivo, com mais qualidade, com jogos mais bonitos. Recebi uma mensagem de um palmeirense, dizendo que para ele o que importava era a taça, mesmo que seu time jogue feio, que seus jogadores não tenham qualidade, e que Dudu não seja craque. Respeito a opinião, mas, com certeza, é um jovem, de menos de 20 anos, que não sabe o que é futebol de verdade. Se ele tivesse vivido a minha época ou a de quem tem pelo menos uns 40 anos saberia do que estou falando. Para não ir muito longe, vou citar Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Romário, Rivaldo, Roberto Carlos, entre outros. Entenderam do que estou falando? Estou falando do drible, do lançamento, da arte, do gol, coisas que nos dias de hoje não vemos mais. Quando Éverton Ribeiro e Dudu, que são apenas bons jogadores, são eleitos craques do Brasileiro, é porque há algo muito errado.

Nem sempre os melhores ganham. Foi o caso da maravilhosa Seleção de 1982, do saudoso mestre Telê Santana, que tinha Cerezo, Falcão, Zico, Sócrates, Éder, mas perdeu para a Itália, que tinha um timaço, com Gentile, Cabrini, Paolo Rossi, Conti e outras feras. Mesmo perdendo, prefiro essa Seleção à de 1994, campeã do mundo. E faço aqui uma pergunta: quem se lembra da escalação do time tetracampeão sem titubear? Tenho certeza de que todos da minha geração pensam como eu. Dar espetáculo é sempre bom. O futebol só tem razão de ser se for assim. O problema da juventude é que ela foi mal-acostumada com jogos e times ruins, pragmáticos e previsíveis. Também de uma geração que gosta de Anitta, Pablo Vittar, Jojô Todynho e outras aberrações não poderíamos esperar muita coisa. Eles gostam do lixo e da lama.

Por isso mesmo, sou a favor de os clubes investirem nas divisões de base, buscar os talentos, lapidá-los e entregá-los ao time profissional para nos deliciarmos com grandes jogadas e gols. Ainda dá tempo de salvar o futebol brasileiro, mas os dirigentes precisam entender isso. Saber que no passado os grandes esquadrões eram formados por gente criada no clube. Que o digam Cerezo, Reinaldo, Éder, Paulo Isidoro, Palhinha, Joãozinho, Zico, Andrade, Adílio, Júnior, e por aí afora. Tirem as divisões de base das mãos de empresários inescrupulosos, de gente que nunca deu um chute na bola, que não entende nada de futebol. É preciso pagar bem a quem trabalha na base, para que possa lapidar os garotos, descobrir os talentos. Gente descompromissada com o dinheiro, preocupada de verdade com os garotos. Se continuarmos com a política de repatriar ex-jogadores em atividade, nosso futebol vai mesmo acabar.

Tenho lutado para que os clubes sejam empresas, tenham donos, como na Europa. Vi uma notícia de que um grupo empresarial quer comprar o Botafogo, do Rio de Janeiro. Acho uma ótima, pois o clube está mal gerido, mal administrado, sem dinheiro para nada. A expectativa de títulos não existe, e a cada ano a briga para não cair é real. Assim como Fluminense, Vasco e vários outros times do país. Sendo empresas, os clubes terão orçamento, um dono preocupado com lucros e prejuízos e times decentes, em condições de levantar taça. O modelo atual está vencido, sem perspectiva, sem um norte. Não adianta termos dirigentes amadores, que nada recebem dos clubes e dedicam seu tempo a eles. Isso não é profissionalismo e, em alguns casos, há dirigentes corruptos, que levam grana por baixo do pano. Com o clube-empresa haverá um dono e um CEO remunerado, que cuidará do time. Aí, sim, a coisa fica profissional e de qualidade. O modelo atual é retrógrado e ultrapassado. Imaginem Flamengo, Atlético, Cruzeiro, Corinthians, Inter, Grêmio virando empresas e tornando-se gigantes, como os europeus! Com certeza, ninguém seguraria o nosso futebol e voltaríamos aos bons e velhos tempos. Tempos em que as rádios tocavam músicas de qualidade, que aveludavam nossos ouvidos, não essas porcarias que tocam hoje.

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